quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Tentativa de crónica

Não me recordo da última vez que alguém conseguiu definir realmente a felicidade, talvez nunca o tenham feito, pois é difícil descrever as coisas que importam na vida. Mas, de onde vem? Porque surge inesperadamente em nós e desaparece dolorosamente deixando apenas a memória da sua existência até um novo encontro?
A felicidade é constantemente procurada pelas pessoas, tentam encontrá-la sob formas absurdas. Há quem pense consegui-la através de ideias materialistas e de ostentação, porém tudo isto é uma falsa felicidade. Se todas essas pessoas fossem despojadas de todos os seus bens, sentir-se-iam vazios como sempre o haviam sido, porque a felicidade reside na beleza simples da vida e não no número de dígitos que compõe a nossa conta bancária.
Eu sou feliz mesmo quando não o sou, pois tenho as memórias de melhores momentos em que tive vontade de rir, em que chorei porque sorrir não era suficiente, em que reencontrei a criança em mim porque só com uma alma de criança se pode ser feliz.
A felicidade é imutável?
Na sociedade em que vivemos actualmente há poucas pessoas que podem dizer-se felizes: as crianças, na ingenuidade das suas questões intermináveis, nas gargalhadas sonoras, na vivacidade e vontade de conhecer o mundo. Nos jovens vejo a gradual perda da infância, a procura pela sua personalidade, os dramas ilógicos, as incertezas, sentindo-se muitas vezes perdidos, incompreendidos. Criam amizades, riem de banalidades infantis, erram, sofrem enquanto lutam para encontrar o seu caminho e se encontrarem a si próprios. Em adultos, os sonhos perdem-se na sua maioria, ganha-se uma perspectiva mais realista da via, porém mais pessimista. Lutam pelo seu lugar neste mundo, por ficarem imortalizados pelos seus feitos na memória dos outros. Erram mais, vivem mais, magoam-se, vivem os seus melhores e piores momentos. Realizam-se (ou não), afastam-se por vezes da felicidade, esquecem-se que ela reside apenas em nós e que só temos de a encontrar. Vivem paixões fortuitas; formam família; partilham a sua felicidade com os outros e, ao atingirem a velhice, esperam ter feito tudo o que puderam para serem felizes; arrependem-se de coisas que fizeram e de outras que podiam ter feito, sabendo que os erros fazem parte do percurso; relembram momentos em que também eles foram crianças e procuravam conhecer o mundo, jovens procurando conhecer-se a si próprios, adultos a viverem e aproveitarem as oportunidades que a vida lhes deu... Têm a hipótese de reviver tudo através das suas memórias , reencontrando a felicidade nelas...
Tudo isto é dificultado pela nossa sociedade materialista, consumista e individualista, contudo como ser sociável que o Homem é, precisa de gente durante a sua vida, para o acompanhar, crescer viver. Alexandre Dumas disse que "o mais feliz dos felizes é o que faz os outros felizes". Nós precisamos dos outros assim como eles de nós. Por vezes, as memórias mais importantes giram em torno de pessoas que fizeram parte das nossas vidas por breves e indeléveis instantes, uma gargalhada é muito mais bela quando partilhada com os outros.
E eu, sou feliz?
Sou, sou uma pessoa feliz, completa. Sou jovem, vivi pouco mas o suficiente para experimentar a perda, a solidão, os dramas exagerados característicos da idade, mas tudo isto me encaminha para a felicidade, porque é impossível sentir-se feliz sem nunca ter conhecido a dor e após lágrimas vem sempre um sorriso.
Na minha memória tenho várias pessoas, algumas que nunca mais verei na vida, cujos nomes não recordo ou nunca cheguei a saber mas que me marcaram com as suas palavras e gestos, situações que me recordam o quão feliz sou e posso ser.
Quando se sentirem sós, tristes, procurem observar o mundo belo que vos rodeia, alheem-se da realidade em que vivem (tão dura por vezes), observem o infinito azul do céu, olhem as belíssimas estrelas que iluminam a escuridão nocturna e se mesmo assim ainda se sentirem sós, lembrem-se que aqueles de quem gostam e que realmente importam, olham as mesmas estrelas, como me recordou uma amiga quando também eu me havia perdido.

"A felicidade raras vezes está ausente. Nós é que não damos pela sua presença." Maeterlinck

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