Em momentos em que simplesmente o tempo parece andar para trás, ou até acelerar, ou melhor, aqueles momentos em que estamos apenas acompanhados por nós próprios e pela nossa consciência, em que o tempo se torna apenas irrelevante... É nesses momentos que nos encontramos realmente com aquilo que somos.
O tempo pára, ou avança, ou simplesmente não existe e eu estou ali, deitada, estática, seguida pelo silvar suave do ar a sair e a entrar nos meus pulmões.
Para quem passe pode parecer que estou tomada pelo silêncio, mas estou antes perseguida pelo som das minhas palavras no meu consciente singular e privado, abstraída do mundo, num mundo só meu, com os olhos semicerrados para a realidade.
É neste ambiente que recordo, que altero memórias, penso no que devia ter feito e no que fiz, e depois de muito jogar com tudo aquilo que me torna o que sou acabo por regressar ao início por concluir que por mais que tente as memórias continuam as mesmas assim como eu continuo o reflexo delas.
As palavras que proferi continuam a ser diferentes das que pensei, os meus gestos menos harmoniosos do que os que vejo.
E que mal vejo em tudo isso?
Nenhum.
Portanto, nesse momento semicerro novamente os olhos deixando-me absorver pelo resquício de luz que ainda me cega ligeiramente, ou pela escuridão aconchegante que me embala e encaminha para um mundo aparte.
Aí planeio tudo o que poderia acontecer, sem ponderar as coisas que poderiam correr mal, fugindo à realidade de que tudo o que puder correr mal acontecerá mesmo.
E aí encontro-me. Sou capaz de me enfrentar a mim própria, de ver um reflexo mais verdadeiro que o de um espelho. Conversando comigo mesma arranjo maneira de fazer com que o relógio retome o seu ritmo, que volte a andar, que acelere, que continue apenas, à medida que abro os olhos, me ergo e vivo. Outra vez...