terça-feira, 29 de junho de 2010
quote #6
"The heart is the body's strongest muscle. The brain has more cells in it than our galaxy has stars."
The Life Before Her Eyes
quinta-feira, 24 de junho de 2010
maybe
Estou tão feliz que tinha de partilhar isto.... Talvez, muito provavelmente, vou passar uma semana a Paris ainda nestas férias. Adoro aquela cidade, é o meu sonho. Quero imensamente repeti-la e estou ansiosa por ter a certeza de ir, de reviver aquele ambiente atarefado, respirar o ar artístico que toda ela emana, a moda, as pessoas, a língua, tudo...
E talvez desta vez seja uma visita mais independente, onde vou apenas aos sítios a que quero mesmo ir sem a necessidade de ver tudo o que é considerado importante porque já percorri tudo isso e quero viver o espírito genuíno parisiense.
the shoe's man
Eu tenho uma adoração incontonável pelo senhor Christian Louboutin. Não gosto muito desta nova colecção, em comparação com as precedentes, talvez porque o meu gosto recai mais nos básicos e noutro estilo que não o que ele adoptou nesta.
Estes são os meus predilectos...
Estes são os meus predilectos...
diane von furstenberg
Nas colecções mais recentes de Diane von Furstenberg gostei particularmente deste vestido da colecção Fall 2010 e do trench coat da Resort 2010.
ysl - cruise 2011 (preview)
A tentar actualizar-me um pouco em relação às novas tendências propostas pelas grandes casas seleccionei alguns looks deste desfile. Enjoy.
quote #5
“Nada é mais belo do que um corpo nu. A roupa mais bela que pode vestir uma mulher são os braços do homem que ela ama. Mas, para aquelas que não tiveram a sorte de encontrar esta felicidade, eu estou lá.”
Yves St. Laurent
terça-feira, 22 de junho de 2010
;
Os elementos do sexo masculino que não me atraem têm tendência a sentir-se atraídos, não percebo como nem porquê, nem de onde vem o fundamento para tal sentimento.
Assim sendo têm a (in)feliz ideia de fazer perguntas embaraçosas que não quero responder, colocam-me em situações delicadas em que a minha resposta independentemente de qual seja vai ser mal interpretada, fazem perguntas de forma sublime mas cuja resposta só pode ser directa e depois como não colocam os assuntos de forma honesta, sincera e objectiva é (quase) impossível uma rejeição completa porque eles não estão propriamente a "fazer-se".
O que despoletou esta revolta foi a seguinte conclusão: a minha forma de contornar isto é usufruindo por instantes do papel de casamenteira.
Desse modo dou a entender que outra pessoa está interessada e digo a essa pessoa que a outra está interessada e acaba por resultar bem para os dois lados, digamos que ainda sou demasiado jovem para lidar com consequências por estes actos porque as próprias relações não são sérias o suficiente para alguém sair magoado...
Acho que deveria arranjar outro método, mas agir como uma grande cabra ou ser demasiadamente directa apenas seria pior para mim, portanto fico-me com este remédio para os meus problemas.
Assim sendo têm a (in)feliz ideia de fazer perguntas embaraçosas que não quero responder, colocam-me em situações delicadas em que a minha resposta independentemente de qual seja vai ser mal interpretada, fazem perguntas de forma sublime mas cuja resposta só pode ser directa e depois como não colocam os assuntos de forma honesta, sincera e objectiva é (quase) impossível uma rejeição completa porque eles não estão propriamente a "fazer-se".
O que despoletou esta revolta foi a seguinte conclusão: a minha forma de contornar isto é usufruindo por instantes do papel de casamenteira.
Desse modo dou a entender que outra pessoa está interessada e digo a essa pessoa que a outra está interessada e acaba por resultar bem para os dois lados, digamos que ainda sou demasiado jovem para lidar com consequências por estes actos porque as próprias relações não são sérias o suficiente para alguém sair magoado...
Acho que deveria arranjar outro método, mas agir como uma grande cabra ou ser demasiadamente directa apenas seria pior para mim, portanto fico-me com este remédio para os meus problemas.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
quote #3
"Olhei para 15 pares de olhos hoje. Mas o meu dia só começa ao olhar para os teus."
"Na tua pele"
E se correr mal? E se eu ficar destroçada, sem vontade de sair de casa ou de ficar? Se ficar num estado lastimável o suficiente para não me importar com o local onde estou porque não há nenhum lugar para mim? E se toda a situação me roubar a vontade de sorrir, da mesma forma que me tirou a felicidade? E se eu ficar de coração partido, magoada, ferida, sabendo que não posso culpar outra pessoa que não eu?
