À volta dela tudo é confusão, as pessoas movimentam-se rapidamente aliciadas pela euforia, a música torna praticamente impossível ouvir alguém lhe tenta dizer algo, as cores garridas prendem o seu olhar, assim como os diversos divertimentos característicos de feiras populares...
Ela tenta abstrair-se de todo este ambiente, perscrutando tudo com olhar, procurando aquela pessoa tão conhecida nos imensos rostos que a rodeiam, procurando a energia tão característica daquela pessoa que lhe faz tanta falta...
Já não a vê há um mês. Não. Ainda só passaram duas semanas desde que se viram pela última vez, mas o tempo parece passar cada vez mais devagar, separando-as por ainda mais tempo, parece que entre cada fim-de-semana não estão apenas 5 dias, mas 10 ou 15 dias, imenso tempo sem a ver, muito mais do que aquele que ela consegue suportar sem sentir a sua falta...
Procura no meio do ambiente de circo, e finalmente vê. A rapariga com cabelo arrapazado, com uma atitude incrivelmente despreocupada. Olham-se por instantes e percorrem a correr os metros que as separam. Inicialmente parece-lhe difícil mover-se mas em menos de um segundo já estão juntas, num abraço apertado, sentido...
Por mais que queira, por mais felicidade que ela sinta, não consegue evitar. Toda a saudade contida, todas as conversas breves ao telefone com despedidas repentinas, tudo isso culmina neste maravilhoso momento.
Ela sente-se ela. Encontra-se naquele abraço e chora. Chora...
sábado, 31 de outubro de 2009
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Chorar...
Houve uns dias em que decidi procurar umas citações de filósofos e escritores "famosos", desconhecidos para muitíssima gente, e encontrei uma que particularmente me interessou:
"E se não choras, de que costumas chorar?"
Eu sou uma chorona autentica e choro imenso quando estou sozinha, sou muito frágil apesar de às vezes não parecer, muitas vezes escondo a minha fragilidade com um sorriso para que as pessoas que me magoaram e magoam não se apercebam do mal que me fazem...
E esta frase levou-me a pensar como é que as pessoas que não são assim tão sentimentais como eu reagem às coisas, como é que vivem se não expressam praticamente aquilo que sentem, será que choram à noite, ou simplesmente se afastam completamente do mundo sem ninguém reparar limitando-se a uma existência elementar, baseada em relacionamentos ocasionais e amizades praticamente falsas, para não terem de mostrar o seu verdadeiro eu?
Decerto que há pessoas que simplesmente não se sentem à vontade de contar aos outros aquilo que se passa na sua vida, eu tenho necessidade de desabafar, tenho os meus amigos que estão dispostos a ouvir-me e a ver-me chorar muitas vezes, a ver-me chorar e esperar em silêncio que as lágrimas sequem, mesmo que eu não profira uma palavra e que eles simplesmente estejam ali, a ver-me naquele momento de fraqueza sinto-me protegida, sinto que alguém se preocupa comigo, alguém abdica do seu tempo para esperar por um sorriso meu.
Mas voltando à frase, a minha forma de a interpretar é muito simples, se tu não choras habitualmente, ou se não choras de todo, o que é que te magoaria o suficiente para te levar a chorar? Uma pessoa aparentemente inatingível, inquebrável, insuperável, porque é que chora? Será que chora quando já ninguém olha?
O que te faz chorar a ti?
"E se não choras, de que costumas chorar?"
Eu sou uma chorona autentica e choro imenso quando estou sozinha, sou muito frágil apesar de às vezes não parecer, muitas vezes escondo a minha fragilidade com um sorriso para que as pessoas que me magoaram e magoam não se apercebam do mal que me fazem...
E esta frase levou-me a pensar como é que as pessoas que não são assim tão sentimentais como eu reagem às coisas, como é que vivem se não expressam praticamente aquilo que sentem, será que choram à noite, ou simplesmente se afastam completamente do mundo sem ninguém reparar limitando-se a uma existência elementar, baseada em relacionamentos ocasionais e amizades praticamente falsas, para não terem de mostrar o seu verdadeiro eu?
Decerto que há pessoas que simplesmente não se sentem à vontade de contar aos outros aquilo que se passa na sua vida, eu tenho necessidade de desabafar, tenho os meus amigos que estão dispostos a ouvir-me e a ver-me chorar muitas vezes, a ver-me chorar e esperar em silêncio que as lágrimas sequem, mesmo que eu não profira uma palavra e que eles simplesmente estejam ali, a ver-me naquele momento de fraqueza sinto-me protegida, sinto que alguém se preocupa comigo, alguém abdica do seu tempo para esperar por um sorriso meu.
Mas voltando à frase, a minha forma de a interpretar é muito simples, se tu não choras habitualmente, ou se não choras de todo, o que é que te magoaria o suficiente para te levar a chorar? Uma pessoa aparentemente inatingível, inquebrável, insuperável, porque é que chora? Será que chora quando já ninguém olha?
O que te faz chorar a ti?
terça-feira, 27 de outubro de 2009
3 meses, 20 dias e 49 segundos
Porque não choro? O que me leva a sorrir?
Os meus olhos estão secos, não tenho motivos para chorar, mas será isso bom ou mau, será que apenas não choro porque não estou a viver? A razão para não experimentar essa sensação e necessidade de derramar estas gotas salgadas tão presentes no meu passado deve-se a não estar a aproveitar o presente?
Quem sabe apenas esteja a aproveitá-lo demasiado bem, a encarar as coisas positivamente, ou talvez seja apenas eu que mudei.... tornei-me mais forte, mais resistente.
Continuo uma sonhadora. Sim. Uma sonhadora inalcançável e incomparável, continuo a sonhar que ainda estou naquele quarto, naquela aldeola no meio do nada, no fim do mundo, onde fui feliz, onde ri e fui eu mesma, onde fortaleci os laços que me ligavam às pessoas que tanto importam para mim, locais onde ficaram segredos, de onde trouxemos inúmeras memórias...
Naquela casa de onde fugimos às três da manhã para regressarmos à alvorada, onde chorámos por motivos estúpidos e por termos saudades de pessoas que preencheram os nossos pequeninos corações por um semana...
