Hoje sou uma mera expectadora... Estou apenas aqui para contar a breve história de uma rapariga.
Ela estava deitada no chão. No meio de um corredor que não conhecia, num lugar que em nada lhe era familiar, enquanto se levantava lentamente observava tudo o que a rodeava, "mas que sítio é este?", questionava-se ela.
Nesse instante ouviu uma nota. Uma só, abandonada e singular nota de piano, mas não via nenhum piano ali perto. Outra nota. Prestou mais atenção e apercebeu-se que vinha de longe, no fim do corredor, num fim invisível perante os seus olhos.
Começou a andar quando uma melodia suave começou a soar, ecoando nas paredes daquela divisão. Andava e andava mas parecia não se mover de todo, a paisagem era sempre a mesma, a mesma parede branca, o mesmo chão aos quadrados pretos e brancos. Ela saltava de um quadradinho para o outro a um ritmo igual ao da música do piano, embalada por aquele som magnífico que a hipnotizava e a levava a seguir em frente, a seguir aqueles sons.
Cada vez se deixava envolver mais pelas notas, cujo ritmo acelerava progressivamente. Então ela começou a correr para acompanhar o ritmo, para alcançar finalmente aquela melodia antes que chegasse ao fim. Correu e correu. Os seus cabelos castanhos esvoaçavam atrás de si, antes de começar a correr reparou no vestido longo que envergava, um belíssimo vestido rosa-pálido que teve de segurar para não tropeçar enquanto corria. Da forma como estava vestida parecia que ia para uma festa, ou talvez já tivesse estado numa.
A parte do vestido que não segurava. ondeava atrás de si, deixando um rasto rosa-pálido, como uma miragem que surgia e desaparecia num instante.
A melodia continuava, cada vez mais forte, cada vez mais sentida, cada vez mais apaixonada...
Afinal parecia que se aproximava.
De repente viu uma sombra à sua frente e parou abruptamente. A melodia cessou também.
Olhou em frente e viu duas gigantescas portas de ébano, com um relevo profundamente detalhado, figuras de apaixonados... Eram majestosas e pareciam-lhe demasiado pesadas para as conseguir abrir.
No entanto decidiu tentar. Deu dois passos em direcção às portas e quando estava prestes a tocar no puxador de ouro da porta esta abriu-se.
Espreitou para o seu interior e encontrou uma sala muito mais iluminada que o interminável túnel de que finalmente conseguira sair.
Largou o vestido, e este caiu suavemente ocultando novamente as suas pernas... Perscrutou novamente a sala com o olhar e tentou encontrar a melodia com os ouvidos... Mas a sala estava num silêncio impenetrável.
Ouviu as portas a fecharem-se atrás de si e quando se virou para estas novamente já não estavam lá, isto não a sobressaltou, pareceu-lhe normal no momento. No lugar onde antes estavam as portas conseguiu distinguir uma figura tão negra como estas, um belíssimo piano de cauda.
Não conseguia ver o pianista, nem sequer sabia se estava ali algum.
Caminhou lentamente, arrastando os pés para o imponente instrumento.
De repente ouviu-se novamente a melodia... Ela acelerou a passada, e em menos de um segundo estava do outro lado do piano.
Um homem belo olhava-a não parecendo surpreendido por ela estar ali. Sorriu-lhe enquanto tocava.
Aquele homem pareceu-lhe familiar, e a melodia que agora estava tão próxima fê-la ruborizar.
-Estava à tua espera. - disse o homem.
Ela sorriu e pareceu compreender o que ele dizia, sentou-se a seu lado no banco do piano e começou a tocar a melodia uma oitava acima do que ele tocava...
Olharam-se simplesmente, acompanhados pelo som do piano em que ambos tocavam.
-Estava à tua procura. - disse-lhe ela.
Não vos posso explicar porque se procuravam um ao outro, não posso dizer nada mais do que isto porque nada mais sou do que uma expectadora esta noite, agora sei tanto como vocês, e não me cabe a mim dar um fim a uma história que não é minha. Terminem-na como quiserem ou apreciem apenas o suspense e o instante em que nada acontece, o instante que antecede as coisas importantes, como o momento antes de um beijo, ou até o segundo antes de morrermos.
Como te ia a dizer no msn, é o facto de não ter lógica, nem fim é o que o torna tão especial.
ResponderEliminarÉ um texto que se adapta a nós , a cada pessoa de uma maneira diferente... :')
awww, esta história está linda.
ResponderEliminartu consegues semrpe criar histórias lindissimas.
E adorei especialmente esta última reflexão. Também costumo fazer isso nos meus textos.
Portanto, APROVADISSIMA
É um texto lindíssimo, para mim fez todo o sentido e nem me apercebi que havia muita coisa que não tinha sido dita, para mim está tudo lá.
ResponderEliminarBeijinhos