domingo, 16 de agosto de 2009

Olhares

Uma nova cidade, um tempo diferente, novas caras com quem me cruzo ocasionalmente. Nos seus rostos reconheçoos das pessoas que me faltam. Admiro a sua despreocupação, a forma como não se fixam no que os rodeia, em tudo aquilo que não os engloba directamente, alheando-se do mundo, com a sua própria música, as suas conversas, os seus problemas e preocupações, desconectados da realidade mundana.
O meu olhar já se cruzou com uns olhos azuis, perscrutando a sua interminável profundidade, procurei na escuridão de uns olhos negros um lampejo curiosidade pela movimentação intermitente que os rodeia. Apenas encontrei um certo desdém devido a um olhar tão inquisidor da minha parte, uma indiferença quase que insultuosa como se não valesse a pena observar os outros pelo simples motivo de nunca os ter visto na vida.
Ao olhar o mundo podemos descobrir-nos a nós próprios, vemo-nos retratados como um pai de família que carrega a filha pequena nos ombros, um jovem casal apaixonado, até como um mendigo que humildemente pede um pouco de ajuda para poder continuar a sua vida pobre mas mais rica em conhecimento que a de muitas pessoas que não se fixam em nada.
É como ficar sem reacção ao observar um controverso Dali, ao ouvir uma bela composição de Mozart, ao ver uma cerejeira florir mesmo ao pé de nós e não dirijir um olhar a esta raridade e beleza pura da natureza.

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