quarta-feira, 25 de novembro de 2009

My sister's keeper

Ontem vi um filme magnífico, não tenho palavras suficientes para o resumir, porque não há nada que me ajude a explicar o que senti ao ver aquilo.

O filme é "My sister's keeper" ou em português "Para a minha irmã".
É um filme maravilhoso com Cameron Diaz interpreta o papel de uma mãe que luta a todo o custo para manter a filha viva, Abigail Breslin é a irmã mais nova, sujeita constantemente a procedimentos médicos para manter a irmã viva, Sofia Vassilieva (participa na série Medium que sigo regularmente), é a atormentada rapariga com cancro.
Trata-se de uma família, abalada com o adoecimento da filha. Esta tem cancro e nem os pais nem o irmão são compatíveis a 100%. Perante isto decidem ter uma outra filha, gerada em laboratório através da manipulação dos cromossomas para que haja uma compatibilidade perfeita.

À irmã mais nova que nasceu para salvar a irmã, mantê-la viva, retiram-lhe sangue, medula, dão-lhe injecções para produzir mais células e mais tarde lhas retirarem para a outra irmã. Tudo isto pode parecer muito cruel mas neste filme não me senti preparada para julgar nenhuma das atitudes, nem dos pais, nem da irmã, nem da própria Kate (a irmã com cancro).

Anna nunca se queixou por todas as situações a que era sujeita por causa da irmã Kate até que lhe pediram para dar um rim à sua irmã, a partir daí a família parece desmoronar-se, principalmente quando Anna contrata um advogado para adquirir a sua "emancipação médica".

No meio de toda esta trama temos a oportunidade de conhecer as vivências da adolescente Kate, rapariga de 15 anos, que viveu, amou, sonhou, riu, e sofreu mais do que muita gente com o dobro da sua idade, vemos as dificuldades emocionais que toda a família ultrapassou, todo o amor, a dura realidade da morte de Kate ser praticamente inevitável, a luta constante da mãe para não deixar morrer a filha, a irmã mais nova que pela primeira vez na sua vida decide ser egoísta e luta para manter o seu rim...

Inicialmente fiz certos juízos de valor em relação às atitudes das personagens, mas quando nos familiarizamos com as suas vidas, os problemas que encaram, todas as dificuldades acrescidas suportadas por aquela família, quando nos pomos na posição de cada uma das diferentes personagens sentimo-nos incapazes de os julgar, é um filme que trata um tema complicado, duro, mas muito real. Leva-nos a questionarmo-nos em relação àquilo que faríamos numa situação semelhante, à nossa atitude se algo assim acontecesse com a nossa família. Fala de amor, amor puro e simples, de vivências únicas, de dor...

Uma das partes que mais me tocou no filme é quando a rapariga se apaixona por outro rapaz com cancro, e eles começam a namorar, e uma noite, num suposto baile do hospital fazem amor (não lhe posso chamar sexo porque foi mais que isso), nos três dias seguintes a rapariga tenta ligar-lhe e ele não atende, aí ela desespera, deprime, sente que foi pela forma como as coisas aconteceram...
Ela chora inconsolavelmente e diz à mãe o que aconteceu num ataque de raiva e de dor, a mãe sai do quarto e dirige-se à enfermeira perguntando pelo rapaz, o olhar daquela senhora diz tudo e nesse momento também eu sofri com a morte desse rapaz, a dor que ela já sentia agravada com a sua partida definitiva, não consigo imaginar quão doloroso é algo assim...

Eu aconselho este filme a pessoas que se interessem pelos outros e não tenham medo de ver algo que vos pode tocar, a mim tocou-me e admito que chorei durante o filme todo...

Para verem o trailler:

domingo, 22 de novembro de 2009

História de outrém

Hoje sou uma mera expectadora... Estou apenas aqui para contar a breve história de uma rapariga.