E se não for assim? E se o sorriso parvo com que fico quando oiço a voz dele, ou até quando a imagino, ou quando o vejo e falo com ele, se tornar algo quase que permanente? E se eu conseguir algo mais do que aquilo que temos? E se não conseguir evitar que o meu coração acelere? E se a vida apenas me fizer sorrir? E se eu puder ser ainda mais feliz depois de arriscar?
Como já me disseram as probabilidades são iguais, pode correr bem ou pode não correr tão bem. E eu acho que os 50% deviam ser suficientes para me decidir a arriscar a "amar", mas a restante probabilidade assusta-me... Ou talvez não, porque está calor, é verão e pensando bem não tenho nada a perder além de que o verão é a melhor cura para a depressão porque cada dia é um novo começo e podemos fazer dele o que quisermos, sem limitações, sem nada, apenas nós...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
memórias de uma gueixa
Já tinha lido o livro e agora estou a lê-lo outra vez, algo que não faço muito frequentemente. Vi a adaptação ao cinema no outro dia e é absolutamente lindo, é a transfiguração real e palpável de algo que eu projectei mentalmente ao ler o livro. Claro que os pormenores não são exactamente os mesmos mas está tão fiel ao livro quanto é possível.
A actriz principal é linda, e o efeito que a cor dos olhos tem no aspecto geral da personagem é arrebatador, apesar de não ser a cor natural dos olhos da actriz Ziyi Zhang.
Adoro simplesmente a cultura japanosa, os rituais, a simbologia, as noções de honra, coragem, lealdade, as leis estipuladas e transmitidas pelas famílias entre as gerações.
Adoro a arte das gueixas, a forma sublime com que entretinham, os gestos suaves, o andar, a forma decidida de olhar de quem sabe o efeito que causa sem nunca ser um olhar presunçoso, a capacidade de encantar um homem e o satisfazer com um vislumbre do seu pulso ao lentamente deitar chá numa taça, a forma recatada como encantam sem nunca se humilharem como muita gente faz hoje em dia...
Aconselho o livro e o filme a toda a gente que partilhe das minhas ideias e do meu fascínio por este mundo oculto, que se perdeu muito provavelmente entre os anos, as guerras, e as mudanças de mentalidade...
Se virem/lerem digam-me o que acharam...
A actriz principal é linda, e o efeito que a cor dos olhos tem no aspecto geral da personagem é arrebatador, apesar de não ser a cor natural dos olhos da actriz Ziyi Zhang.
Adoro simplesmente a cultura japanosa, os rituais, a simbologia, as noções de honra, coragem, lealdade, as leis estipuladas e transmitidas pelas famílias entre as gerações.
Adoro a arte das gueixas, a forma sublime com que entretinham, os gestos suaves, o andar, a forma decidida de olhar de quem sabe o efeito que causa sem nunca ser um olhar presunçoso, a capacidade de encantar um homem e o satisfazer com um vislumbre do seu pulso ao lentamente deitar chá numa taça, a forma recatada como encantam sem nunca se humilharem como muita gente faz hoje em dia...
Aconselho o livro e o filme a toda a gente que partilhe das minhas ideias e do meu fascínio por este mundo oculto, que se perdeu muito provavelmente entre os anos, as guerras, e as mudanças de mentalidade...
Se virem/lerem digam-me o que acharam...
estou de férias.
estou à espera que o sol chegue finalmente e que venha para ficar.
estou à espera de me habituar à liberdade que tão repentinamente recuperei.
estou à espera de sorrir por tudo e por nada.
estou à espera de ver muitos crepúsculos, cada vez mais tardios.
estou à espera de me apaixonar novamente pela mesma pessoa.
estou à espera de voltar a ver as estrelas cadentes.
estou à espera de sentir novamente o cheiro a maresia.
estou à espera de ser feliz.
estou à espera de um verão que ainda não comecei a viver.
estou à espera de o ver novamente...
sábado, 12 de junho de 2010
day 13/14/15/16
Day 13 - A song from your favorite album
somewhere only we know - keane (from "Hopes and Fears")
Day 14 - A song that you listen to when you’re angry
i hate everything about you - three days grace
Day 15 - A song that you listen to when you’re happy
don't worry, be happy - bobby mcferrin
Day 16 - A song that you listen to when you’re sad
when you're mind is made up - once soundtrack
somewhere only we know - keane (from "Hopes and Fears")
Day 14 - A song that you listen to when you’re angry
i hate everything about you - three days grace
Day 15 - A song that you listen to when you’re happy
don't worry, be happy - bobby mcferrin
Day 16 - A song that you listen to when you’re sad
when you're mind is made up - once soundtrack
terça-feira, 8 de junho de 2010
quote #2
Rhett Butler: Would you satisfy my curiosity on a point which has bothered me for some time?
