quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Balanço de '09

À semelhança de toda a gente decidi resumir os 365 dias deste ano em breves frases que não chegam para exprimir os 525600 minutos de emoções fortes, situações fatídicas em que apenas me apeteceu desistir de tudo, minutos com pessoas, minutos de silêncio e reflexão, desilusões, paixões, VIDA acima de tudo.
Não me lembro muito bem dos primeiros meses, estão ligeirametne eclipsados por todos os acontecimentos que me magoaram e que se sobrepuseram a tudo o que de mau tinha acontecido antes.

Comecei o ano em Rio Bom, nessa altura esta aldeiazinha no meio de nada ainda não me tinha arrebatado na plenitude, com os meus avós, pais e irmã.

Escrevi um conto para um concurso do Modelo e da Texto Editores.

Passei as minhas manhãs de quinta-feira com a Catarina ao pé do Moinho, no Cantinho dos Suicídios e matermo-nos no rio até aos joelhos, até perdermos a circulação, vimos a Cerejeira em Flor, e apaixonámo-nos por aquele sítio.

Voltei às aulas ansiosa por ver toda a gente novamente, especialmente o Rui, o meu melhor amigo.

Tínhamos uma relação fantástica, sentávamo-nos sempre juntos, eu dava-lhe explicações na biblioteca até que os nossos pais nos ligavam para nos obrigarem a ir embora, brincávamos imenso, abraçávamo-nos, tínhamos a maior confiança de sempre, os professores achavam que éramos namorados.

Apaixonei-me pelo meu m.a.

A Sofia, uma das minhas m.a., disse para lhe dizer.

Eu disse-lhe e ele disse que não lhe era indiferente mas que gostava de outra pessoa. Afastámo-nos mas não desisti.

Numa noite, na minha varanda, enquanto olhávamos as estrelas, a Catarina, a minha m.a. desde que me lembro quase, relembrou-me que para o ano ia embora para o Porto, chorámos abraçadas, chorámos quando ela desceu as escadas e eu fiquei a olhar, a imaginar esse mesmo momento uns meses mais tarde.

Apanhei-me uma grande bebedeira e andei a dizer a toda a gente que gostava dele. Envergonhei-me disto e ele também, agora é-me indiferente.

Tentei mais uma vez e ele disse que gostava de mim.

Um dia foi buscar-me a casa de bicicleta, fomos para a escola juntos, falámos, obriguei-o a andar descalço na relva, descobri que a Catarina estava a ver o colégio para onde ia. Sentia-me mal por causa dela e insegura em relação a ele, ele parecia que gostava de mim.

Uma semana depois disse-me que afinal não gostava de mim, que não queria nada comigo, que era melhor assim, tudo isto através de uma impessoal conversa por msn. Fiquei magoada.

Recebi uma chamada a dizer que tinha ganho o dito concurso e o meu conto ia ser publicado, chorei de emoção, fiquei tremendamente feliz (ainda estou à espera da publicação), senti-me realizada, tudo isto levou a 3 entrevistas em jornais locais e a última página no Jornal de Notícias.

Tentei aguentar tudo durante uma semana, chorei sozinha, não falei com praticamente ninguém, mas num sábado fatídico, com a Sara e a Sofia que já sabiam de tudo mas sem lhes ter dito nada, obrigaram-me a falar, não quis. Enconstámo-nos a uma ruela, deixei-me cair no chão com elas a meu lado, esforcei-me por não chorar porque ele não merecia e disse resumidamente o que passara, sentia-me traída e sozinha, mas ia conesguir ultrapassá-lo.

Vieram os anos da Catarina e festejámos praticamente as duas sozinhas no dia antes, encontrei-o na rua e um amigo dele mandou uma boca como: vai lá ter com a rapariga toda a gente sabe que é isso que queres. Senti-me superior e comecei a tentar ultrapassar tudo.

Não me lembro de grande coisa depois, lembro-me que as aulas acabaram e como nos anos anteriores tive nota máxima a todas as disciplinas, 9º ano não é difícil.

Planeei ir para Cambridge no Verão, passar uma semana em Rio Bom, imensa coisa que depois praticamente não fiz.

Foquei-me no ténis, joguei, treinei, ganhei um torneio na cidade, esforcei-me por esquecê-lo focando-me nesta minha paixão e apoiando-me na escrita.

Fui para Lisboa, com hotel pago em pleno Parque das Nações, com a Catarina e a minha mãe. Pequeno-almoço no quarto, táxi pago. Uma entrevista na TVI24, em que comentei vários temas e estive mais nervosa do que alguma vez tinha estado. Fomos às compras, a Catarina gastou balúrdios em roupa, comprei o CD dos Goo Goo Dolls.

Fui para Cambridge. Conheci imensas pessoas, interessámo-nos por uns alemães muito giros, atirei-me a um riozinho onde estávamos a fazer punting, fui a Londres, apanhei gripe A, fui ao Starbucks quase todos os dias, comprei imensos CD's, ri-me, diverti-me, aprendi inglês, passei imenso tempo com a Sofia e a Sara, fui ao Madama Tussauds, vivemos imensos momentos à filme, conhecemo-nos melhor do que antes, passamos imenso tempo no PP's.


Fui para Rio Bom. Foi de longe o melhor das férias. Era a festinha da aldeia, fui com a Iara, a Sara, a Catarina e a Sofia, só ficámos eu e as últimas duas nos dias mais importantes. Abraçámos castanhieris, conhecemos os franceses, saímos de casa de noite e fomos beber shots à borla para o café da aldeia, vivemos situações completamente insólitas que prefiro não referir para não ferir susceptibilidades. Vi imensas estrelas cadentes.

Eu e a Sofia voltámos para Rio Bom e vivemos dias bastante emotivos, em que nos reaproximámos, chorámos juntas, ou pelo menos tentámos fazê-lo.

Tive um casamento. Conheci um rapaz suíço e tivemos um caso de uma semana.

Voltámos à rotina monótona de Chaves.

Conheci a Adília, que se tornou quase como uma irmã para mim.


Começaram as aulas, uma turma nova, com pessoas de quem não gostava particularmente e que agora apenas considero desinteressantes.

Estou cada vez mais directa, não tolero pessoas que não gostam de mim e são hipócritas e não sou cínica, portanto o meu leque de amizades é reduzido mas suficiente.

A Sofia arranjou namorado e afastámo-nos.

Senti-me mal, mas depois aceitei a situação. Mais tarde acabaram e as coisas voltaram à regular normalidade.

Senti-me particularmente só durante algum tempo mas refugiei-me aqui, no blogue, e na Adília, que estava sempre lá para me ouvir.

Chegou o Natal. resolvi conflitos, fiz amizades, comprei prendas.


Agora estou à espera do Ano Novo, de tudo o que ainda está para vir e que espero que supere este ano, decerto o fará...