Já alguma vez abraçaram castanhieris? Já dançaram até cair e viveram verdadeiros momentos à filme que provocam gargalhadas infinitas, como a do amiguinho....
Se neste momento me perguntassem se choro, dir-lhes-ia que não, chorava antes de partilhar momentos magníficos com pessoas especiais que adoro, e que sabem que as adoro e admiro, que simplesmente me fazem sorrir e me surpreendem a cada dia, em cada conversa, a cada momento com as suas atitudes inesperadas, a forma como me fazem não chorar...
Não choro há 3 meses, 20 dias e 49 segundos, e sinto-me feliz... Quando foi a última vez que tu choraste?
Os meus olhos estão secos, não tenho motivos para chorar, mas será isso bom ou mau, será que apenas não choro porque não estou a viver? A razão para não experimentar essa sensação e necessidade de derramar estas gotas salgadas tão presentes no meu passado deve-se a não estar a aproveitar o presente?
Quem sabe apenas esteja a aproveitá-lo demasiado bem, a encarar as coisas positivamente, ou talvez seja apenas eu que mudei.... tornei-me mais forte, mais resistente.
Continuo uma sonhadora. Sim. Uma sonhadora inalcançável e incomparável, continuo a sonhar que ainda estou naquele quarto, naquela aldeola no meio do nada, no fim do mundo, onde fui feliz, onde ri e fui eu mesma, onde fortaleci os laços que me ligavam às pessoas que tanto importam para mim, locais onde ficaram segredos, de onde trouxemos inúmeras memórias...
Naquela casa de onde fugimos às três da manhã para regressarmos à alvorada, onde chorámos por motivos estúpidos e por termos saudades de pessoas que preencheram os nossos pequeninos corações por um semana...
Já alguma vez abraçaram castanhieris? Já dançaram até cair e viveram verdadeiros momentos à filme que provocam gargalhadas infinitas, como a do amiguinho....
Se neste momento me perguntassem se choro, dir-lhes-ia que não, chorava antes de partilhar momentos magníficos com pessoas especiais que adoro, e que sabem que as adoro e admiro, que simplesmente me fazem sorrir e me surpreendem a cada dia, em cada conversa, a cada momento com as suas atitudes inesperadas, a forma como me fazem não chorar...
Não choro há 3 meses, 20 dias e 49 segundos, e sinto-me feliz... Quando foi a última vez que tu choraste?
Memórias de Verão I
Este Verão foi algo que ficou gravado na minha memória, pelos momentos divertidos, a alegria quase constante, os sustos, os erros, os amigos, as despedidas, ...
Todos os dias sinto que revivo esses momentos, enquanto me sento numa cadeira na escola, "ouvindo atentamente" aquilo que os professores dizem, recordando a liberdade desses instantes em que não nos preocupámos com as consequências e vivemos.
Recordo o dia em que saímos sorrateiramente, as três, pela porta ao fundo do corredor que ninguém usa, aquela que faz um barulho estridente... em que começaste a tossir para que não se ouvisse, e eu e a Catarina descemos as escadas e nos sentámos no sofá, eu a fingir que tinha descido para beber água e ela simplesmente por estar comigo... Lembro as gargalhadas sonoras que soaram quando estávamos já longe de casa porque eras apenas tu a tossir...
Eu tremia, não de frio, de medo de sermos apanhadas, mas nada disso nos aconteceu...
Corremos a aldeia toda praticamente às escuras, apenas com as luzes das festividades da aldeiasinha... a Catarina agarrada a mim porque tem medo de cães. E o cão que nos assustou porque apareceu no exacto momento em que eu disse "Não te preocupes, aqui não há cães"? Há animais que deviam melhorar o seu sentido de oportunidade...
O café estava a aberto... Mas como? Eram três da manhã, portanto não é algo normal...
Entrámos e seguiram-se um milhão de peripécias engraçadas, pessoas a entrar e a sair, piadas partilhadas com amigos de Verão...
Mais tarde corremos até casa de uns amigos, tu tentaste tocar piano, infrutiferamente, não conseguias controlar propriamente os teus movimentos, nenhuma de nós conseguia, e a Catarina seguiu-se a ti, tocando as notas certas mas num tom altíssimo que devido à porta estar aberta ameaçava acordar os vizinhos...
Descemos as escadas a correr e caímos de cu, rimo-nos como loucas, até que nos decidimos levantar e ir embora...
Lembro-me que pelo caminho vi estrelas cadentes, e que a Catarina chorava agora agarrada a mim porque um cão nos estava seguir, ao estado a que as pessoas chegam com as suas fobias.... (ela sabe que estou a brincar...), mais ninguém as viu naquela semana, estávamos todas demasiado felizes para reparar no céu, todas menos eu, mas isso já são outras histórias...
Que insignificante, este relato, comparado com tudo o que aquele Verão significou para mim e para elas, ... Mas é assim que vou terminar o texto "Memórias de Verão I".
Todos os dias sinto que revivo esses momentos, enquanto me sento numa cadeira na escola, "ouvindo atentamente" aquilo que os professores dizem, recordando a liberdade desses instantes em que não nos preocupámos com as consequências e vivemos.
Recordo o dia em que saímos sorrateiramente, as três, pela porta ao fundo do corredor que ninguém usa, aquela que faz um barulho estridente... em que começaste a tossir para que não se ouvisse, e eu e a Catarina descemos as escadas e nos sentámos no sofá, eu a fingir que tinha descido para beber água e ela simplesmente por estar comigo... Lembro as gargalhadas sonoras que soaram quando estávamos já longe de casa porque eras apenas tu a tossir...
Eu tremia, não de frio, de medo de sermos apanhadas, mas nada disso nos aconteceu...
Corremos a aldeia toda praticamente às escuras, apenas com as luzes das festividades da aldeiasinha... a Catarina agarrada a mim porque tem medo de cães. E o cão que nos assustou porque apareceu no exacto momento em que eu disse "Não te preocupes, aqui não há cães"? Há animais que deviam melhorar o seu sentido de oportunidade...
O café estava a aberto... Mas como? Eram três da manhã, portanto não é algo normal...
Entrámos e seguiram-se um milhão de peripécias engraçadas, pessoas a entrar e a sair, piadas partilhadas com amigos de Verão...