Scarlett: Well, what is it? Be quick!
Rhett Butler: Tell me, Scarlett, do you never shrink from marrying men you don't love?
Scarlett: How did you ever get out of jail? Why didn't they hang you?
Scarlett: Well, what is it? Be quick!
Rhett Butler: Tell me, Scarlett, do you never shrink from marrying men you don't love?
Scarlett: How did you ever get out of jail? Why didn't they hang you?
"Gone With the Wind"
quote #1
I can't go all my life waiting to catch you between husbands
Rhett Butler in Gone with the Wind
too much water
Chove. Chove imenso. Gotas imensas que cobrem tudo com um brilho metálico da água, reflectindo o azul celeste e também a podridão das ruas, o cinzento que povoa o que a rodeia.
Não consegue correr para fugir a tudo isto, mas se o pudesse fá-lo-ia. Arrasta os pés pelo chão coberto de folhas esmagadas pelo milhão de pés que antes dela tomara aquele caminho.
Sente a roupa cada vez mais pesada, os seus passos cada vez mais curtos e lentos, um ritmo mais lento, uma dificuldade de movimentos, provocada pela chuva incessante.
Tinha a visão reduzida a uns metros à sua frente, e mesmo assim não havia nada que ansiasse ver, muito menos alguém.
Esforçava-se por apagar as suas memórias por instantes, para que pudesse deslizar na leveza do seu próprio ser, sem arrependimentos e sem nada, vazia apenas por segundos, ou até minutos, mas oca para conseguir encarar o reflexo que a água continuava a reflectir e que ela apagava violentamente agitando o tapete de água que se estendia à sua frente.
Alguém lhe abriu uma porta, uma porta que ela deveria conhecer, mas que não reconhece.
Entra numa divisão que reconhece como um sítio onde guardou as suas memórias mais escondidas mas continua sem saber onde está.
Atira-se para a cama ainda desfeita, aninhando-se em si própria, com a cabeça apoiada em duas grandes almofadas. Ainda consegue ouvir a chuva e parece-lhe tão nítida, sente que também chove através do tecto sólido acima da sua cabeça. Porém era uma chuva mais fria, mais pesada, que a arrasta para o fundo. Recolhe-se nos seus pensamentos e nas memórias que permite a si própria recordar.
Chora. Chora imenso. Lágrimas que cobrem toda a sua face com um brilho metálico e aquoso, reflectindo o branco das paredes e a podridão da sua própria pessoa.
Inunda toda a divisão com as suas lágrimas e adormece na divisão fria e molhada, mas pelo menos enquanto sonhar tudo aquilo vai desaparecer, toda a água excessiva, talvez encontre finalmente um equilíbrio, no entanto antes de entrar no transe do sono recorda que não pode mudar o descontrolo do seu canal lacrimal, muito menos a sua sensibilidade excessiva, e de que serviria isso?...
Não consegue correr para fugir a tudo isto, mas se o pudesse fá-lo-ia. Arrasta os pés pelo chão coberto de folhas esmagadas pelo milhão de pés que antes dela tomara aquele caminho.
Sente a roupa cada vez mais pesada, os seus passos cada vez mais curtos e lentos, um ritmo mais lento, uma dificuldade de movimentos, provocada pela chuva incessante.
Tinha a visão reduzida a uns metros à sua frente, e mesmo assim não havia nada que ansiasse ver, muito menos alguém.
Esforçava-se por apagar as suas memórias por instantes, para que pudesse deslizar na leveza do seu próprio ser, sem arrependimentos e sem nada, vazia apenas por segundos, ou até minutos, mas oca para conseguir encarar o reflexo que a água continuava a reflectir e que ela apagava violentamente agitando o tapete de água que se estendia à sua frente.
Alguém lhe abriu uma porta, uma porta que ela deveria conhecer, mas que não reconhece.
Entra numa divisão que reconhece como um sítio onde guardou as suas memórias mais escondidas mas continua sem saber onde está.
Atira-se para a cama ainda desfeita, aninhando-se em si própria, com a cabeça apoiada em duas grandes almofadas. Ainda consegue ouvir a chuva e parece-lhe tão nítida, sente que também chove através do tecto sólido acima da sua cabeça. Porém era uma chuva mais fria, mais pesada, que a arrasta para o fundo. Recolhe-se nos seus pensamentos e nas memórias que permite a si própria recordar.
