Como é que certas ligações permanecem no tempo, aparentemente imutáveis... Já não falava contigo há anos, nem recordo a última conversa que tivemos. Cruzo-me contigo regularmente mas não tenho coragem suficiente para te dizer um simples olá, não sei porque, talvez porque deixámos de nos falar abruptamente, depois daquele beijo. Sim, ainda recordo aquele beijo, acho que tudo mudou depois daí... Tínhamos algo diferente, éramos amigos acima de tudo, e sinto que agora ainda o somos, apesar das apenas breves palavras que trocámos acabaste por desabafar comigo, não te limitaste à simplicidade do relato agradável da tua vida, contaste-me o que te magoava, e isso tocou-me...
Não sei porque escrevo isto, não sei porque razão decidi escrever algo tão insignificante para ti, para mim, para todos... Mas preciso de guardar as boas memórias fora de mim, da minha mente, da memória afectada progressivamente com o tempo, as memórias a tornarem-se imagens esbatidas, como uma obra-prima que ninguém decidiu tentar restaurar, um momento perdido pelo tempo, trazido pelo tempo e levado pelo tempo, como uma breve aragem de Verão que surge e desaparece repentinamente, arrepiando-nos ligeiramente com a sua passagem, algo que esquecemos, algo apagado automaticamente da memória, mas tudo, tudo o que foi aquilo, tudo o que se passou preciso de recordar... Não sei definir o que tivemos mas preencheu-me, preencheu o vazio em mim, iluminou-me, obrigada por isso... Pelas memórias.
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