A janela

Cada vez que olho para aquela janela recordo todas as vezes que te vi entrar, as saudades que sentia quando te observava já do outro lado do vidro frio, incapacitada de tocar a tua mão, de sentir o seu calor, a sua aspereza, de me sentir protegida pelo teu abraço, sentia a falta do teu cheiro, do odor que emanavas, um perfume inconfundível independentemente da situação, eras tu quem me fazia falta, não a imagem de ti, mas tu do meu lado da janela.
Ainda te consigo ver chegar, com o cabelo a pingar, batendo freneticamente no vidro praticamente suplicando por um pouco do calor da divisão, e eu olhava-te com a superioridade de quem o tem e ao mesmo tempo inveja por não estar a disfrutar da chuva que te molhava, e do abraço molhado que te envolvia lá fora, podia ser o meu.
Nesses momentos olhavas para mim e eu olhava para ti, aproximava-me da janela e encostava o meu queixo no parapeito depois de me sentar no banquinho que tinha mesmo encostado a ela, olhava bem no fundo da tua alma e via que aquilo por que ansiavas não era apenas o conforto da divisão mas a mim, o meu beijo quente, o meu abraço acolhedor, ou pelo menos esperava que assim fosse.
Recordo um desses dias, em que tal como hoje chovia torrencialmente, e enquanto esperava ansiosamente que chegasses ouvia Chopin tocado por Maria João Pires, a sua mestria na movimentação dos dedos, pousando no momento exacto nas teclas brancas e pretas do piano, acompanhada pelo bater constante das gotas de chuva na janela, que embalavam a melodia e preenchiam os silêncios.
Tu chegaste num desses silêncios. Vieste perturbar a atmosfera que pairava no quarto naquele instante, levaste-me do meu transe para um sonho irreal, contigo. Bateste na janela e eu atendi quase que imediatamente à tua chamada. Caminhei com passadas largas e abri o trinco da janela, não te deixei entrar dessa vez, não permiti que deixasses aquele rasto molhado que denotava a tua passagem no chão da habitação, que me recordava por longas horas que tinhas estado mesmo ali.
Olhaste para mim confuso quando saí agilmente da janela para o pátio chuvoso. Não me tentaste demover nem entrar porque procuravas um calor diferente daquele que o quarto te proporcionava. Deixei que as gotas abundantes que caíam do céu me cubrissem por inteiro e dirigi-me para ti, deveria parecer uma rapariga louca, molhada da cabeça aos pés, descalça entre a relva molhada em pleno Inverno, olhando-te por entre uns cabelos negros que pingavam indistintamente, com o canto do lábio levantado num sorriso traquina de menina.
Dei uma enorme gargalhada e abracei-te, beijei-te, amei-te.
Sentámo-nos no chão e deixámo-nos ficar, a observar a chuva do lado errado do vidro, ou talvez não fosse o errado, apenas o era quando não partilhávamos esse mesmo lado. Estúpida divisória de vidro.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

(aceito sugestões para um título)

Caminho mais uma vez, sozinha, por entre um caminho sinuoso que não parece melhorar. Tenho esperança que estarás no fim do trilho, à minha espera. Continuo a andar, deixo a mochila que carrego nos ombros cair no chão com um baque surdo, deixo tudo o que antes me definia para trás, para começar de novo, começar contigo, mais tarde voltarei para recolher as coisas que vale a pena manter no entanto para já não tenho tempo para isso.
As árvores tornam-se mais densas à medida que avanço, a terra já não é macia como antes, as árvores estão cada vez mais próximas umas das outras dificultando a tarefa de passar por elas um trabalho digno de um contorcionista, há picos, pedras e fragmentos de um qualquer outro material aguçado a cobrir o solo segundo um qualquer padrão indecifrável e aleatório. Doem-me os pés e parece que estou a sangrar.
Vejo água mais à frente, entro destemidamente no pequenino lago no meio do nada, no meio daquela floresta escura. Os meus pés magoados respondem bem à água gélida do lago, dou mais um passo e o nível da água atinge os meus joelhos. Já não sinto os pés, portanto saio. Temo que permanecendo ali por mais alguns instantes me seja impossível mover de todo e não tenho ninguém que e ajude a continuar a caminhada que se apresenta ainda longa, mais uma vez estou só, só eu.
Não sinto os pés, o que é consideravelmente agradável pois já não sinto o asfalto a magoar-me as plantas dos pés, as farpas a rasgarem a minha pele, não sinto nada, portanto também não sinto dor, pelo menos a física.
A floresta parece interminável, talvez seja, como nunca estarás no fim do trilho esse trilho nunca irá acabar, quem sabe me surpreendas desta vez.
Parece-me que já caminho há horas, mas não aguento mais. Páro e sento-me no solo. Adormeço, vencida pela provação da caminhada, aninhada em mim mesma, tapando-me o máximo possível com uma rude capa de viagem. Acordo com a alvorada, coberta por uma fina camada de orvalho que me gela completamente, tenho de me mover com medo de gelar naquele preciso lugar.
Com todas as forças que me restam corro, da minha boca sai o característico fumozinho branco das expirações que envolvem uma atmosfera gelada, devo ter os lábios roxos porque basicamente não os sinto, os pés sinto-os gelados mas também sinto dor. Não suporto mais esta corrida interminável, onde estás afinal?
A capa ficou para trás, presa num qualquer ramo, agora o frio atinge os restantes membros, lentamente deixo de sentir o calor do sangue, e parece que é gelo que me corre nas veias.
Corro, magoando-me cada vez mais, os ramos magoam-me na cara e nas mãos quando os tento afastasr, deixando-me ligeiras feridas, suficientemente fundas para largarem gotículas de sangue que acompanham as lágrimas que não consigo conter.
Tropeço num tronco aparentemente colocado estrategicamente para me impedir a passagem.
Caio, vencida pela gravidade e pela adversidade da realidade. Olho a minha perna, tenho um golpe profundo e sangue escorre até ao meu pé direito, manchando a terra que se acumula no meu calcanhar e o solo, escurecendo o seu castanho para um negro, enquanto deixa um rasto de vermelho vivo.
Choro, deito-me na terra, pouso a cabeça ferida, pouso as mãos sobre o peito na tentativa de proteger o meu coração magoado e de o obrigar a abrandar lentamente, fecho os olhos e desisto, deixo-me sucumbir pela dor de ser eu própria e de não ter sido capaz de te alcançar, durmo, ou talvez não, recuso-me a levantar e continuar, desisto.
E ali estou eu, um eu despido, que abandonou parte de si num passado distante, que se recusa a continuar, fecho os olhos, ou já os teria fechado? Descanco, esperando que o frio gélido do dia ou da noite me levem dali, descanso neste sono eterno, sob um abraço de gelo na minha nudez de alma.
Fecho os lábios roxos, controlando os dentes que batem descontroladamente, inspiro uma última lufada de ar que me queima a garganta e gela os pulmões, olho o infinito e depois deixo-me levar pelo vazio. Apenas escuridão. E uma lágrima solta no último instante, por ti, mesmo que não a mereças.