Chora. Chora imenso. Lágrimas que cobrem toda a sua face com um brilho metálico e aquoso, reflectindo o branco das paredes e a podridão da sua própria pessoa.
Inunda toda a divisão com as suas lágrimas e adormece na divisão fria e molhada, mas pelo menos enquanto sonhar tudo aquilo vai desaparecer, toda a água excessiva, talvez encontre finalmente um equilíbrio, no entanto antes de entrar no transe do sono recorda que não pode mudar o descontrolo do seu canal lacrimal, muito menos a sua sensibilidade excessiva, e de que serviria isso?...
quinta-feira, 3 de junho de 2010
30.05.2010
A água cai algures, numa cascata próxima, ou talvez seja o mar a tentar vencer a falésia, num esforço constante, extenuante que vai levar a rocha a ceder.
Não há ninguém à volta, as pequenas ervas, que surgem de vez em quando entre os intermináveis bancos de areia que começam a avistar-se, tremem ligeiramente com a brisa fria que corta o ar quente que ainda se sustinha, num suspiro da terra, perdido agora, entre a luz da lua e o frio do mar.
Talvez o som da água fosse o do mar, da água salgada a tentar dominar a terra, a tentar engoli-la, arrependendo-se e obrigando-se a si própria a recuar.
Não se distingue facilmente a linha do horizonte onde acaba o mar e começa o céu. Ambos os azuis se misturam num jogo de sombras, ambos ligeiramente iluminados, por estrelas, por luzes das embarcações piscatórias dos senhores com a cara marcada pelo sol e pelo sal, tentando a sua sorte num mar mais calmo, com um vento mais fresco, com uma luz menos forte e quente.
A areia está gelada. Seca, granulada, fina. Avançando um pouco mais em direcção ao manto azul, não sabendo se se trata do céu ou do mar, ela torna-se húmida, movediça, mais quente. Mais um passo… água. Sal. A maresia pura, o odor do mar, da água salgada. À medida que se levanta um pé eleva-se areia, que entre a água que agora atinge o joelho executa a sua dança submarina, seguindo as breves correntes geradas pelo movimento da água, assemelhando-se aos grãos transportados pelo vento, percorrendo a praia, enchendo o ar com o brilho dourado da areia. Por vezes cegando temporariamente os desafortunados que se lançavam num campo de batalha sem o saberem, sujeitos às forças da terra e às do ar.
Não se vê lua. Desapareceu algures deste lado do planeta, hoje ilumina outro pedacinho de praia, enquanto nesta reina uma escuridão marchetada de pequenos brilhos e luzes, guiando os que perderam o seu caminho para o lugar onde devem estar.
É quase impossível não reparar no choque térmico que a água causa no corpo, na diferença de temperaturas entre a pele quente e o mar frio, á improvável não sentir cada centímetro de pele arrepiar-se, numa sucessão instantânea e ascendente, pés, pernas, ventre, peito, braços, faces…
Num impulso repentino, uma ligeira força exercida nas pontas dos pés, contraem-se os gémeos, dobram-se os joelhos, inclina-se ligeiramente o corpo para a frente, e num salto que não excede os 5 centímetros, eleva-se ligeiramente acima do nível da água, imergindo inteiramente na escuridão.
Abrindo os olhos, magoados pelo sal, imagina as sombras que gostava de ter ali, as faces que queria descobrir entre a imperceptibilidade do lusco-fusco marinho e nocturno. As respostas não são conclusivas, mas a dúvida diminui.
O corpo parece acostumado àquela temperatura que agora parece quente, sabe que se permanecer ali durante muito tempo a sua cabeça vai começar a latejar, a respiração vai tornar-se ofegante e o corpo tremerá involuntariamente, numa resposta hormonal à falta de equilíbrio térmico.
Num outro impulso semelhante emerge, sente agora o verdadeiro frio, o do vento a percorrer as suas faces molhadas, a recordarem-lhe que a sensação de calor é falsa, agradável mas irreal.
Regressa lentamente à zona onde a areia se cola aos seus pés molhados, às dunas irregulares, e senta-se na areia da praia, tremendo cada vez mais, arrepiando-se cada vez mais, de modo que até os seus dentes chocam uns nos outros involuntariamente.
Tenta distinguir as marcas salgadas e húmidas que deixou na areia. As pegadas que confirmam a sua passagem por aquele espaço começam a ser apagadas, os grãos são mais uma vez carregados pelo vento, a água humedece mais uma vez a areia, disfarçando lentamente aquelas suaves depressões, até que apenas se distingam ligeiras riscas que denotam a presença do mar, de mais ninguém.