Mais tarde corremos até casa de uns amigos, tu tentaste tocar piano, infrutiferamente, não conseguias controlar propriamente os teus movimentos, nenhuma de nós conseguia, e a Catarina seguiu-se a ti, tocando as notas certas mas num tom altíssimo que devido à porta estar aberta ameaçava acordar os vizinhos...
Descemos as escadas a correr e caímos de cu, rimo-nos como loucas, até que nos decidimos levantar e ir embora...
Lembro-me que pelo caminho vi estrelas cadentes, e que a Catarina chorava agora agarrada a mim porque um cão nos estava seguir, ao estado a que as pessoas chegam com as suas fobias.... (ela sabe que estou a brincar...), mais ninguém as viu naquela semana, estávamos todas demasiado felizes para reparar no céu, todas menos eu, mas isso já são outras histórias...
Que insignificante, este relato, comparado com tudo o que aquele Verão significou para mim e para elas, ... Mas é assim que vou terminar o texto "Memórias de Verão I".
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Notas soltas
Este é um texto para as pessoas que acham que a música clássica,em piano e jazz é algo antigo e ultrapassado...
Já ouviram as majestosas notas de uma composição de Yann Tiersen? Como a valsa d'Amelie, ou Comptine d'un autre été, melodias que não precisam de um acompanhamento como a voz humana porque já são músicas completas, quando me concentro nas notas, dependendo do meu estado de espírito há uma letra, uma série de pensamentos diferentes e emoções que são provocados pela beleza e magnificência destas obras de arte...
Mozart, Bach, Chopin, Debussy, Beethoven, todos nomes conhecidos por quase toda a gente, melodias que encontramos em belíssimas caixas de música, porém ninguém incentiva os jovens de hoje em dia a interessarem-se por este tipo de música, temos de a encontrar à nossa maneira e de alguma forma tentar reinseri-la no quotidiano da sociedade que vive acompanhada por músicas comerciais, que não carregam nenhuma emoção em si, músicas sem paixão, músicas sem história, há quem chame àquilo que passam nas discotecas música apesar de serem apenas duas ou três notas tocadas em sequências diversas. Nas ruas vivemos rodeados dos barulhos do tráfego, de conversas alheias cujas palavras não conhecemos. Por vezes cruzamo-nos com um ou outro músico de rua e não lhe prestamos atenção, pensamos que é apenas mais um que pensa que pode fazer música, mas eu recordo-me de uma vez em Paris, quando me cruzei no metro com um saxofonista a tocar jazz maravilhosamente e me perguntei porque razão aquele senhor com um talento incrível tocava no metro onde muita gente nem reparava na sua presença enquanto artistas que já não vendem música mas sim a sua imagem faziam dinheiro e eram reconhecidos mundialmente... Especulo agora que talvez quisesse levar a sua música ao mundo de uma forma diferente, levando o seu estilo musical e o seu talento a quem o quisesse ouvir, apenas pelo gosto de tocar em troca de nada, ou em troca de um olhar, um sorriso como o que me surgiu nos lábios ao ouvir tão bela e profunda melodia, ainda a recordo apesar de já não me ser possível reproduzi-la oralmente para que as pessoas a percebam, ainda a oiço, num recanto da minha memória. Foi nesse momento que o meu espírito despertou novamente para a música...
Já ouviram as majestosas notas de uma composição de Yann Tiersen? Como a valsa d'Amelie, ou Comptine d'un autre été, melodias que não precisam de um acompanhamento como a voz humana porque já são músicas completas, quando me concentro nas notas, dependendo do meu estado de espírito há uma letra, uma série de pensamentos diferentes e emoções que são provocados pela beleza e magnificência destas obras de arte...
Mozart, Bach, Chopin, Debussy, Beethoven, todos nomes conhecidos por quase toda a gente, melodias que encontramos em belíssimas caixas de música, porém ninguém incentiva os jovens de hoje em dia a interessarem-se por este tipo de música, temos de a encontrar à nossa maneira e de alguma forma tentar reinseri-la no quotidiano da sociedade que vive acompanhada por músicas comerciais, que não carregam nenhuma emoção em si, músicas sem paixão, músicas sem história, há quem chame àquilo que passam nas discotecas música apesar de serem apenas duas ou três notas tocadas em sequências diversas. Nas ruas vivemos rodeados dos barulhos do tráfego, de conversas alheias cujas palavras não conhecemos. Por vezes cruzamo-nos com um ou outro músico de rua e não lhe prestamos atenção, pensamos que é apenas mais um que pensa que pode fazer música, mas eu recordo-me de uma vez em Paris, quando me cruzei no metro com um saxofonista a tocar jazz maravilhosamente e me perguntei porque razão aquele senhor com um talento incrível tocava no metro onde muita gente nem reparava na sua presença enquanto artistas que já não vendem música mas sim a sua imagem faziam dinheiro e eram reconhecidos mundialmente... Especulo agora que talvez quisesse levar a sua música ao mundo de uma forma diferente, levando o seu estilo musical e o seu talento a quem o quisesse ouvir, apenas pelo gosto de tocar em troca de nada, ou em troca de um olhar, um sorriso como o que me surgiu nos lábios ao ouvir tão bela e profunda melodia, ainda a recordo apesar de já não me ser possível reproduzi-la oralmente para que as pessoas a percebam, ainda a oiço, num recanto da minha memória. Foi nesse momento que o meu espírito despertou novamente para a música...
Inevitabilidade da vida
Esta visão da vida pode parecer um pouco mórbida mas é apenas a realidade. Nós nascemos apenas com a certeza de que um dia vamos acabar por morrer, eu gostaria de pensar que vou morrer de velhice e passar por todas as fases maravilhosas da vida mas é incerto, o nosso futuro é incerto, estamos envoltos nas redes do destino, encaminhando-nos apenas para aquilo que nos está predestinado, ou não.
Gostava de um dia poder olhar-me ao espelho e ver rugas na minha cara, ver cada um desses sulcos na minha pele e ver beleza, momentos, por baixo dos olhos devido a todas as lágrimas que chorei, nos cantos dos lábios por todos os sorrisos, todas as gargalhadas, espero ainda ser capaz de rir ao atingir essa idade avançada, o corpo dorido e gasto por tudo o que vivi, os saltos que dei, as cidades longínquas que percorri, mas quero manter os olhos com a igual vivacidade da infância, com o brilho vivo da juventude, a sabedoria adquirida com as vivências...