Ela estava deitada no chão. No meio de um corredor que não conhecia, num lugar que em nada lhe era familiar, enquanto se levantava lentamente observava tudo o que a rodeava, "mas que sítio é este?", questionava-se ela.
Nesse instante ouviu uma nota. Uma só, abandonada e singular nota de piano, mas não via nenhum piano ali perto. Outra nota. Prestou mais atenção e apercebeu-se que vinha de longe, no fim do corredor, num fim invisível perante os seus olhos.
Começou a andar quando uma melodia suave começou a soar, ecoando nas paredes daquela divisão. Andava e andava mas parecia não se mover de todo, a paisagem era sempre a mesma, a mesma parede branca, o mesmo chão aos quadrados pretos e brancos. Ela saltava de um quadradinho para o outro a um ritmo igual ao da música do piano, embalada por aquele som magnífico que a hipnotizava e a levava a seguir em frente, a seguir aqueles sons.
Cada vez se deixava envolver mais pelas notas, cujo ritmo acelerava progressivamente. Então ela começou a correr para acompanhar o ritmo, para alcançar finalmente aquela melodia antes que chegasse ao fim. Correu e correu. Os seus cabelos castanhos esvoaçavam atrás de si, antes de começar a correr reparou no vestido longo que envergava, um belíssimo vestido rosa-pálido que teve de segurar para não tropeçar enquanto corria. Da forma como estava vestida parecia que ia para uma festa, ou talvez já tivesse estado numa.
A parte do vestido que não segurava. ondeava atrás de si, deixando um rasto rosa-pálido, como uma miragem que surgia e desaparecia num instante.
A melodia continuava, cada vez mais forte, cada vez mais sentida, cada vez mais apaixonada...
Afinal parecia que se aproximava.
De repente viu uma sombra à sua frente e parou abruptamente. A melodia cessou também.
Olhou em frente e viu duas gigantescas portas de ébano, com um relevo profundamente detalhado, figuras de apaixonados... Eram majestosas e pareciam-lhe demasiado pesadas para as conseguir abrir.
No entanto decidiu tentar. Deu dois passos em direcção às portas e quando estava prestes a tocar no puxador de ouro da porta esta abriu-se.
Espreitou para o seu interior e encontrou uma sala muito mais iluminada que o interminável túnel de que finalmente conseguira sair.
Largou o vestido, e este caiu suavemente ocultando novamente as suas pernas... Perscrutou novamente a sala com o olhar e tentou encontrar a melodia com os ouvidos... Mas a sala estava num silêncio impenetrável.
Ouviu as portas a fecharem-se atrás de si e quando se virou para estas novamente já não estavam lá, isto não a sobressaltou, pareceu-lhe normal no momento. No lugar onde antes estavam as portas conseguiu distinguir uma figura tão negra como estas, um belíssimo piano de cauda.
Não conseguia ver o pianista, nem sequer sabia se estava ali algum.
Caminhou lentamente, arrastando os pés para o imponente instrumento.
De repente ouviu-se novamente a melodia... Ela acelerou a passada, e em menos de um segundo estava do outro lado do piano.
Um homem belo olhava-a não parecendo surpreendido por ela estar ali. Sorriu-lhe enquanto tocava.
Aquele homem pareceu-lhe familiar, e a melodia que agora estava tão próxima -la ruborizar.
-Estava à tua espera. - disse o homem.
Ela sorriu e pareceu compreender o que ele dizia, sentou-se a seu lado no banco do piano e começou a tocar a melodia uma oitava acima do que ele tocava...
Olharam-se simplesmente, acompanhados pelo som do piano em que ambos tocavam.
-Estava à tua procura. - disse-lhe ela.

Não vos posso explicar porque se procuravam um ao outro, não posso dizer nada mais do que isto porque nada mais sou do que uma expectadora esta noite, agora sei tanto como vocês, e não me cabe a mim dar um fim a uma história que não é minha. Terminem-na como quiserem ou apreciem apenas o suspense e o instante em que nada acontece, o instante que antecede as coisas importantes, como o momento antes de um beijo, ou até o segundo antes de morrermos.

Para quem se quiser aventurar a conhecer-se


Para quem quiser tentar, consiste em responder às seguintes perguntas:

Mania: sou extremamente desarrumada e encontro a minha ordem no caos, tenho a mania de cantar no duche, quando estou sozinha em casa, no carro, no meio da rua. Tenho a mania de decorar pequenas coisas insignificantes como a matrícula de um carro que passou por mim no outro dia, o nome do restaura pelo qual passei, não associo datas às minha memórias, por vezes lembro-me de certas coisas por peças de roupa que usava, por um colar, por um determinado lugar, uma certa palavra, mas nunca nada tão impessoal como uma data.

Melhor cheiro do mundo: o cheiro nostálgico que fica quando as pessoas partem, aqueles odores que pairam no ar quando aquela pessoa tão importante já partiu há muito, a fragrência que nos recodará eternamente daquele momento mágico, da pessoa que nos mudou. Mas o cheiro a terra, quando chove é fantástico, principalmente quando a água da chuva escorre pelos meus cabelos e me recuso a sair de debaixo daquele fantástico fluxo de água.