sábado, 26 de dezembro de 2009

,

Hoje sinto-me uma pessoa nova, renovada pela felicidade destes últimos dias, pela sorte que tenho em viver tudo aquilo que vivo e por ter a hipótese de viver o suficiente para sofrer o que sofro.
Até hoje via-me mais como uma espectadora isolada de tudo o que me rodeava, não vivia, não sorria porque realmente me apetecia, apenas falava com as pessoas para não me fechar completamente em mim própria. Parecia-me, a mim, que observava o mundo de um vidro embaciado que por mais que tentemos limpar para ver o outro lado não temos mais que uma breve miragem que dura meros segundos. Julgo que consegui finalmente ver o outro lado, sonhar outra vez, chorar outra vez, observar as estrelas e ver algo que me cativa, olhar uma obra de arte e conseguir interpretá-la como tal e não apenas como um delírio de um artista sem valor, rir com a simplicidade das situações e das coisas, falar descabidamente e fazer comentários que ninguém esperava da pessoa calada e taciturna em que me estava a tornar.
Sinto-me capaz de voar outra vez, apetece-me viajar, ir a Paris novamente e perder-me na imensidão das suas ruas, na magnificência da sua beleza, na magia do ambiente que paira em toda a cidade, de correr todas as lojas, mesmo aquelas em que não tenho dinheiro para comprar nada, ir mais uma vez ao Louvre e ao museu d'Orsay, olhando todas aquelas belíssimas obras de arte como se fosse a primeira vez, apenas porque sim, porque eu quero.
Quem sabe não me apaixone pelo caminho, por alguém que valha a pena, pelo menos sinto-me capaz de o fazer novamente apesar de não estar completamente sarada e ainda ter em mim o temor de sofrer novamente, sei que é impossível amar sem nos atirarmos de cabeça e nos darmos inteiramente portanto vou tentar, mas não conheço ninguém a quem seja capaz de me entregar por inteiro, não há ninguém em quem confie assim tanto, apenas em mim própria.
Já tenho alguns desejos para o ano novo, só me resta esperar para os ver (ou não) concretizar.

A minha vida (des)interessante - II

Estou extremamente feliz, pela primeira vez desde que as aulas começaram. Provavelmente é por estar de férias, reparem na ironia da situação.
É Natal, toda a gente sorri, ou tenta fazê-lo, a troca de prendas, a iluminação lindíssima que traz brilho a esta cidade adormecida, os sorrisos na cara das crianças com todas as prendas que receberam, a família toda junta neste dia maravilhoso.
Depois, temos as minhas notas fantásticas que ajudam ainda mais a toda esta situação:
  • 16 a educação física (vou ter mais no próximo período, espero eu)
  • 18 a português, geologia e química 
  • 19 a filosofia e inglês
  • 20 a matemática (esta aumentou exponencialmente o meu ego)
Tive um recital de violino que correu bastante melhor do que o que eu esperava, tocámos algo como 12 músicas, demasiadas para a minha qualidade de interpretação, mas consegui ajudar a tornar um espectáculo de Natal algo interessante para inúmeras pessoas que esperavam uma mera demonstração medíocre.
O Pai Natal foi bastante generoso comigo portanto também não tenho por que me queixar em relação a isso...
Vou tentar melhorar a qualidade destes meus posts, porque sinceramente...
Um Natal maravilhoso para todos vocês e que o ano comece tão bem como o meu.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mais selos

Este post vai ser dedicado aos selinhos que a S. me ofereceu, muito obrigada porque são lindos:













Com este último selinho propõe-se que digamos as 5 coisas de que nos arrependemos:
  1. Arrependo-me de não te ter dito que me magoaste e simplesmente ter seguido com a minha vida fingindo ignorar a tua existência.
  2. Arrependo-me de ter chorado mais do que uma vez à frente de pessoas que não mereciam ver as minhas lágrimas.
  3. Arrependo-me de pensar demasiado em tudo e de ser muito perfeccionista, de piorar as más circunstâncias ao revivê-las desnecessariamente na minha mente.
  4. Arrependo-me de por vezes magoar as pessoas para me proteger.
  5. Arrependo-me de me tentar afastar do mundo, refugiando-me em mim própria, para me proteger das pessoas de quem tanto gosto mas que sei que vão acabar por me magoar, eventualmente.
Indicar 3 livros que nos marcaram (como é impossível escolher apenas 3 aqui vai a minha lista):
  • Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll
  • Memórias de uma Gueixa - Arthur Golden
  • Chocolate - Joanne Harris
  • Sapatos de Rebuçado - Joanne Harris
  • Anjos e Demónios - Dan Brown
  • O Monte dos Vendaváis - Emily Brontë
  • HP (a colecção toda) - J. K. Rowling
  • Um Momento Inesquecível - Nicholas Sparks
  • O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry
  • Uma Lição de Tango - Sveva Casati Modignani
  • A Doçura da Chuva - Deborah Smith
  • Jardim de Mulheres - Aminatta Forna
  • Em Troca de um Coração - Jodi Picoult
  • Tudo Por Amor - Jodi Picoult
  • A Menina Que Não Queria Falar - Torey Hayden
  • A Menina Que Nunca Chorava - Torey Hayden
  • Trilogia da Herança (Herança do Fogo, Herança do Gelo e Herança da Vergonha) - Norah Roberts

Deixo estes selos aos leitores deste blogue e a todos os que passem por aqui e os queiram para si.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"Não faço ideia onde vou acabar, com toda a gente a tentar ajudar a levar-me ainda mais para o fundo."

Sou o meu próprio pesadelo

Estou deitada no meu quarto, a tentar perceber como é que tudo aconteceu, como é que por uma coisa sem nexo aparente deixaste de me falar.
Tapo-me com os cobertores tentando fugir à realidade, refugiar-me da ideia que tanto me magoa de que não estás sequer preocupada comigo. Choro, porque nada mais posso fazer. Olho em meu redor e tudo me parece negro, extremamente escuro, vejo os monstros que me perseguem nas paredes a rodear-me. Mas não são monstros sou apenas eu.
Levanto-me um pouco para tentar olhar-me ao espelho e ver a situação de uma perspectiva diferente. Sobressalto-me com a imagem que reflecte. Eu estou lá mas diferente, a expressão não é a minha, não estou ali na plenitude do meu ser. Apareço incompleta, quase vazia. Tento olhar para outro lado mas a minha própria imagem persegue-me.
Quando olho para o lado oiço alguém sussurrar algo ao meu ouvido:
-Não vale a pena fugires. Eu vou estar sempre aqui.
Olhei e vi-me a mim. Não, não era eu, não era o espelho era a minha imagem reflectida no espelho, eu a assombrar-me a mim própria, eu como o meu próprio pesadelo.
Viro a cara, assustada com a estupidez do que vi, ou julguei ter visto.
Olhei novamente esperando que o delírio, alucinação, ou lá o que fosse já tivesse passado. No entanto ela continuava lá. Eu permanecia ali.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Neve em Chaves

Hoje tive uma folga imprevista.
Tal como já tinha referido antes o Inverno nesta cidade é gélido e quase impossível de suportar, e nestes últimos dias tem sido um suplício aguentar as camisolas de gola alta, os casacos extremamente volumosos e que reduzem consideravelmente a mobilidade, os gorros, as luvas, e mesmo com tudo isto continuo com o nariz gelado sempre que saio de casa.
Mas voltando ao tema inicial. Hoje nevou, mas nevou mesmo. Nevou em Chaves. As escolas estão fechadas portanto agora estou em casa sem grande vontade de sair devido ao ar que nos gela as entranhas a cada inspiração de lá de fora.
Decidi ficar-me pelo calor aconchegante do meu lar, roam-se de inveja os que tiveram de ir trabalhar. Pode ser que desta forma me lembre de algo interessante para escrever aqui e não apenas estas coisinhas que nada interessam.
Mesmo assim, vou voltar a salientar: NEVOU EM CHAVES!
Vou mais uma vez para a janela olhar lá para fora, para ver que ainda está a nevar, que continuam a cair pedacinhos de algodão do céu (era o que eu pensava que era quando era pequenina), que as casas estão mesmo a fica com os telhados brancos e que se puser a cabeça de fora vou certamente ficar gelada mas feliz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Estado: irritada e desiludida