De onde vem toda esta preocupação extrema com o aspecto? Para que precisam as pessoas de todos esses produtos que supostamente as fariam mais jovens? A juventude não reside no exterior, apenas nós, a nossa forma de ser podem ditar a nossa idade, não é porque desde que nascemos o planeta já efectuou o seu movimento de translação um certo número de vezes que somos mais velhos ou mais jovens...
Há uma diferença entre antigo e velho, palavras que por vezes são usadas como sinónimos, antigo é como a pessoa que apesar de o mundo continuar o seu caminho permaneceu preso na sua época, vendo as pessoas e tudo a alterar-se em seu redor mas não se preocupando em acompanhar a evolução do mundo, enquanto algo velho, uma pessoa velha é alguém com experiência que não se deixou abalar pela passagem inevitável do tempo e permaneceu jovem, debaixo do aspecto enrugado e cansado está uma alma jovem, nova, renovada a cada instante pela vontade de viver...
Para todas as pessoas que olham o espelho e temem o lugar onde vai aparecer uma ruga um dia, que querem adiar o momento da velhice, apenas recordem que se o atingirem é porque viveram, se vos surgirem rugas nos olhos é porque viram o mais belo que o mundo tinha para vos mostrar, se a vossa audição começar a falhar é porque ouviram as mais belas melodias do mundo, porque viveram o suficiente para terem ouvido alguém a dizer-vos o quanto vos amavam, se no canto dos seus lábios se puderem observar os temidos sulcos é porque tiveram tempo suficiente para sorrir, chorar, amar...
Não se preocupem com o amanhã, vivam o hoje para que no dia seguinte possam recordar os momentos belos da vossa existência.
Gostava de um dia poder olhar-me ao espelho e ver rugas na minha cara, ver cada um desses sulcos na minha pele e ver beleza, momentos, por baixo dos olhos devido a todas as lágrimas que chorei, nos cantos dos lábios por todos os sorrisos, todas as gargalhadas, espero ainda ser capaz de rir ao atingir essa idade avançada, o corpo dorido e gasto por tudo o que vivi, os saltos que dei, as cidades longínquas que percorri, mas quero manter os olhos com a igual vivacidade da infância, com o brilho vivo da juventude, a sabedoria adquirida com as vivências...
De onde vem toda esta preocupação extrema com o aspecto? Para que precisam as pessoas de todos esses produtos que supostamente as fariam mais jovens? A juventude não reside no exterior, apenas nós, a nossa forma de ser podem ditar a nossa idade, não é porque desde que nascemos o planeta já efectuou o seu movimento de translação um certo número de vezes que somos mais velhos ou mais jovens...
Há uma diferença entre antigo e velho, palavras que por vezes são usadas como sinónimos, antigo é como a pessoa que apesar de o mundo continuar o seu caminho permaneceu preso na sua época, vendo as pessoas e tudo a alterar-se em seu redor mas não se preocupando em acompanhar a evolução do mundo, enquanto algo velho, uma pessoa velha é alguém com experiência que não se deixou abalar pela passagem inevitável do tempo e permaneceu jovem, debaixo do aspecto enrugado e cansado está uma alma jovem, nova, renovada a cada instante pela vontade de viver...
Para todas as pessoas que olham o espelho e temem o lugar onde vai aparecer uma ruga um dia, que querem adiar o momento da velhice, apenas recordem que se o atingirem é porque viveram, se vos surgirem rugas nos olhos é porque viram o mais belo que o mundo tinha para vos mostrar, se a vossa audição começar a falhar é porque ouviram as mais belas melodias do mundo, porque viveram o suficiente para terem ouvido alguém a dizer-vos o quanto vos amavam, se no canto dos seus lábios se puderem observar os temidos sulcos é porque tiveram tempo suficiente para sorrir, chorar, amar...
Não se preocupem com o amanhã, vivam o hoje para que no dia seguinte possam recordar os momentos belos da vossa existência.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
As perguntas que nunca lhe coloquei
Conhece-me desde que nasci mas não acredito conhecê-lo realmente. Vou tratá-lo por você como o faço sempre, como sinal do respeito que sinto pelos anos que viveu, por tudo o que já viu.
Não sorri muito mas consigo ver a beleza que ostentava antes, aquela que está presente nos retratos a sépia e preto-e-branco que se encontram espalhadas nas paredes de sua casa.
Recordo os momentos em que trazia a sua câmara fotográfica na mão e me seguia pela casa, enquanto eu corria, ria muito alto e fazia imensas caretas, gravadas em pequenas fotografias de pouca qualidade que me fazem recordar e sorrir.
Admiro em si a forma como encara o mundo, a alegria que sente quando brinca com a minha irmãzinha, como fazia antigamente comigo. Invejo-a, por vezes. Por ter toda a sua atenção, ou quase toda. Gostava de quando íamos para o cimo de um armazém e olhávamos as estrelas, ou dávamos grandes caminhadas pelo monte.
Admiro a forma como aprecia o pequenos mundo onde vive mas tem necessidade de mais, e parte de três em três meses para Paris, cidade onde creio que reside a sua alma, o sítio a que chama lar. Não sei se isto é verdade. Nunca lho perguntei. Apenas me é difícil compreender por que razão abdica da companhia da sua mulher, minha avó, e da restante família. De que foge você?
Já alguma vez lhe disse quanto o admiro e adoro? Provavelmente quando era pequena, mas ultimamente temo-nos tornado cada vez mais distantes, como estranhos que continuam a falar por causa das memórias que partilham.
Adoro a forma como se ri quando falo ininterruptamente, nos breves momentos em que desejo contar-lhe a minha vida toda e as palavras se atropelam umas às outras. Sim. Gosto desse sorriso.
Olho-o agora, e pergunto-me por tudo aquilo que viveu e não me contou, as histórias da guerra, creio que se orgulha de ter lutado pelo nosso país, mas em que guerra? A minha ignorância em relação a si é imensa, mas acho que me agrada assim, gosto de imaginar a pessoa que foi, especular acerca do rapazinho que foi a brincar nas ruas ou talvez a trabalhar para ajudar a família, toda esta incerteza torna-o ainda mais especial.