Recolhendo-se num abraço apenas seu foca novamente a sua atenção no som, na jornada contínua da água, nas suas regressões e progressões, na sua capacidade de criar novos caminhos, de se adaptar às adversidades do caminho, de atingir sempre a areia, de apagar sempre as pegadas por mais profundas que sejam.
Não há ninguém à volta, as pequenas ervas, que surgem de vez em quando entre os intermináveis bancos de areia que começam a avistar-se, tremem ligeiramente com a brisa fria que corta o ar quente que ainda se sustinha, num suspiro da terra, perdido agora, entre a luz da lua e o frio do mar.
Talvez o som da água fosse o do mar, da água salgada a tentar dominar a terra, a tentar engoli-la, arrependendo-se e obrigando-se a si própria a recuar.
Não se distingue facilmente a linha do horizonte onde acaba o mar e começa o céu. Ambos os azuis se misturam num jogo de sombras, ambos ligeiramente iluminados, por estrelas, por luzes das embarcações piscatórias dos senhores com a cara marcada pelo sol e pelo sal, tentando a sua sorte num mar mais calmo, com um vento mais fresco, com uma luz menos forte e quente.
A areia está gelada. Seca, granulada, fina. Avançando um pouco mais em direcção ao manto azul, não sabendo se se trata do céu ou do mar, ela torna-se húmida, movediça, mais quente. Mais um passo… água. Sal. A maresia pura, o odor do mar, da água salgada. À medida que se levanta um pé eleva-se areia, que entre a água que agora atinge o joelho executa a sua dança submarina, seguindo as breves correntes geradas pelo movimento da água, assemelhando-se aos grãos transportados pelo vento, percorrendo a praia, enchendo o ar com o brilho dourado da areia. Por vezes cegando temporariamente os desafortunados que se lançavam num campo de batalha sem o saberem, sujeitos às forças da terra e às do ar.
Não se vê lua. Desapareceu algures deste lado do planeta, hoje ilumina outro pedacinho de praia, enquanto nesta reina uma escuridão marchetada de pequenos brilhos e luzes, guiando os que perderam o seu caminho para o lugar onde devem estar.
É quase impossível não reparar no choque térmico que a água causa no corpo, na diferença de temperaturas entre a pele quente e o mar frio, á improvável não sentir cada centímetro de pele arrepiar-se, numa sucessão instantânea e ascendente, pés, pernas, ventre, peito, braços, faces…
Num impulso repentino, uma ligeira força exercida nas pontas dos pés, contraem-se os gémeos, dobram-se os joelhos, inclina-se ligeiramente o corpo para a frente, e num salto que não excede os 5 centímetros, eleva-se ligeiramente acima do nível da água, imergindo inteiramente na escuridão.
Abrindo os olhos, magoados pelo sal, imagina as sombras que gostava de ter ali, as faces que queria descobrir entre a imperceptibilidade do lusco-fusco marinho e nocturno. As respostas não são conclusivas, mas a dúvida diminui.
O corpo parece acostumado àquela temperatura que agora parece quente, sabe que se permanecer ali durante muito tempo a sua cabeça vai começar a latejar, a respiração vai tornar-se ofegante e o corpo tremerá involuntariamente, numa resposta hormonal à falta de equilíbrio térmico.
Num outro impulso semelhante emerge, sente agora o verdadeiro frio, o do vento a percorrer as suas faces molhadas, a recordarem-lhe que a sensação de calor é falsa, agradável mas irreal.
Regressa lentamente à zona onde a areia se cola aos seus pés molhados, às dunas irregulares, e senta-se na areia da praia, tremendo cada vez mais, arrepiando-se cada vez mais, de modo que até os seus dentes chocam uns nos outros involuntariamente.
Tenta distinguir as marcas salgadas e húmidas que deixou na areia. As pegadas que confirmam a sua passagem por aquele espaço começam a ser apagadas, os grãos são mais uma vez carregados pelo vento, a água humedece mais uma vez a areia, disfarçando lentamente aquelas suaves depressões, até que apenas se distingam ligeiras riscas que denotam a presença do mar, de mais ninguém.
Recolhendo-se num abraço apenas seu foca novamente a sua atenção no som, na jornada contínua da água, nas suas regressões e progressões, na sua capacidade de criar novos caminhos, de se adaptar às adversidades do caminho, de atingir sempre a areia, de apagar sempre as pegadas por mais profundas que sejam.
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