Se o dinheiro não fosse problema: Corria o mundo não olhando para trás, comprava uma casa no meio de uma floresta, isolada do mundo, no meio da natureza, um mundo só meu, o meu refúgio.

Habilidade doméstica: acho que não tenho nenhuma, não sou propriamente adepta das tarefas domésticas, prefiro pensar que ainda não descobri essa minha habilidade...

O que não gosto de fazer em casa: limpar o pó (a alergia mata-me quando o limpo)

Frase preferida: não sei ao certo mas se tivesse de escolher apenas uma diria: “O coração tem razões que a propria razão desconhece.”

Passeio para o corpo: uma caminhada debaixo da chuva, descalça, caminhando na relva, sentindo a roupa a colar-se ao corpo, os cabelos a pingar, os pés a tocarem a terra molhada, água até ao mais profundo de nós, a natureza, o equilíbrio, tudo isto numa simples caminhada à chuva.

Passeio para a alma: andar sem rumo numa cidade desconhecido, onde ninguém reconhece a nossa cara, onde não temos um passado, apenas um presente e uma possibilidade de futuro, um local onde as questões mundanas desaparecem, onde podemos ser quem quisermos, como quisermos, pensarmos o que quisermos. Ou então, uma aldeiazinha remota, escondida atrás das montanhas onde as pessoas conhecem apenas aquilo que queres mostrar, onde ninguém me questiona a não ser eu própria, um local natural, único, que me permita sonhar. Ou um simples passeio por um lugar desconhecido por muitos, perto de uma cerejeira.

O que me irrita: a hipocrisia, pessoas que querem mostrar mais do que aquilo que são, que inventam uma personalidade que pode agradar aos outros mas não se verifica em nada na sua própria personalidade, pessoas que deixam a vida passar-lhe à frente, sem reagirem, sem viverem.

Frases ou palavras que uso mais: A sério?

Palavrão mais usado: merda

Vou aos arames quando: as pessoas falam mal de mim e depois sorriem descaradamente na minha cara, quando me mentem, quando se aproveitam dos meus momentos de fragilidade para me repreender infundamentadamente

Talento oculto: provavelmente o meu jeito para a comédia e para dizer as coisas directametne às pessoas até mesmo insultá-las sem que elas percebam que o estou a fazer (às vezes era bom que percebessem)

Queria ter nascido a saber: que as pessoas me magoam e desiludem muito facilmente, que nunca hei-de gostar da pessoa certa, gostava de ter nascido a saber que não há ninguém perfeito para mim porque as pessoas imperfeitas são as que apresentam a maior perfeição aos meus olhos e as que me cativam de forma inesperada.

Tentem também, não é tão fácil quanto parece, mas é uma boa forma de nos tentarmos perceber a nós próprios e tentarmos aproximar-nos um pouco mais da resposta à pergunta "quem sou eu?" que penso que nunca vou conseguir responder na plenitude. Abram-se para o mundo e mostrem um pouco de vocês.

O meu primeiro selito =)

Agradeço à S. do Blog "Confessions of a fashion girl" por me ter nomeado para este selo. Um beijo para ela.
E desde já proponho os seguintes blogues que considero que o merecem:
*http://anaabmd.blogspot.com/
*http://adilianunes.blogspot.com/
*http://crmartiins.blogspot.com/
*http://dequecoressoufeita.blogspot.com/




sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Carpe Diem

Mais uma manhã.
Decidi levantar-me cedo e dirigir-me para a praia. Vesti-me apressadamente não me preocupando minimamente com a forma como me apresentava, apenas sabia que me sentia bem, feliz.
Corri um pouco, enchendo os pulmões com o ar fresco da manhã. Inspirei fundo e corri um pouco mais depressa, ansiando por inspirar o fantástico cheiro a maresia.
Mais uns passos, uma estrada, mais uma passadeira que me falta atravessar, e... finalmente cheguei.
O cheiro é definitivamente magnífico, deslumbrante, tocante, único. descalcei-me rapidamente e dirigi-me para o areal, a areia fria debaixo dos meus pés amortecia as minhas passadas, enquanto eu os enterrava firmemente procurando afundar-me, uma brisa suave acompanhava-me e o no horizonte viam-se os primeiros raios da aurora.
E ali estava eu, olhando o infinito azul da praia, o belíssimo nascer do sol, arrebatada pela beleza que todos os dias temos oportunidade de observar mas raras vezes nos preocupamos em fazer.
O vento mudou de repente e o lenço que tinha preso ao pescoço voou para longe, como que dançando no ar, acompanhando os movimentos irregulares do vento, dançando, movendo-se de uma forma fluída... Desviei o meu olhar dele e não me preocupei em procurá-lo mais. Avancei para a água gelada e toquei com a ponta do dedo do pé direito numa pequena onda que se enrolava na areia mesmo à minhe frente. A água estava gelada e arrepiou-me apenas com aquele toque.