Porque é que as pessoas acham que me conhecem bem? Não percebo e irrita-me profundamente quando as pessoas me consideram completamente linear imaginando que vou reagir de forma igual em todas as situações. Não. Não sou linear. Posso ter uma vida consideravelmente fácil, mas sou frágil e sinto-me muito fraca, sinto que todos me podem magoar neste momento e poucas são as pessoas que nos ultimamente não o fizeram.
Não. Não me conhecem assim tão bem senão saberiam o que não deveriam dizer, as coisas subtis, comentários fragmentados que a minha mente não abandona, que me levam a questionar tudo, que me magoam.
Se me conhecessem assim tão bem saberiam que sou orgulhosa, que não sou capaz de me humilhar voluntariamente, adoro fazer os outros rir, comigo e de mim, quando eu tenho controlo da situação. Tenho uma lacuna enorme de confiança, estou segura de parte de mim, de algumas das minhas capacidades, mas não da integridade da minha pessoa. Não tenho um historial plenamente feliz, não sou a típica adolescente que muitas pessoas vêem. Sou tudo e nada. Sou orgulhosa e sei admitir quando erro, sou incapaz de pedir desculpa quando não sinto que errei, sou perfeccionista e custa-me aceitar os erros dos outros em relação a mim, e não espero mais dos outros do que de mim própria, aparentemente a minha fasquia está demasiado elevada para comportamentos vindos de adolescentes que ainda não têm a menor noção daquilo que os rodeia, sou pessimista e optimista simultaneamente, dependendo do caso em questão, sou sonhadora e adoro rir-me, mas preciso dos meus momentos de silêncio, daqueles instantes em que mesmo quando toda a gente está junta me posso isolar dos grupos sociais estabelecidos, ou simplesmente agir como um autómato, usufruindo do tempo que preciso para mim, de ser capaz de ouvir a voz do meu pensamento, de ser livre.

Sou a rapariga indecisa, a pessoa indefinida que se vai conhecendo e vai agindo conforme as circunstâncias. Vivo no passado e no presente, tenho vislumbres do futuro e expectativas que espero conseguir alcançar, tenho sonhos apenas meus que ninguém imagina que me ocorrem. Adorava ser bailarina clássica e ao mesmo tempo tenho uma paixão por dança urbana e contemporânea, tenho uma paixão por música e ser música ambulante é algo que me cativa e que nunca ninguém imaginou de mim.
Sou tudo isto e muito mais, e tu não me conheces, podes pensar que sim, no entanto nada mais sou para ti do que aquilo que mostro, e isso não define plenamente a pessoa que sou, se não ajo da forma como queres não tenho culpa, estou a ser apenas eu, não percebo essa atitude de menina mimada a ignorar a pessoa com quem te rias há meros instantes devido à estupidez de uma atitude que deveria ter sido cómica e que decidiste aceitar tentando ser autoritária, mas não respondo a ti, não faço o que tu queres, se queres que faça aquilo que esperas de mim estás longe de prever o meu comportamento. Sou apenas eu, não sou tu, não penso como tu. Não vou mudar porque decidiste virar a cara quando passo, ignorar a minha presença, não me dirigir a palavra.

Ainda tu dizes que estás longe de ser uma adolescente normal, não passas de uma criança como todas aquelas que criticas, uma criança mimada.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Amy Sol

Enquanto viajava um pouco pela blogosfera à procura de fotógrafos e artistas encontrei uma pintora com gravuras lindíssimas, de quem nunca ouvira falar (o que não me espanta), a coreana Amy Sol.
Pinta em madeira, conjugando folk art e os desenhos manga que bastante admiro.
Tem imagens lindíssimas, em tons monocromáticos, não saindo dos pastéis. Meninas delicadas, animais fantásticos e queridos, flores e vegetação estranha a idílica.

Estão aqui algumas das gravuras dela:







Para quem ficou interessado deixo aqui o endereço do site e do blogue da autora.

Livres, nós?

A filosofia temos abordado o tema da liberdade. Se somos livres de agirmos como queremos e de nos autodeterminados ou se estamos sujeitos a fazer algo, não tendo a possibilidade de fazer algo diferente.
Acho isto muito redutor do ponto de vista humano. Não sermos livres. Há séculos que o Homem luta pela sua liberdade sobre diversas formas, a liberdade dos escravos, a liberdade dos Homens, a liberdade de expressão, ainda hoje penso que todos nós nos debatemos para nos sentirmos livres, livres de preconceitos, de vidas monótonas, rotinas que nos saturam por serem apenas isso, rotinas, vidas stressantes, lutamos para termos liberdade de escolha no trabalho, em casa, para alargarmos as nossas possibilidades monetárias e termos uma maior liberdade de escolha a nível de bens materiais... Esforçamo-nos todos os dias para quebrar barreiras para aparecer alguém e nos dizermos que afinal não somos livres?
Penso que cada um tem direito à sua opinião, desde que a sua justificação para a escolha daquela posição seja um insignificante "Porque sim".
Sinto-me dividida entre o compatibilismo e o determinismo.
Segundo o compatibilismo apesar de o nosso corpo estar sujeito às leis físicas naturais que não somos capazes de contrariar, como a lei da gravidade, somos capazes de em certas situações nos autodeterminarmos, ou seja, escolhermos por nós próprios. Por exemplo, quando nos atiramos de um 100º andar caímos inevitavelmente devido à lei da gravidade, mas somos livres de escolher entre atirarmo-nos ou não porque essa escolha cabe-nos apenas a nós tomar, somos os únicos que temos a capacidade de determinar o que vamos fazer a seguir.
Desta forma somos livres e responsabilizados pelos nossos actos.
Mas por outro lado, todas as escolhas que fazemos se devem a um factor anterior, como quando se escolhe o nome para uma criança. Temos uma imensidão de nomes entre os quais podemos escolher mas vamos ecluindo alguns porque nos recordam uma determinada situação que nos desagradou, alguém de que não gostamos... Quando temos a hipótese de escolher o que vamos almoçar num determinado restaurante onde nunca fomos geralmente escolhemos algo com o qual estamos familiarizados e de que gostamos ou algo que alguém nos recomendou, assim somos determinados a fazer aquele escolha pelo passado, pelo que já vivemos.
Estes exemplos baseiam-se numa visão determinista, em que estamos plenamente determinados a fazer algo de determinada forma e não o podemos evitar, porque cada efeito tem uma determinada causa, e essa causa não somos nós, ... e extende-se uma interminável definição pormenorizada de determinismo, mas resumindo: não podemos escolher o que fazemos, não somos responsabilizados pelos nossos actos dessa forma e o nosso "destino" está previamente traçado.
Não há uma hipótese correcta ou errada nestas sitauações, afinal de contas, trata-se de filosofia, mas tenho dúvidas acerca de qual delas se adequa melhor à minha forma de ver: será que vivemos o passado ou o presente? Somos capazes de nos alhearmos plenamente de tudo aquilo que já vivemos para trás de maneira a nos autodeterminarmos plenamente?
Talvez sim, talvez não... Questões infinitas, respostas praticamente inexistentes, incertezas parcialmente elucidadas com mais perguntas.


