domingo, 27 de março de 2011

"Esta hora que senti que apenas desapareceu enquanto falávamos, aquela hora ilusória, a noção de acelerar o tempo, de o controlarmos, mas no fundo sabermos que não é bem assim. Acabei de perder uma hora contigo, com a tua voz, com a sensação de te ter aqui. E agora? Posso nunca mais recuperá-la, não ter de volta esta sensação de conforto que me garantes ou toda esta aura de felicidade que os meus poros expelem repentinamente. Não sabemos como será o amanhã, porém sei que de momento o mais importante é concentrar-me nas horas, nas horas que temos, agora, não amanhã ou quando nos puderem devolver esta hora porque isso nunca vai acontecer. Ela foi-nos roubada, é algo irremediável agora e ninguém se responsabilizará por isso e pelo que ambos perdemos neste momento.
O facto de ser já demasiado tarde apesar de não o ser poderia ter-te afastado, mas não o fez, permaneceste aqui, comigo, numa companhia quase que silenciosa, sem o ser, mas eu sei que vais acabar por ir embora, vais sempre, e eu vou continuar aqui, a enfrentar as horas que ainda tenho até adormecer, até acordar, até te ver outra vez. Talvez me pudessem roubar todas essas horas sem que eu me apercebesse sequer, no entanto, os únicos momentos em que realmente o tempo me rouba o tempo é quando estás aqui, tempo estúpido que se usurpa a si próprio, sequestrando-te de mim.
Era tão mais fácil se quando chegássemos ao momento da nossa vida em que atingimos realmente a felicidade pudéssemos parar o tempo, deixar de viver e ficar enquanto quiséssemos ali, parados, a vivê-lo e revivê-lo, como se nada mais importasse porque a realidade é que nossa vida congelara na pura felicidade. Quando tudo aquilo fosse suficiente para preencher o vazio existencial de cada um e quiséssemos um pouco mais a vida retomaria o seu rumo, sem problemas, apenas com um pouco mais de tempo, mais algumas horas..."