Ouvi uma inspiração ofegante atrás de mim. Virei-me sobressaltada pois não me tinha apercebido da aproximação deste sujeito pois os seus passos eram abafados pelo areal. Aquele senhor que se apresentava perante mim estava com um ar desalinhado tal como eu deveria estar, e tinha na mão direito o meu lenço, aquele que não me dignei a alcançar.
-Penso que isto é seu. - disse ele.
-Obrigada.
Disse apenas isto e com indiferença voltei a olhar para a magnificente paisagem à minha frente. Não pretendia ofender o senhor que me trouxera o meu lenço de volta mas aquela imagem era bem mais importante que aquela situação mundana.
Naquele instante apeteceu-me mergulhar nas águas límpidas e azuis e assim o fiz. Tirei a camisola e as calças que tão apressadamente vestira e atirei-as ao chão com igual indiferença. Olhei para o desconhecido que me observava confuso e incitei-o a acompanhar-me... Julguei-o abismado com a minha suposta loucura e portanto nada respondeu.
Corri em direcção à água e na fracção de segundo que entre a minha corrida e o mergulho na água fria como gelo sonhei estar noutro lugar, senti-me livre, fugindo às regras impostas pela sociedade e aprovadas por pessoas que não amam a vida, e não descobriram ainda a melhor forma de a viver...
Segundos depois estava dentro de água, nadando livremente, e foi aí que encontrei uma garrafa. Uma pequena garrafa de vidro com uma mensagem encarcerada lá dentro, ou pelo menos, assim parecia...
Decidida a decifrar esta insólita situação saí do mar a tremer, com o cabelo a pingar gotas salgadas que me escorriam por todo o corpo, naquele momento também eu cheirava a mar.
Sentei-me na areia junto do senhor que atónito me olhava, abismado pelo meu comportamento inusual, quem sabe, impróprio.
Peguei na garrafa e abri-a. Continha duas palavrinhas muito simples, em latim, que quase toda a gente conhece: Carpe Diem
Sorri, porque nada mais me restava fazer, sorri porque senti que queria viver o momento, como o fizera impulsivamente naquela manhã, e queria influenciar os outros a fazê-lo. Portanto entreguei o pequeno pedacinho de papel ao senhor ao meu lado:
-Sabe o que significa? - perguntei eu.
-Sim. Vive o momento.
-Acho que devia começar a fazê-lo agora mesmo.
O senhor limitou-se a olhar para mim e de uma forma inesperada levantou-se e correu rapidamente para a água, atirou-se de cabeça para regressar à superfície encharcado, com água a atolar o seu sobretudo... Voltou para a areia e sorriu para mim... E que sorriso aquele.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A idade da beleza

Uma amiga minha tirou umas fotografias maravilhosas para um suposto concurso e pediu-me uma ou duas frases para representar o tema alusivo do concurso. As fotos ficaram fantásticas e tive de me esforçar para conseguir equiparar o magnífico trabalho fotográfico.
As fotos são de Catarina Rocha e o texto é meu.


