sábado, 3 de outubro de 2009

Estou só. A minha companhia constante é o silêncio, as palavras que ecoam na minha mente, os meus pés a arrastarem no solo enquanto me movimento sem rumo, cruzando-me durante estes meus percursos com vultos, sombras, talvez sejam pessoas, mas os seus rostos nada significam para mim, são pessoas tão diferentes de mim, tão superficiais, que não conseguiriam perceber o vazio que agora me acompanha.
Ela partiu. Ainda não percebi se o fez voluntariamente, talvez nem tenha sido a culpada de toda esta situação, mas também não a culpo a ela, ela está melhor assim.
Perdi as gargalhadas que partilhávamos furtivamente entre duas aulas, as nossas conversas que para tanta gente seriam indecifráveis, as verdades que apenas as duas conhecíamos e éramos capazes de compreender. As palavras fugazes que trocamos ao telefone apenas servem para atenuar por instantes a distância que nos separa e me fere terrivelmente, para depois de se ouvir o adeus a atravessar todos estes quilómetros seguido apenas do silêncio do fim da chamada, caio na dura realidade de que não estás mais aqui para me abraçar quando preciso desesperadamente de um consolo silencioso e caloroso, já não terei as nossas situações parvas e hilariantes que preenchiam os meus dias tornando-os completos, felizes, únicos e impossíveis de repetir...
O caminho para a cerejeira está tão inacessível como a possibilidade de te abraçar a uma quinta-feira de manhã, gostava de poder sentar-me a observar os seus ramos despidos. Acho que tal como eu está à tua espera para florir, para voltarmos a viver esse magnífico momento de pura beleza e magia, quando descobrimos aquela árvore delicada naquele canto esquecido que decidimos explorar.
Como gostava de te ter aqui neste instante, ouvir-te a rir com as tuas gargalhadas contagiantes, rir contigo até chorarmos e não recordarmos a razão pela qual tudo isto começou.
Agora não estás tão longe, talvez a uns meros 50 minutos de distância mas permanece a nostalgia de não te ter comigo 8 dias da semana, de me ser impossível atravessar a distância que nos separa porque seria um disparate percorrê-la apenas para te ver durante 5 segundos e regressar à minha vida medíocre.
Saudade. É o sentimento que mais me persegue, mas talvez a questão não esteja no espaço que se intrepõe entre nós mas na parte de mim que levaste contigo quando partiste sem me avisar.

"A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam."
Virgílio Ferreira

1 comentário:

  1. eu nao consigo escrever assim. Tu escreves muito bem mesmo. Cuidado com as descriçoes nao vão elas tornar-se chatas. Tirando isso nem uma critica a fazer. Os teus textos são do mais lindo que há. E recomendo-os xD
    beijinho

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