Uma suave melodia na aparelhagem que há pouco tempo mudara de lugar, um ritmo acelerado, palavras proferidas com a mesma intensidade que a batida ritmada do seu coração, uma escuridão quase completa, uma luz difusa a tentar espalhar-se por toda a divisão, incapaz de se propagar e de enfrentar a totalidade da obscuridade em que tudo o resto se envolve, uma ausência de luz, agradável, penetrante, que permite a alma regressar do mais profundo canto da mente para o exterior protegido pela escuridão.
Não sei o que pensar, não sei o que dizer. Os vários rostos que me observam desde a parede, com a sua beleza lendária, o seu carisma único, incomparável, os seus sorrisos, o seu charme natural, a sua facilidade de encantar. E aqui estou eu, num nível abaixo, na tentativa de marcar ligeiramente alguém ao longo da minha vida, com a minha personalidade genuína, nada equiparável às várias encarnadas por todas estas pessoas que ouvem as minhas lamúrias diárias, presenciam as minhas vitórias.
Suspiro de cada vez que observo as diferenças entre as noções de amor de ontem e de hoje, a honra que se perdeu pelo meio, o sentimento ardente perdido algures entre os anos, entre a evolução da espécie, ou neste caso, regressão.
A sociedade parou. Os abraços apertados, os amores loucos e destemidos, a falta de facilidades que nos facilitem a tarefa de “amar” estão lentamente a roubar-nos aquilo que é genuíno e é isso que me falta, um bocado dessa genuinidade, desses pormenores que me fazem suspirar e me prendem ao ecrã indefinidamente à espera para saber o que é que o vento levou, qual é o pequeno-almoço no Tiffany’s ou até porque é que Paris delira, e por instantes imagino a felicidade desses dias, desses momentos que ainda espero presenciar e viver, o amor, não sei se as pessoas ainda amam assim, eu pelo menos ainda não tive essa oportunidade, mas estou à procura dela…
Estou à espera do momento em que alguém diga que me ama e que eu seja capaz de retribuir calorosamente, com um sorriso ardente e deleitado, verdadeiramente, com a paixão a fluir por todos os meus poros, segura num abraço forte que não me quer largar e que eu não quero largar.
Esse toque, por fugazes momentos e seria suficiente, uma memória, uma palavra suspensa no ar e a pessoa certa a quem a dizer de volta.
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