Já vi ambos os seus lados, já senti ódio por si, talvez não fosse isso, talvez eu estivesse apenas desapontada com as suas palavras, mas recordando-o e recordando-nos vejo uma amizade estranha, até um pouco distante, entre duas gerações separadas por décadas, guerras, vidas...
Obrigada, avô, por tudo o que me deu, por me mostrar o céu, me tentar agradar não da típica forma materialista mas através de atenção, diálogo; obrigada por me mostrar o campo, o céu, as estrelas, por me guiar para a felicidade, por errar e me mostrar os erros que não devo cometer, tendo-o como exemplo.
Obrigada pelas perguntas que nunca coloquei.
Não sorri muito mas consigo ver a beleza que ostentava antes, aquela que está presente nos retratos a sépia e preto-e-branco que se encontram espalhadas nas paredes de sua casa.
Recordo os momentos em que trazia a sua câmara fotográfica na mão e me seguia pela casa, enquanto eu corria, ria muito alto e fazia imensas caretas, gravadas em pequenas fotografias de pouca qualidade que me fazem recordar e sorrir.
Admiro em si a forma como encara o mundo, a alegria que sente quando brinca com a minha irmãzinha, como fazia antigamente comigo. Invejo-a, por vezes. Por ter toda a sua atenção, ou quase toda. Gostava de quando íamos para o cimo de um armazém e olhávamos as estrelas, ou dávamos grandes caminhadas pelo monte.
Admiro a forma como aprecia o pequenos mundo onde vive mas tem necessidade de mais, e parte de três em três meses para Paris, cidade onde creio que reside a sua alma, o sítio a que chama lar. Não sei se isto é verdade. Nunca lho perguntei. Apenas me é difícil compreender por que razão abdica da companhia da sua mulher, minha avó, e da restante família. De que foge você?
Já alguma vez lhe disse quanto o admiro e adoro? Provavelmente quando era pequena, mas ultimamente temo-nos tornado cada vez mais distantes, como estranhos que continuam a falar por causa das memórias que partilham.
Adoro a forma como se ri quando falo ininterruptamente, nos breves momentos em que desejo contar-lhe a minha vida toda e as palavras se atropelam umas às outras. Sim. Gosto desse sorriso.
Olho-o agora, e pergunto-me por tudo aquilo que viveu e não me contou, as histórias da guerra, creio que se orgulha de ter lutado pelo nosso país, mas em que guerra? A minha ignorância em relação a si é imensa, mas acho que me agrada assim, gosto de imaginar a pessoa que foi, especular acerca do rapazinho que foi a brincar nas ruas ou talvez a trabalhar para ajudar a família, toda esta incerteza torna-o ainda mais especial.
Já vi ambos os seus lados, já senti ódio por si, talvez não fosse isso, talvez eu estivesse apenas desapontada com as suas palavras, mas recordando-o e recordando-nos vejo uma amizade estranha, até um pouco distante, entre duas gerações separadas por décadas, guerras, vidas...
Obrigada, avô, por tudo o que me deu, por me mostrar o céu, me tentar agradar não da típica forma materialista mas através de atenção, diálogo; obrigada por me mostrar o campo, o céu, as estrelas, por me guiar para a felicidade, por errar e me mostrar os erros que não devo cometer, tendo-o como exemplo.
Obrigada pelas perguntas que nunca coloquei.
Tentativa de crónica
Não me recordo da última vez que alguém conseguiu definir realmente a felicidade, talvez nunca o tenham feito, pois é difícil descrever as coisas que importam na vida. Mas, de onde vem? Porque surge inesperadamente em nós e desaparece dolorosamente deixando apenas a memória da sua existência até um novo encontro?
A felicidade é constantemente procurada pelas pessoas, tentam encontrá-la sob formas absurdas. Há quem pense consegui-la através de ideias materialistas e de ostentação, porém tudo isto é uma falsa felicidade. Se todas essas pessoas fossem despojadas de todos os seus bens, sentir-se-iam vazios como sempre o haviam sido, porque a felicidade reside na beleza simples da vida e não no número de dígitos que compõe a nossa conta bancária.
Eu sou feliz mesmo quando não o sou, pois tenho as memórias de melhores momentos em que tive vontade de rir, em que chorei porque sorrir não era suficiente, em que reencontrei a criança em mim porque só com uma alma de criança se pode ser feliz.
A felicidade é imutável?
Na sociedade em que vivemos actualmente há poucas pessoas que podem dizer-se felizes: as crianças, na ingenuidade das suas questões intermináveis, nas gargalhadas sonoras, na vivacidade e vontade de conhecer o mundo. Nos jovens vejo a gradual perda da infância, a procura pela sua personalidade, os dramas ilógicos, as incertezas, sentindo-se muitas vezes perdidos, incompreendidos. Criam amizades, riem de banalidades infantis, erram, sofrem enquanto lutam para encontrar o seu caminho e se encontrarem a si próprios. Em adultos, os sonhos perdem-se na sua maioria, ganha-se uma perspectiva mais realista da via, porém mais pessimista. Lutam pelo seu lugar neste mundo, por ficarem imortalizados pelos seus feitos na memória dos outros. Erram mais, vivem mais, magoam-se, vivem os seus melhores e piores momentos. Realizam-se (ou não), afastam-se por vezes da felicidade, esquecem-se que ela reside apenas em nós e que só temos de a encontrar. Vivem paixões fortuitas; formam família; partilham a sua felicidade com os outros e, ao atingirem a velhice, esperam ter feito tudo o que puderam para serem felizes; arrependem-se de coisas que fizeram e de outras que podiam ter feito, sabendo que os erros fazem parte do percurso; relembram momentos em que também eles foram crianças e procuravam conhecer o mundo, jovens procurando conhecer-se a si próprios, adultos a viverem e aproveitarem as oportunidades que a vida lhes deu... Têm a hipótese de reviver tudo através das suas memórias , reencontrando a felicidade nelas...