"Não fazemos aquilo que queremos e, no entanto, somos responsáveis por aquilo que somos."
Jean-Paul Sartre

A minha vida (des)interessante - I

Férias, finalmente...
Não oficialmente mas acabaram finalmente os testes, o stress que marca estes
ultimos dias em que um teste sucede o outro sem termos sequer tempo para respirar.
Estou extremamente feliz por causa do meu 18,8 a filosofia e 18,1 a Português, além do mais em princípio acabo o período com 19 a filosofia.
Não estava a contar com tão boas notas mas a única nota que devo ter abaixo de 17 é a educação física e apenas porque o professor decidiu não ser justo...
Como não sou muito de postes que se refiram directamente à minha vida provavelmente não sabem que estou no 10º ano, na área de biologia, e está a ser excelente... Fora as aulas em que praticamente adormeço e não tenho paciência suficiente para ouvir o meu professor de biologia (que daria um filme mudo bastante cómico) a falar das rochas, dos sismos, ...
As situações insólitas com a professora de português, que sem exagero nenhum me adora e a mais duas colegas minhas, de tal modo que se lhe pedisse para sair a meio da aula sem motivo aparente era capaz de deixar e até me agradecia por ter perguntado...
A professora de matemática não vai com a minha cara porque já tenho metade do livro resolvido e não oiço metade do que ela diz, coitada da senhora, gosta de ter atenção.
Quanto a educação física e fiolosofia, são ambos professores que gostam de mandar piadas, o de filosofia no entanto mais rígido que o outro não nos deixando minimamente à vontade para darmos a nossa opinião, numa disciplina que se baseia praticamente nisso.
Estou revoltada com o 12 que no melhor dos casos vou ter a educação física quando merecia algo como um 15, mas pronto, o senhor professor não quer ser simpático.
Para quem ainda não sabe sou uma aluna aspirante a Medicina, adoro a área em geral, e adorava especializar-me em Psiquiatria. Espero conseguir...
Ah, e parece que pessoas federadas a nível nacional entram na faculdade de Medicina com menos dois valores, espero bem que sim porque sou federada a andebol e ténis e tenho a situação mais controlada, apesar de esperar ter média para entrar facilmente na universidade.
(suspiro)
Ainda tenho imenso tempo, vou aproveitar as férias, dar um saltinho ao Porto, visitar uns amigos, sair apesar das adversidades desta cidade gélida, divertir-me um bocado e tentar não apanhar uma gripe.

domingo, 13 de dezembro de 2009

História longe de ser minha

Liguei-te. Precisava de falar, de alguém que me pudesse ouvir visto que em minha casa o silêncio apoderava-se de todas as divisões eu precisava desesperadamente de ouvir alguém e de me ouvir a mim.
Entre conversas triviais que me fizeram rir e me devolveram o ânimo contaste-me o que te tinha acontecido naquele dia.
Por alguma razão aceitaste ir tomar um café com o teu pai, tudo bem até aí. O local nao te agradou propriamente muito menos quando descobriste que o teu pai tinha dito a uns amigos dele para irem com vocês. Entre conversas em que simplesmente intervinhas por pura educação e não por interesse perguntaste discretamente se podias ir ter com umas amigas.
Saíste do café e foste para as ruelas, não havia ninguém ali. Não tinhas a certeza se encontrarias alguém mas esperavas ter essa sorte. Enquanto procuravas alguém infrutiferamente diverteste com o fumo branco que sai da tua boca, característico dos dias gélidos que abatem esta nossa cidade no Inverno.
Quando desististe e decidiste voltar para o café derrotada alguém te puxou pelo braço para um canto escuro. Como rapariga assustadiça que és temeste que te fossem assaltar ou magoar de alguma forma, compreendo a confusão e temor que deves ter sentido.
Enquanto me contas isto reparo num tom diferente na tua voz, não o de medo mas uma emoção escondida entre as palavras, no suspiro que lanças aqui e ali, como que um presságio para o que me vais contar a seguir.
Dizes-me que reconheceste automaticamente o perfume da pessoa que te agarrava. Ele. Não, não podia ser ele. Paraste confusa com o absurdo do momento mas uma energia renovada é emanada pela tua voz quando atinges esta parte.
Ele falou. Disse-te um olá preocupado seguido de uma pergunta como "Assustei-te?" à qual não consegues responder por estares atordoada com a ironia da situação. Disseste num sussurro como que para te desculpares que tens medo do escuro. Ele respondeu que já sabia e deixa a luz do telemóvel a iluminar ligeiramente aquele cantinho obscuro.
Falas cada vez mais depressa com a emoção do momento, não percebo se queres contar-me o fim mais depressa ou se não queres prolongar toda esta situação dolorosa e inesperada.
Chegou o momento em que ele te disse que sentia muito a tua falta e que tinha errado. Disse que te queria de volta.
Penso que querias ouvir estas palavras mas não sabias como reagir a elas, eram simplesmente ilusórias, como um sonho ou um pesadelo, palavras ambíguas, ambivalentes.
Contas-me que lhe disseste exactamente aquilo em que pensaste, riste-te de forma triste pela forma como tudo se tinha desenrolado. Pelo que me dizes a mim as tuas palavras foram algo como "Não vou voltar para ti. Não te perdoo. Foste um idiota pela forma como agiste e não vou permitir que me magoes mais uma vez.", enquanto pensavas "Claro que não te esqueci, claro que volto para ti, não precisas de me reconquistar porque ainda sou tua.".
A imagem que as tuas palavras geram na minha mente são de um rapaz que eu considero extremamente forte e seguro de si sem ser presunçoso, fragilizado, magoado pelas tuas palavras duras.
Dizes-me também que ele te perguntou se tinhas a certeza ao que tu respondeste convictamente que sim, que apenas estavam naquela situação por aquilo que ele fizera. Referes que te pareceu que ele chorava enquanto te deixava ali, petrificada, confrontada com a realidade do que tinhas feito.
Voltaste para o café justificando-te perante o teu pai com um insignificante "Elas foram embora mais cedo." quando todo aquele momento insólito tinha sido muito mais que isso.
Depois de ouvir toda a história perguntas-me o que acho, qual a minha opinião acerca do que fizeste.
Custa-me imenso responder a esta questão, podia tomar o teu partido e apoiar-te poe sermos amigos, mas também o conheço a ele e sei como é... Não há um certo e um errado nas situações há apenas o que acontece, não há hipóteses, outras saídas. Não fui eu que sofri com a forma dura como ele te deixou nem fui eu que suportei a tua ausência como ele o fez... Não posso dizer que foste covarde nem corajosa, demonstraste coragem quando ultrapassaste aquilo que desejavas para tomares a decisão que consideravas correcta, mas posso dizer que foste covarde ao desistir de algo que realmente querias apenas porque podias sofrer, não sofres de qualquer maneira? Podias arriscar mais uma vez, não irias perder mais do que da outra vez.
Não sei. Não te censuro, não te apoio, estou impossibilitada de decisar o que acho disto, mas pelo tom da tua voz nem tu decidiste ainda. Consigo distinguir tonalidades de dor na tua voz, de incerteza, enquanto tentas convencer-te a ti própria que a decisão que tomaste foi a correcta, que foste forte, sim, foste forte, mas podes ter perdido momentos de alegria que te teriam marcado.
Invejo-te pela possibilidade que tiveste, pelo que vocês tiveram, mas não invejo este momento que viveste, qualquer que fosse a decisão que tomasses nunca seria completamente certa, decerto que te arrependerias dela mais tarde.
Sabes bem, Adília, que te compreendo e te adoro, que és uma das amigas que mais me têm apoiado, e independentemente da escolha que podias ter feito e da que fizeste apoio-te, queria que soubesses a opinião que não tive oportunidade de exprimir concisamente quando me contaste isto tudo, espero que me percebas e que te percebas a ti própria...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Figuras indistintas no nevoeiro

