Gostava de poder dizer que te vejo, mas na realidade não. Gostava de te considerar transparente para mim mas continuas um enigma. Não posso dizer que sejas um reflexo de nenhuma outra pessoa que eu conheça, és apenas tu.
Portanto, não és um reflexo nem és transparente. Onde nos deixa isso? Talvez no meio, no intermédio, na fase do lusco-fusco em que a realidade se confunde com a imaginação, e aquilo que parece demasiado absurdo o consideramos erradamente falso. És portanto um puzzle, algo mais como um espelho ou um vidro partido em mil pedaços, vejo os pedaços mas não faço a menor ideia de como os devo unir, além de temrer magoar-me através desse processo.
Por vezes falas e parece que vejo algo mais, uma leve película retirada de todo esse teu eu, uma parede a menos, menos uma defesa. Instantes depois ela regressou e retomas o teu lugar estagnado, e eu recupero o desígnio de nunca ver através de ti, nem de nunca te ver a ti.
No fundo preferia que fosses semi-transparente comigo, como se te observasse através do fundo de um copo de água, distorcido mas mesmo assim reconhecível. Queria um pedaço de ti e tu não pareces disposto a dar-me isso. Queria que estivesses aqui, mesmo aqui, que fizesses notar a tua presença através de pormenores e que não parasses apenas aqui.
Gostava, mas a realidade é que tu ainda não deste oportunidade de recolher os teus fragmentos para que te pudesse compreender, e ao mesmo tempo roubaste-me os pequenos cristais, semelhantes a grãos de areia, necessários para garantir a coesão do teu reflexo.
Quero mais do que um vislumbre rápido. Apenas tens de me permitir correr o risco de me cortar nos fragmentos da tua imagem.
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