Tudo isto é dificultado pela nossa sociedade materialista, consumista e individualista, contudo como ser sociável que o Homem é, precisa de gente durante a sua vida, para o acompanhar, crescer viver. Alexandre Dumas disse que "o mais feliz dos felizes é o que faz os outros felizes". Nós precisamos dos outros assim como eles de nós. Por vezes, as memórias mais importantes giram em torno de pessoas que fizeram parte das nossas vidas por breves e indeléveis instantes, uma gargalhada é muito mais bela quando partilhada com os outros.
E eu, sou feliz?
Sou, sou uma pessoa feliz, completa. Sou jovem, vivi pouco mas o suficiente para experimentar a perda, a solidão, os dramas exagerados característicos da idade, mas tudo isto me encaminha para a felicidade, porque é impossível sentir-se feliz sem nunca ter conhecido a dor e após lágrimas vem sempre um sorriso.
Na minha memória tenho várias pessoas, algumas que nunca mais verei na vida, cujos nomes não recordo ou nunca cheguei a saber mas que me marcaram com as suas palavras e gestos, situações que me recordam o quão feliz sou e posso ser.
Quando se sentirem sós, tristes, procurem observar o mundo belo que vos rodeia, alheem-se da realidade em que vivem (tão dura por vezes), observem o infinito azul do céu, olhem as belíssimas estrelas que iluminam a escuridão nocturna e se mesmo assim ainda se sentirem sós, lembrem-se que aqueles de quem gostam e que realmente importam, olham as mesmas estrelas, como me recordou uma amiga quando também eu me havia perdido.
A felicidade é constantemente procurada pelas pessoas, tentam encontrá-la sob formas absurdas. Há quem pense consegui-la através de ideias materialistas e de ostentação, porém tudo isto é uma falsa felicidade. Se todas essas pessoas fossem despojadas de todos os seus bens, sentir-se-iam vazios como sempre o haviam sido, porque a felicidade reside na beleza simples da vida e não no número de dígitos que compõe a nossa conta bancária.
Eu sou feliz mesmo quando não o sou, pois tenho as memórias de melhores momentos em que tive vontade de rir, em que chorei porque sorrir não era suficiente, em que reencontrei a criança em mim porque só com uma alma de criança se pode ser feliz.
A felicidade é imutável?
Na sociedade em que vivemos actualmente há poucas pessoas que podem dizer-se felizes: as crianças, na ingenuidade das suas questões intermináveis, nas gargalhadas sonoras, na vivacidade e vontade de conhecer o mundo. Nos jovens vejo a gradual perda da infância, a procura pela sua personalidade, os dramas ilógicos, as incertezas, sentindo-se muitas vezes perdidos, incompreendidos. Criam amizades, riem de banalidades infantis, erram, sofrem enquanto lutam para encontrar o seu caminho e se encontrarem a si próprios. Em adultos, os sonhos perdem-se na sua maioria, ganha-se uma perspectiva mais realista da via, porém mais pessimista. Lutam pelo seu lugar neste mundo, por ficarem imortalizados pelos seus feitos na memória dos outros. Erram mais, vivem mais, magoam-se, vivem os seus melhores e piores momentos. Realizam-se (ou não), afastam-se por vezes da felicidade, esquecem-se que ela reside apenas em nós e que só temos de a encontrar. Vivem paixões fortuitas; formam família; partilham a sua felicidade com os outros e, ao atingirem a velhice, esperam ter feito tudo o que puderam para serem felizes; arrependem-se de coisas que fizeram e de outras que podiam ter feito, sabendo que os erros fazem parte do percurso; relembram momentos em que também eles foram crianças e procuravam conhecer o mundo, jovens procurando conhecer-se a si próprios, adultos a viverem e aproveitarem as oportunidades que a vida lhes deu... Têm a hipótese de reviver tudo através das suas memórias , reencontrando a felicidade nelas...
Tudo isto é dificultado pela nossa sociedade materialista, consumista e individualista, contudo como ser sociável que o Homem é, precisa de gente durante a sua vida, para o acompanhar, crescer viver. Alexandre Dumas disse que "o mais feliz dos felizes é o que faz os outros felizes". Nós precisamos dos outros assim como eles de nós. Por vezes, as memórias mais importantes giram em torno de pessoas que fizeram parte das nossas vidas por breves e indeléveis instantes, uma gargalhada é muito mais bela quando partilhada com os outros.
E eu, sou feliz?
Sou, sou uma pessoa feliz, completa. Sou jovem, vivi pouco mas o suficiente para experimentar a perda, a solidão, os dramas exagerados característicos da idade, mas tudo isto me encaminha para a felicidade, porque é impossível sentir-se feliz sem nunca ter conhecido a dor e após lágrimas vem sempre um sorriso.
Na minha memória tenho várias pessoas, algumas que nunca mais verei na vida, cujos nomes não recordo ou nunca cheguei a saber mas que me marcaram com as suas palavras e gestos, situações que me recordam o quão feliz sou e posso ser.
Quando se sentirem sós, tristes, procurem observar o mundo belo que vos rodeia, alheem-se da realidade em que vivem (tão dura por vezes), observem o infinito azul do céu, olhem as belíssimas estrelas que iluminam a escuridão nocturna e se mesmo assim ainda se sentirem sós, lembrem-se que aqueles de quem gostam e que realmente importam, olham as mesmas estrelas, como me recordou uma amiga quando também eu me havia perdido.
"A felicidade raras vezes está ausente. Nós é que não damos pela sua presença." Maeterlinck
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Moonlight
A lua está linda hoje, mas quem é que reparou nisso? Quem se deu ao trabalho de perder uma milésima do seu precioso tempo a olhar uma pedra que gira em torno da Terra? Quem se preocupou em reparar que hoje a lua está em quarto minguante, ostentando uma belíssima luz em forma de C?
Se não reparaste, ainda vais a tempo de correr para a janela e observar um dos magníficos fenómenos que presenciamos na Terra, esta luz de prata magnífica que na infância nos cativa porque simplesmente não sabemos porque é que está uma pedra branca a brilhar no céu, e como é que está ali suspensa e não cai, porque parece não se mexer apesar de nós mudarmos constantemente de posição, e porque à vezes parece um C e outras um D, e como aparece completa e por vezes não a conseguimos ver no céu... Todas estas perguntas me são colocadas agora por uma criancinha de 5 anos, que tal como eu me interrogava, também admira aquele brilho espantoso.