Enquanto percorro a remota cidade de Chaves hoje encoberta plenamente por um nevoeiro que não me permite ver mais do que alguns passos à minha frente, tenho de me encolher no meu enorme casaco vermelho, soprar nas mãos geladas, onde sinto que a circulação começa a falhar. É uma tortura para o meu corpo este frio imenso, esta humidade extrema do ar, a invisibilidade parcial. A garganta dói-me a cada lufada de ar que inspiro, e a cada expiração o ar sai da minha boca formando uma espécie de nuvenzinha branca que paira por breves milésimas de segundo para desaparecer.
Caminho perto do rio onde está ainda mais frio. Tento observar a outra margem mas é-me impossível. Gosto de pensar que estás do outro lado. Disseste que estarias. Continuo a caminhar, tornando-se a cada passo mais difícil continuar. Aperto o cachecol em direcção à minha garganta, empurro o gorro um pouco mais para não gelar as orelhas. Sinto o nariz e as pontas dos dedos completamente geladas, ou devo dizer que apenas já não os sinto. Oiço passos perto de mim mas não vejo ninguém. Olho em volta esperando ver-te mas não vejo nada.
Que cidade fria. Que cidade vazia.
Nada mais me resta que continuar a andar, se parar temo não voltar a mover-me.
Vejo uma sombra imediatamente à minha frente, uma sombra indistinta no meio do nevoeiro. Reconheço-te pelas sapatilhas pretas Converse, estragadas pelo uso em demasia. Mas... não estás sozinho.
Páro. Mais um passo. Uma imagem um pouco mais nítida. Parece... Uma rapariga.
Caminho um pouco mais. Os meus olhos abrem-se com o espanto, na boca um trejeito de dor, o peito aberto pelo momento que presencio, uma dor que me mata por dentro a cada segundo que passa. De certeza que foram apenas segundos? Pareceram-me horas, aquelas em que te vi agarrado àquela rapariga, beijando-a da forma como era suposto teres-me beijado a mim.
Lágrimas silenciosas caíam dos meus olhos enquanto eu permanecia ali, petrificada, impossibilitada de me mover pela forma como me sentia, pela sensação de ter sido descartada. Largaste-a. Olhaste-me. Vi a culpa nos teus olhos, disseste que não era aquilo que parecia, olhei a rapariga que sorria vitoriosamente, nada mais via que a sua boca, não a olhei o suficiente para distinguir quem era entre o nevoeiro...
Caminhaste para mim mas não queria que me tocasses, apenas me magoaria mais.
Virei-me. Corri. As inspirações tornaram-se mais fortes, as expirações mais rápidas, a respiração ofegante, a garganta a doer de forma insuportável, na cabeça a memória do que vira, não podia ser verdade.
Eu continuava a correr, balançando os braços descontroladamente, chorando de forma desenfreada, com os olhos semicerrados, não via nada, corria por instinto, não me preocupando com a possibilidade de cair, de me magoar, comparada com a dor que sentia nada mais poderia piorar a situação.
Pelo que parecia continuavas a correr atrás de mim.
Parei. Deixei-me cair no chão duro, na terra húmida. Começou a chover. Olhei o céu e apercebi-me da minha covardia. Talvez merecesse isto.
Ouvi-te atrás de mim. Virei-me ainda chorando, mas era impossível distinguir as minhas lágrimas das gotas gélidas que caíam sobre mim. Olhei-te até atingir a profundidade do teu ser. O que sentes? Isso é a forma de me pedires desculpa ou de te tentares desculpar silenciosamente? Que queres de mim?
Grito. Pergunto-te porquê... Não sabes responder mas não olhas o chão em sinal de culpa olhas-me a mim, tentas desculpar-te dizendo que não era o que parecia mas magoaste-me demasiado.
Tento ir-me embora mas não consigo tirar o meu olhar do teu.
Sou fraca. Aproximo o meu rosto do teu para perceber na plenitude a tua expressão. O que queres? Quem queres?
Num gesto impulsivo e fraco beijo-te. Fraca. Não.
Não me impedes. Abraças-me. Envolves-me nos teus braços dizendo que está tudo bem. Estará? Não sei. Só sei que a garganta me dói mas que o teu abraço quente me aquece. És uma droga, é impossível impedir-te, impedir o efeito que tens sobre mim. Não dizes nada. A chuva cai, o nevoeiro esconde-nos do mundo. Não importa o que vai acontecer depois, não importa o quão magoada ainda estou, não importa a forma compulsiva como tremo, nada mais importa, apenas este abraço apertado. Apenas tu.
Fraca. Não sou mais que isso. Fraca e tua. Por enquanto, enquanto chover.
Estou cansada, dói-me a cabeça, cheiro imenso a tabaco e dói-me a garganta. Foi um dia fatídigo, começado com uma tentativa infrutífera de jogar ténis e de um ensaio de violino extremamente stressante.
Não tenho propriamente medo do palco mas não consigo enfrentar bem o público quando não estou segura daquilo que estou a fazer daí os nervos que me impediram de colocar correctamente o terceiro dedo na terceira corda para tocar um Ré afinado, algo que se repetiu com muitas outras notas, nem sequer vou comentar os sustenidos...
No caso do ténis estou com uma esquerda fantástica mas a direita está terrivelmente "desafinada".
(Peço desculpa pelo post bastante inusual, mas precisava de desabafar)
Tive direito a ir jantar fora, a um restaurante de que gosto particularmente visto que nem eu nem o meu pai estávamos com vontade de cozinhar, tenho definitivamente que aprender a fazer alguma coisa mais que saladas...
Tive agora a primeira oportunidade do dia para relaxar mas com o cheiro a tabaco da minha roupa torna-se praticamente impossível respirar e a minha cabeça está simplesmente a latejar.
Odeio estes dias em que nada me parece correr bem, porque é que existem dias assim? Pelo menos hoje não tive nenhuma das muito habituais discussões com os meus pais, praticamente não nos cruzámos porque senão seria algo praticamente inevitável... Resta-me aproveitar os momentos de silêncio e de paz que posso gozar (por enquanto) à espera de um pouco de inspiração para escrever algo que valha mesmo a pena ser lido.
Caminho sem rumo, pelas linhas intermináveis de um,a folha de papel vazia, na tentativa de me encontrar pelo caminho. Sinto-me fraca, perdida algures num recanto escuro, com medo de sair porque sei que muito provavelmente me vou magoar outra vez. Consigo lidar com tudo menos com os comentários inesperados e dolorosos, as palavras que magoam, as atitudes que não esperava vindas de uma certa pessoa, mas parece impossível. Espero dos outros apenas o que espero de mim mesma, mas aparentemente, espero demasiado de ambos os lados.
Continuo a escrever, esperando encontrar a palavra certa, mas parece que até a minha capacidade de escrita foi perturbada pela minha mente conturbada, que sofre enquanto a minha cara se apresenta sorrindo. Hipócrita. Cínica. Características que odeio e que actualmente se parecem aplicar a mim.
Não consigo. Não consigo continuar assim... Todas as músicas que oiço me fazem chorar. Sempre que tento tocar umas simples notas no violino as minhas mãos parecem não obedecer, talvez a mente esteja a evitar que nos meus olhos pendam mais lágrimas prestes a brotar devido à melodia triste que soaria quando o arco tocasse nas quatro cordas metálicas.
Faz-me falta algo. Perdi algo. Algo importante que agora preciso, algo como aquele abraço apertado que nos refugia de tudo, as doces palavras que nos demonstram que tudo está bem e nada mais importa, falta-me esse apoio incondicional, o carinho, a ternura...
No entanto sinto-me incapaz de amar de forma incondicional, parece que me começo a interessar por alguém mas no meu interior tento reverter esse doloroso processo do qual nada beneficiaria...
Prefiro não arriscar, prefiro não me atirar ao abismo na esperança de conseguir voar, prefiro não amar para não ter de sofrer.
Estarei desta forma a abdicar também de viver?
Não sei, já não sei nada, nada de importante, trivialidades inúteis pelas quais ninguém se interessa, nulidades.

