domingo, 24 de maio de 2009

Lágrimas derramadas numa folha de papel

Hoje o céu parece pintado de uma imensidão de tons de azul, as estrelas brilham com a intensidade de mil sóis, é uma paisagem digna da "Noite Estrelada" de Van Gogh.
Aqui, deitada, no meio da escuridão e do vazio da noite, observo o que me rodeia, sinto a brisa suave que me arrepia a pele, os aromas florais, o cheiro do rio, a lua que disfarçadamente se esconde nas nuvens e com ainda mais intensidade sinto-me só. Aqui, deitada, escrevo, preenchendo lentamente esta página em branco, manchando-a com as minhas lágrimas. Escrevo até as palavras deixarem de fluir, até que o meu coração pare de bater descompassadamente, sempre na iminência de parar definitivamente.
Sinto que não mereço sofrer desta maneira, que um gesto, uma palavra tua poderia ter evitado todo o meu desgosto, uma palavra antecipada, um olhar menos brilhante, menos fugaz e espontâneo. Porque me olhavas assim? Talvez porque sentias pena dos meus melodramas, confiança e certeza, certamente pueris aos teus olhos.

Os olhos secaram. Não. Não te farei sofrer como me fizeste, não te mostrarei a dor que apunhalaria o teu coração, chega o meu sofrimento.
Olho o céu novamente. A lua surge com o seu brilho de prata, e sorrio, e o brilho renovado dos meus olhos rapidamente ofusca as minhas lágrimas. Da melancolia anterior apenas resta esta última lágrima que percorre delicadamente a minha face, abrandando no rebordo do meu queixo, e caindo finalmente na folha escrita, onde a única palavra que se distingue no meio de borrões ilegíveis de tinta é "Esperança".

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A despedida

Este texto narra um acontecimento simples, algo verdadeiro. Não é uma história mas podia ser o começo de uma assim como tudo na vida. Espero que gostem.

*A minha mente desperta demasiado depressa para a realidade. Por quê acabar com algo tão bom? Poderia prolongar este beijo eternamente, mas seria diferente porque este será o último. Puxo-te para mim, quero um pouco mais de ti, quero uma recordação mais sóbria e real, gravarei eternamente a felicidade deste triste momento imutavelmente na minha memória.
Não te quero largar mas a mágoa que me assola e a realidade triste da despedida e da solidão petrificam-me quando as tuas mãos largam as minhas, a tua boca me abandona. Não me atrevo a abrir os olhos mas preciso de te ver uma última vez, esse teu olhar fulminante, tão triste agora que tens de partir, a tua boca delicada, que tão suavemente se molda aos meus lábios, o teu cabelo em desalinho.
Não queria chorar, mas os meus olhos atraiçoam-me e as lágrimas começam a correr, tu não falas, eu também não, nada mais que o silêncio nos rodeia.
Tento aproximar-me de ti mas os meus pés enraizaram-se no solo húmido da floresta e tu pareces já tão distante.
Tu olhas o chão e eu olho-te, não quero perder um segundo teu, uma inspiração, som, olhar disfarçado.
Murmuras o tão temido "Adeus", a tua voz treme e denuncia a tua dor. Porque é que tem de ser assim?
Viras-te lentamente, olhas para mim uma última vez com os olhos marejados de lágrimas e corres. Memorizo cada um dos teus movimentos, sei exactamente que caminho seguiste, contudo o meu corpo recusa-se a mover. É tarde demais. Quando a tua imagem distorcida pelas lágrimas que me turvam os olhos se mistura com os borrões de tinta do horizonte neste triste quadro pergunto-me se terá valido a pena sofrer. *

terça-feira, 19 de maio de 2009

Definição simplificada da minha pessoa

Quem sou eu?

Sou mais que uma simples rapariga, sou alguém diferente de todos os outros, com alguns magníficos dons e variados defeitos. Sou uma pensadora, alguém que não desiste de aprender, aprendo com a delicadeza de uma flor, o sorriso de uma criança, a ternura nos olhos sábios de um idoso. Vivo na linha ténue entre a loucura e a sabedoria, oscilando incontrolavelmente. Sonho, sonho muito, com a monotonia da vida, o amor, o mundo. Vivo cada momento ao máximo, ansiando por preencher o meu álbum de memórias, recordo o meu primeiro beijo, a doçura e ingenuidade patente, relembro a primeira vez que senti a erva húmida debaixo dos meus pés, quando me banhei nas águas doces de um rio, escrevi a minha primeira história. Lembro-me da minha última despedida breve, do último abraço, da última palavra, daquele cheiro nostálgico que assalta a minha cabeça quando recordo. Trago comigo todos aqueles que dão um rumo à minha vida, que permitem que esta jornada seja agradável e feliz, porque me completam, me unificam, apoiam, contrariam, que me oferecem um ombro onde chorar e que não temem mostrar as suas lágrimas, que ouvem atentamente a minha opinião e não necessitam de ocultar a sua.