Para alguns a lua é tão insignificante como qualquer uma das pedras nas quais tropeçam, que esmagam, encontram no asfalto, sem interesse e que não merecem um breve vislumbre de soslaio.
Foi sob esta mesma lua que eu dei o meu primeiro e tímido beijo, e lembro-me que estava linda nessa noite, ou talvez tenha sido toda a magia do momento a torná-la ainda mais especial.
Foi sob este mesmo céu incrustado de pequenos diamantes do passado (sim, porque nós apenas vemos o passado destas estrelas, algumas são a imagem de si próprias há séculos) que chorei por diversas vezes, quando senti a perda, refugiando-me na aconchegante luz das corpos celestes. Foi por elas que numa noite gélida de Inverno (e quem já abriu uma janela às 4 da manhã numa terrinha no meio da montanha sabe do que falo) me sentei no parapeito da janela a observar o infinito inexplorado do universo, a minha mente livre de questões, apenas os sentidos a usufruirem da beleza, as mãos a gelarem até ser impossível senti-las, a garganta a doer, mas a alma completa, preenchida, lançada nas teias do sonho, preparada para enfrentar as adversidades do dia seguinte porque, à noite, teria sempre o consolo das estrelas e da lua.
Será assim tão mau lançar um olhar a tudo o que nos rodeia?
Quando é que as pessoas começaram a alhear-se da realidade, a viverem num mundo à parte, criado pelos humanos para os humanos, onde as estrelas se tornam indistintas no céu azul devido à iluminação tão forte e desnecessária que nos priva dos momentos em que tentamos diferenciar as constelações no céu, procurando padrões, unindo-as para formarem desenhos.
Quando é que perdemos a capacidade de sonhar?
Não te esqueças, se ainda não viste a lua hoje, ainda vais a tempo.
Se não reparaste, ainda vais a tempo de correr para a janela e observar um dos magníficos fenómenos que presenciamos na Terra, esta luz de prata magnífica que na infância nos cativa porque simplesmente não sabemos porque é que está uma pedra branca a brilhar no céu, e como é que está ali suspensa e não cai, porque parece não se mexer apesar de nós mudarmos constantemente de posição, e porque à vezes parece um C e outras um D, e como aparece completa e por vezes não a conseguimos ver no céu... Todas estas perguntas me são colocadas agora por uma criancinha de 5 anos, que tal como eu me interrogava, também admira aquele brilho espantoso.
Para alguns a lua é tão insignificante como qualquer uma das pedras nas quais tropeçam, que esmagam, encontram no asfalto, sem interesse e que não merecem um breve vislumbre de soslaio.
Foi sob esta mesma lua que eu dei o meu primeiro e tímido beijo, e lembro-me que estava linda nessa noite, ou talvez tenha sido toda a magia do momento a torná-la ainda mais especial.
Foi sob este mesmo céu incrustado de pequenos diamantes do passado (sim, porque nós apenas vemos o passado destas estrelas, algumas são a imagem de si próprias há séculos) que chorei por diversas vezes, quando senti a perda, refugiando-me na aconchegante luz das corpos celestes. Foi por elas que numa noite gélida de Inverno (e quem já abriu uma janela às 4 da manhã numa terrinha no meio da montanha sabe do que falo) me sentei no parapeito da janela a observar o infinito inexplorado do universo, a minha mente livre de questões, apenas os sentidos a usufruirem da beleza, as mãos a gelarem até ser impossível senti-las, a garganta a doer, mas a alma completa, preenchida, lançada nas teias do sonho, preparada para enfrentar as adversidades do dia seguinte porque, à noite, teria sempre o consolo das estrelas e da lua.
Será assim tão mau lançar um olhar a tudo o que nos rodeia?
Quando é que as pessoas começaram a alhear-se da realidade, a viverem num mundo à parte, criado pelos humanos para os humanos, onde as estrelas se tornam indistintas no céu azul devido à iluminação tão forte e desnecessária que nos priva dos momentos em que tentamos diferenciar as constelações no céu, procurando padrões, unindo-as para formarem desenhos.
Quando é que perdemos a capacidade de sonhar?
Não te esqueças, se ainda não viste a lua hoje, ainda vais a tempo.
...
Estou ligeiramente farta da monotonia que a minha escrita tem adquirido ultimamente, os sentimentos são os mesmo, as situações similares. Os momentos em que o meu corpo (e a minha mente) mais sentem necessidade de comunicar com o papel são nas situações de tristeza, ansiedade, angustia, nostalgia mais recentemente, mas de momento sinto-me renovada, decidida a mudar a minha atitude perante a vida e talvez comece a escrever textos mais alegres e mais leves. Sou uma fã de histórias para crianças ou apenas pequenas histórias que nos marcam com as suas personagens simples cujos autores recorrem muitas vezes a típicos lugares-comuns, mas que marcam a infância de muitos de nós, como as típicas princesas de que ouvíamos falar, aprisionadas no alto de torres, a sofrerem nas mãos da madrasta má, mas acabando sempre por arte de magia com a pessoa perfeita para elas...
As histórias que recordo eram mais únicas, especialmente contadas para mim, inventadas no momento e esquecidas no momento pelo seu emissor, eram histórias de bruxas, de raparigas que fugiam para bosques que eu conhecia à procura de um pouco de aventura, histórias como a de alice, muitas vezes sem nexo, como uma da cidade onde um senhor decidiu começar a tratar as coisas por um qualquer outro nome que não o que lhe havia sido estabelecido num tempo que ninguém recorda hoje...
Talvez passe um pouco pelas crónicas e críticas, porque o meu espírito crítico parece ter surgido novamente, talvez sejam influências da filosofia, do inconformismo, do perfeccionismo (doença de que sofro há muito tempo), e terei de regressar mais tarde aos pequenos relatos indirectos da minha vida, em que simplesmente me deixo levar pelas palavras, as deixo sair, fluir naturalmente enquanto a minha mente fica limpa, positivamente vazia e alheada por instantes de tudo o que me preocupa.