A quadra natalícia da actualidade

Com a época de Natal chegam o cânticos natalícios que soam em quase todas as lojas em que entro, que dominam as minhas partituras de violino, mesmo que o tente evitar... As pessoas correm de loja em loja à procura do presente para aquele primo, para a tia não sei quê, muitas vezes prendendo-se em complicados dilemas acerca do que comprar porque não conhecem praticamente as pessoas e toda esta troca de presentes é praticamente uma obrigação.
No meu caso gosto de receber prendas e de dar prendas, considero esta troca uma forma de mostrarmos à outra pessoa o quão bem a conhecemos ao termos a capacidade de escolher algo que esta aprecie... É uma desculpa agradável para demonstrarmos o carinho que sentimos sob a forma simplificada de um bem material... Eu nunca espero até ao dia de Natal para receber as minhas prendas, muitas delas nem chegam a ser embrulhadas, já não sinto a necessidade de receber prendas nesse dia mas fico feliz por as receber.
No entanto, preocupam-me as crianças, a forma como as habituamos a um amontoado infinito de presentes, que parecem nunca mais acabar, uma quantidade exorbitante de papel de embrulho, lacinhos, jogos, brinquedos e mais brinquedos, alguns deles colocados automaticamente na parteleira confinados a esse espaço no quarto pela sua nulidade. As crianças de hoje em dia estão habituadas a ter tudo muitas vezes não estando preparadas para as adversidades com que os adultos se deparam ao longo da vida, como uma mudança drástica nas finanças que não permite este nível de vida às crianças, que Natal terá uma criança que vê a quantidade de prendas diminuir exponencialmente de ano para ano? Uma criança apenas habituada à faceta materialista desta festividade que visa principalmente a reunião da família, a celebração desta família, a felicidade e a paz, como veria o fim destes embrulhos que se amontoam na base da árvore de Natal?
A qualidade do dia de Natal medir-se-á pela quantidade de presentes debaixo da dita árvore ou pelo amor e alegria partilhados por esta família nesta quadra festiva? Será que chegámos ao ponto de nos preocuparmos tanto com os presentes que nos resta apenas tentar encontrar uma réstia do verdadeiro espírito deste dia, perdido entre prendas e presentes, brinquedos, jogos, camisolas, simples objectos que em nada sobrepõem as nossas necessidades de amor e de família?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

We Might As Well Be Strangers

As minhas mais recentes aquisições:
  • Hopes and Fears dos Keane
  • The Fall da Norah Jones
  • Chopin tocado por Maria João Pires

São excelentes álbuns de músicos que adoro e que me têm acompanhado nas breves viagens de carro para esconder o silêncio desconfortável que ninguém decide quebrar, que têm estado presentes nas horas más com melodias agradáveis e letras magníficas, ouvindo as minhas lamúrias quando mais ninguém o quis fazer.

Se tiverem oportunidade oiçam.

Uma das músicas que me cativou mais no álbum dos Keane foi We Might As Well Be Strangers, chamou-me a atenção porque nunca a tinha ouvido ao contrário das restantes músicas e é das mais bonitas. Deixo aqui a letra:

I don't know your face no more

Or feel the touch that I adore

I dont't know your face no more

It's just a place I'm looking for

We might as well be strangers in another town

We might as well be living in a different world

We might as well

We might as well

We might as well

I don't know your thoughts these days

We're strangers in an empty space

I don't understand your heart

It's easier to be apart

We might as well be strangers in another town

We might as well be living in another time

We might as well be strangers

For all I know of you now

For all I know

É uma música lindíssima que merece que percam cerca de 3 minutos e 12 segundos do vosso tempo para a ouvirem. Vale a pena pensar, vale a pena sentir, vale a pena sonhar, transportados para o mundo encaminhados por esta melodia lenta que nos embala suavemente, enquanto um cantor com uma voz maravilhosa diz palavras doces, que no meu caso tocam num lugar num recanto profundo do nosso ser, nas feridas ainda por sarar, dos amores que agora nos parecem estranhos, dos amigos que nos parecem ignorar, da triste e dura vida que nos parece ataiçoar tantas vezes.

Manias

A S. lançou-me mais um desafio e achei interessante portanto aqui está:

Cada bloguista tem de enunciar 5 manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades tem de escolher 5 outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do recrutamento. Cada participante deve reproduzir este regulamento no seu blogue.

  1. Tenho a mania de chorar (quase) todas as noites enquanto oiço música, Chopin, Norah Jones, Keane, Goo Goo Dolls, Beatles, The Script, ou simplesmente as músicas que passam no rádio. Posso nem sequer estar triste mas sinto esta necessidade para me libertar, me sentir melhor comigo mesma, me deixar levar pela música e deixar para trás todas as adversidades e complicações do dia que acabou.
  2. Não consigo evitar andar à chuva. De todas as vezes que chove caminho mais devagar deixando-me embalar pelas gotas que suavemente caem na minha cabeça e me levam para um outro lugar, um lugar meu, onde uma pessoa com as roupas completamente molhadas, com os cabelos a pingar, não tem necessariamente de estar deprimida nem de ser estranha, pode ser simplesmente alguém que adora sentir a chuva, o cheiro da terra molhada, sentir-se ali e noutro lugar simultaneamente.
  3. Tenho a mania de me tentar superar constantemente, tentar superar as limitações do meu corpo humano, da sua necessidade de descanso, tento ultrapassar os conhecimentos limitados que detenho por outros mais correctos ao meu ver, tentando conhecer tudo. Tenho a mania de pesquisar tudo e querer ter um conhecimento básico acerca de tudo e de me prender nos detalhes interessantes de cada assunto.
  4. Tenho a mania de me recordar de certos acontecimentos marcantes pela roupa que usava nesse dia, do lenço que tanto gosto porque o usei quando estava contigo, das sapatilhas que sempre me deram sorte e me deram confiança para enfrentar uma determinada situação. Lembro-me de detalhes como o nome do café onde estivemos e nunca mais entrei depois disso, da forma exacta da árvore onde me encostei e chorei quando as pessoas me magoaram, do sítio exacto no passeio onde me sentei com duas amigas e encarei a realidade da situação que enfrentávamos. No entanto, sou incapaz de decorar datas e horas, o tempo não é importante para mim.
  5. Tenho a mania de rir de tudo, de fazer as pessoas rir, de mim e comigo, de limpar as lágrimas das faces das pessoas que me interessam ao arrancar-lhes a custo um sorriso com uma piada que sabia que as faria sorrir. Gosto de ver as pessoas sorrir portanto sorrio-lhes também, sorrio para que todos possam ver quão bom é fazê-lo e quão bem nos sentimos quando ostentamos um verdadeiro sorriso. Sou uma cómica autêntica e não consigo evitar criar uma piada das situações mais absurdas.

Agora, a tarefa mais difícil, os cinco blogues escolhidos:

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Os sapatos vermelhos

Vi uma menininha pequenina, cabelos loiros, lindos cachos doirados à volta da cara, caindo delicadamente nos seus ombros de criança. Usava um vestido branco, e parecia irradiar uma luz quase angelical, tinha uma figura de anjo, uma beleza de anjo, a ingenuidade de um anjo...
Olhava à volta, parecendo um pouco perdida, mas provavelmente procurava um menino para brincar. No entanto parecia não haver ninguém ali. Então olhou para mim. Olhou directamente para mim e reparei nos seus olhos de um azul escuro que me lembrava as lindas águas da lagoa onde costumava nadar quando era como esta menina.
Talvez me tenha visto como uma potencial amiga e caminhou lentamente mas não como uma criança tímida, caminhava devagar para me observar, enquanto olhava para mim era capaz de ver aquele brilho que as crianças têm no olhar quando estão prestes a fazer um milhão de perguntas diferentes, daqueles interrogatórios intermináveis que só acabam quando as pessoas grandes acham que a curiosidade da criança deve ser limitada para não ficarem com uma dor de cabeça insuportável...
Quando chegou ao pé de mim senti-me bastante alta, olhando aquela menina dos meus 168 cm de altura acrescidos por saltos de 14 cm... Baixei-me, colocando-me de cócoras, tentando lutar contra o desequilíbrio para não me espalhar no chão. Fiquei mais ou menos ao nível da cara da menina e perguntei-lhe como se chamava... Ela disse-me que o nome dela era Diana e sentou-se na relva mesmo à minha frente sorrindo com um daqueles sorrisos desdentados enternecedores das crianças. Decidi parar com a minha cara de sofrimento de que ela se ria discretamente.
Tirei os sapatos e sentei-me com ela no chão, finalmente terra firme.
-Como te chamas tu? - perguntou-me ela.
-Eu chamo-me Andreia.
-Gosto desse nome. - disse sorrindo abertamente.
Sorri também. Não sabia o que dizer àquela menina, e foi então que lhe perguntei onde estavam os pais dela.
-Não sei.
O sorriso dela desvaneceu-se, olhou o solo e começou a roer as unhas nervosamente.
-Vamos procurá-los. - disse tentando animá-la.
Entretanto ela olhou para mim, levantando lentamente a cabeça até que lhe pude ver novamente os olhos. Chorava silenciosamente. Encostei-a a mim. Disse-me depois que os pais tinham morrido. Não sabia o que dizer e apertei-a mais contra mim, aconcheguei-a tentando protegê-la da dura realidade de que estava praticamente só naquele mundo no início da sua vida. O choro silencioso evoluiu para um pranto doloroso, que dilacerava as minhas entranhas com a dor que transportava.
Adormeceu no meu colo quando as forças para chorar se dissiparam.
Não a larguei. O sol pôs-se e recusei-me a largar aquela menina.
Ela acordou e disse que gostava dos meus sapatos. Eram vermelhos e ela não conseguiu tirar os olhos deles.
Olhei aquela criança frágil enrolada ao meu corpo falei-lhe da história do feiticeiro de Oz, dos sapatos que a Doroteia tinha que a levariam para casa quando quisesse, tinha apenas de bater com eles um no outro. Não tinha a certeza de a história ser exactamente assim mas o importante é que ela parecia interessada.
Disse-lhe que ela podia ficar com os meus sapatos e que podia fazer o mesmo que a Doroteia quando tivesse saudades dos pais, ou até saudades minhas se se lembrasse de mim depois daquele dia.
Ela olhou-me e deu-me um beijinho na face esquerda. Nesse momento chorei eu, com o amor que aquela criança atormentada ainda tinha para dar e pelo futuro incerto que a esperava.
A suposta tia da menina apareceu pouco depois, levando a menina dos meus braços violentamente.
-Esqueceste-te dos sapatos. - Disse eu sorrindo.
Ela correu para mim outra vez, agarrou-se ao meu pescoço abraçando-me profundamente, pegou nos sapatos e partiu.
Espero voltar a ver a menina dos caracóis dourados, talvez daqui a uns anos quando ela usar o 38 e puder andar com os meus sapatos.

Sabes o quanto me magoas?

Enquanto me olho ao espelho vejo apenas uma rapariga patética incapaz de aceitar a realidade do seu fracasso, da insignificância da sua existência, das memórias tão reduzidas que deixaria para trás se morresse, se simplesmente deixasse de viver, se deixasse levar pela corrente, se deixasse ir...
Há pouco disseste palavras horríveis. Aprofundaste o desapontamento que já sentia pelos erros que tinha cometido, falavas para mim enquanto eu distraidamente observava o ecrã do computador pousado nos teus joelhos. Falavas e eu respondia com monossílabos para que não percebesses que a minha voz tremia.
Eu estava nervosa, irritada, magoada, desiludida comigo e contigo por me magoares assim, sabes como sou sensível mas continuas a fazê-lo, fazes isto desde que me lembro.
Não consegues ver a minha cara, quando decidi contar-te coloquei-me estrategicamente atrás de ti para que não me olhasses.
O que mais me magoou de entre tudo o que disseste foi indirectamente teres afirmado que não consigo, que sou incapaz de fazer o que quero, de fazer o que quiser na vida, que estou condicionada pela limitação dos meus conhecimentos reduzidos. Lágrimas corriam nas minhas faces mas eu tentava que não te apercebesses delas, não queria que me visses chorar e pensasses que sou realmente patética e fraca.
Sim, sou orgulhosa, assim como tu o és.
Entre breves e sussurradas palavras disse-te que ia à casa-de-banho. Fechei a porta silenciosamente, tranquei-a, olhei-me ao espelho e chorei. Naquele momento de dor jurei que desistiria de Medicina, que me ia dedicar a algo mais fácil, a algo dentro das minhas capacidades limitadas, algo fácil para o qual não precisasse de me esforçar, claro que desisti logo desta ideia estapafúrdia mas naquele instante em que vi os meus olhos raiados de vermelho, com lágrimas a brotarem incessantemente decidi aproveitar-me daquele momento de confidência comigo própria e desisti, deixei-me ir, libertei-me de todas as pressões e tomei uma decisão falsa enganando-me a mim própria para sossegar por instantes a amargura que sentia...
Sim, também sou patética.
Deves ter-me ouvido chorar porque mais tarde, indirectamente tentaste compensar as palavras duras que me tinhas dito... Tentaste que eu te entendesse e entendi, não porque o que disseste depois era realmente o que sentias mas porque era melhor do que tudo o que tinhas dito antes, era mais fácil de ouvir, mais motivador, era a voz que eu precisava.
Não foi a primeira vez e decerto não será a última, entretanto vou aproveitando os felizes momentos em que choramos e rimos juntas, em que és simpática e me ajudas, te preocupas, não de uma forma agressiva como hoje, mas de uma forma carinhosa, mostrando-me que estás ali...
Somos tão diferentes, quem me dera ser um pouco mais como tu às vezes, ou não.