Queria agradecer aos poucos seguidores (mas bons) que têm lido as pequenas coisas que escrevi até agora, obrigada Aninha pelos conselhos e por indirectamente me teres levado a sair da minha zona de conforto e escrever sobre algo mais, Adília que me tens tentado dar ideias (se me falares do Rodrigo Santoro provavelmente fico inspirada) e por teres seguido os avanços do meu blogue e me teres compreendido quando outras pessoas não conseguiram ou nem sequer tentaram, a futuros visitantes e seguidores não tenham medo de experimentar algo novo e espero que gostem...
As histórias que recordo eram mais únicas, especialmente contadas para mim, inventadas no momento e esquecidas no momento pelo seu emissor, eram histórias de bruxas, de raparigas que fugiam para bosques que eu conhecia à procura de um pouco de aventura, histórias como a de alice, muitas vezes sem nexo, como uma da cidade onde um senhor decidiu começar a tratar as coisas por um qualquer outro nome que não o que lhe havia sido estabelecido num tempo que ninguém recorda hoje...
Talvez passe um pouco pelas crónicas e críticas, porque o meu espírito crítico parece ter surgido novamente, talvez sejam influências da filosofia, do inconformismo, do perfeccionismo (doença de que sofro há muito tempo), e terei de regressar mais tarde aos pequenos relatos indirectos da minha vida, em que simplesmente me deixo levar pelas palavras, as deixo sair, fluir naturalmente enquanto a minha mente fica limpa, positivamente vazia e alheada por instantes de tudo o que me preocupa.
Queria agradecer aos poucos seguidores (mas bons) que têm lido as pequenas coisas que escrevi até agora, obrigada Aninha pelos conselhos e por indirectamente me teres levado a sair da minha zona de conforto e escrever sobre algo mais, Adília que me tens tentado dar ideias (se me falares do Rodrigo Santoro provavelmente fico inspirada) e por teres seguido os avanços do meu blogue e me teres compreendido quando outras pessoas não conseguiram ou nem sequer tentaram, a futuros visitantes e seguidores não tenham medo de experimentar algo novo e espero que gostem...
sábado, 3 de outubro de 2009
Estou só. A minha companhia constante é o silêncio, as palavras que ecoam na minha mente, os meus pés a arrastarem no solo enquanto me movimento sem rumo, cruzando-me durante estes meus percursos com vultos, sombras, talvez sejam pessoas, mas os seus rostos nada significam para mim, são pessoas tão diferentes de mim, tão superficiais, que não conseguiriam perceber o vazio que agora me acompanha.
Ela partiu. Ainda não percebi se o fez voluntariamente, talvez nem tenha sido a culpada de toda esta situação, mas também não a culpo a ela, ela está melhor assim.
Perdi as gargalhadas que partilhávamos furtivamente entre duas aulas, as nossas conversas que para tanta gente seriam indecifráveis, as verdades que apenas as duas conhecíamos e éramos capazes de compreender. As palavras fugazes que trocamos ao telefone apenas servem para atenuar por instantes a distância que nos separa e me fere terrivelmente, para depois de se ouvir o adeus a atravessar todos estes quilómetros seguido apenas do silêncio do fim da chamada, caio na dura realidade de que não estás mais aqui para me abraçar quando preciso desesperadamente de um consolo silencioso e caloroso, já não terei as nossas situações parvas e hilariantes que preenchiam os meus dias tornando-os completos, felizes, únicos e impossíveis de repetir...
O caminho para a cerejeira está tão inacessível como a possibilidade de te abraçar a uma quinta-feira de manhã, gostava de poder sentar-me a observar os seus ramos despidos. Acho que tal como eu está à tua espera para florir, para voltarmos a viver esse magnífico momento de pura beleza e magia, quando descobrimos aquela árvore delicada naquele canto esquecido que decidimos explorar.
Como gostava de te ter aqui neste instante, ouvir-te a rir com as tuas gargalhadas contagiantes, rir contigo até chorarmos e não recordarmos a razão pela qual tudo isto começou.
Agora não estás tão longe, talvez a uns meros 50 minutos de distância mas permanece a nostalgia de não te ter comigo 8 dias da semana, de me ser impossível atravessar a distância que nos separa porque seria um disparate percorrê-la apenas para te ver durante 5 segundos e regressar à minha vida medíocre.
Saudade. É o sentimento que mais me persegue, mas talvez a questão não esteja no espaço que se intrepõe entre nós mas na parte de mim que levaste contigo quando partiste sem me avisar.
"A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam."
Ela partiu. Ainda não percebi se o fez voluntariamente, talvez nem tenha sido a culpada de toda esta situação, mas também não a culpo a ela, ela está melhor assim.
Perdi as gargalhadas que partilhávamos furtivamente entre duas aulas, as nossas conversas que para tanta gente seriam indecifráveis, as verdades que apenas as duas conhecíamos e éramos capazes de compreender. As palavras fugazes que trocamos ao telefone apenas servem para atenuar por instantes a distância que nos separa e me fere terrivelmente, para depois de se ouvir o adeus a atravessar todos estes quilómetros seguido apenas do silêncio do fim da chamada, caio na dura realidade de que não estás mais aqui para me abraçar quando preciso desesperadamente de um consolo silencioso e caloroso, já não terei as nossas situações parvas e hilariantes que preenchiam os meus dias tornando-os completos, felizes, únicos e impossíveis de repetir...
O caminho para a cerejeira está tão inacessível como a possibilidade de te abraçar a uma quinta-feira de manhã, gostava de poder sentar-me a observar os seus ramos despidos. Acho que tal como eu está à tua espera para florir, para voltarmos a viver esse magnífico momento de pura beleza e magia, quando descobrimos aquela árvore delicada naquele canto esquecido que decidimos explorar.
Como gostava de te ter aqui neste instante, ouvir-te a rir com as tuas gargalhadas contagiantes, rir contigo até chorarmos e não recordarmos a razão pela qual tudo isto começou.
Agora não estás tão longe, talvez a uns meros 50 minutos de distância mas permanece a nostalgia de não te ter comigo 8 dias da semana, de me ser impossível atravessar a distância que nos separa porque seria um disparate percorrê-la apenas para te ver durante 5 segundos e regressar à minha vida medíocre.
Saudade. É o sentimento que mais me persegue, mas talvez a questão não esteja no espaço que se intrepõe entre nós mas na parte de mim que levaste contigo quando partiste sem me avisar.
"A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam."
Virgílio Ferreira
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