Este rosto é desconhecido para mim, é como muitas outras pessoas idosas que se cruzam diariamente comigo na rua, e todas aquelas que conheço de vista quando visito os meus avós numa aldeia perdida entre as montanhas.
Não. Não é apenas mais uma idosa que não se consegue distinguir das outras, é uma pessoa genuína, verdadeira, com uma beleza intrigante se ultrapassarmos o ideal de beleza que a sociedade adquiriu nos últimos anos, as modelos extremamente altas e esqueléticas, com uma pele imaculada e muitas vezes sem personalidade, sem história. Perante esses padrões absurdos esta senhora não é sequer digna de um comentário porque há muito que ultrapassou a idade de ser considerada bonita, mas as pessoas que pensam assim enganam-se. A beleza não está confinada às pessoas aparentemente perfeitas, está em todos nós, por mais que isto posso parecer um lugar-comum não o é, é a simples realidade. Esta senhora é linda, e esta fotografia realça-a ainda mais, exalta as suas rugas progundas, os sulcos que lhe marcam a cara, cicatrizes que não pode apagar, porém são traços de beleza, de genuinidade, de sabedoria, seja ela a que pode ter adquirido através dos estudos ou os conhecimentos da vida, provenientes das vivências que marcam agora a sua memória.
Se continuarem a achar esta senhora desinteressante, observem os olhos, profundos, olhos que transmitem esperança, que contam uma história, olhos que decerto choraram, olhos que amaram profundamente, olho que viram a beleza do mundo mesmo que esse pequeno não abrangesse mais que uns meros quilómetros de distância em relação à terra onde viveu, esse seu mundo pequenino e belo, cheio de infinitas possibilidades para ela...
Com certeza viveu o suficiente para ter de enfrentar a guerra, talvez a pessoa que amava tivesse partido para a guerra para não mais voltar, talvez tivesse lutado em casa tratando da família, quem sabe... Esta senhora pode ter sido a rapariga mais bonita da aldeia e agora não ser considerada mais que um trapo velho...
Mas, leitores, esta mulher apenas me transmite esperança com aqueles olhos sábios, o sorriso que teima em aparecer na sua boca marcada pelos anos, a forma com olha directamente para a câmara não temendo os imensos observadores que provavelmente vão olhar para ela, confiante em relação à pessoa que é.
A beleza está nos olhos de quem a vê.

Esta senhora cativa-me, sinto-me tentada a conhecê-la e ouvir a sua história. Talvez o faça, um dia.

O meu eu atormentado

Sinto-me dividida... Tenho diversas facetas e temo que ninguém me conheça realmente, saiba quem é a pessoa que está cá dentro, que sofre com as palavras mais simples e por vezes consegue suportar as frases mais duras.

Temo que apenas mostre uma parte de mim a cada pessoa, a parte que essa pessoa consegue perceber de mim, cada um dos fragmentos da minha personalidade são entregues a uma pessoa, a um amigo, para que o acarinhe, proteja e compreenda. Há pedaços que ainda mantenho comigo, esperando encontrar a pessoa certa para os partilhar.

Talvez apenas uma ou duas pessoas me tenham visto sem artifícies, sem maquilhagem, sem nada a encobrir-me, a ocultar-me, a realidade dura da minha fragilidade e simplicidade... Apesar de chorar muito, muito poucos viram as minhas lágrimas, muito poucos foram aqueles com quem chorei apesar de ter secado muitas lágrimas com a delicadeza das minhas palavras e a preocupação genuína que nutro pelos que me importam...

Talvez eu não seja assim tão diferente das pessoas que critico, talvez esteja a afastar-me como toda a sociedade de nós próprios, do mundo, das pessoas... Talvez me esteja a concentrar dentro de mim própria, guardando-me fechada no interior de mim mesma.

Já sofri, já me magoaram, e gostaria de poder dizer que o ultrapassei mas fiquei marcada, marcada com cicatrizes profundas na minha alma, que mudaram a minha forma de ser de forma praticamente irreversível. Houve alturas em que me senti impossibilitada de amar, e para alguém como eu, com necessidade de confiança e partilha esta perspectiva é horrível, a falta de cofiança nas pessoas, a necessidade de me esconder para que as pessoas não se aproximem e me magoem mais uma vez sem se preocuparem com as consequências dos seus actos pueris...

Já me senti só, abandonada pelos que importavam, pessoas que partiam para provavelmente nunca mais voltarem, apenas as veria em mínimas visitas, acabando-se os jantares sem planeamento prévio, as gargalhadas espontâneas nos intervalos, a noção de estar a 5 minutos de um abraço, a possibilidade de um jogo de ténis, um passeio apenas porque sim...

Senti que os que ficaram não percebiam a minha perda, me deixavam para trás sem se preocuparem em perceber a tristeza que eu tentava ocultar (ou não) com um sorriso, continuavam a viver deixando-me para trás, meia morta, meia viva, desamparada, perdida, no meio de nada, num turbilhão infinito de emoções, de sentimentos contraditórios, de procura de culpados para o que acontecia com ela, com ele, para tudo, para nada, para a vida, para a razão porque continuava ali deitada no chão embargada nas minhas próprias lágrimas silenciosas, no choro que ninguém tentava ouvir, na súplica por compreensão e apoio.

Eu precisava de alguém e ninguém veio, todos se afastaram, tentei lidar com os problemas sozinha e aí surgiu a verdadeira necessidade de escrever, de enfrentar as situações sem limitações, de ver o que se passava dentro de mim sem barreiras, de me entender sem a ajuda dos outros...

Aí comecei a afastar-me do mundo mas a aproximar-me do mundo para poder mais tarde, quem sabe, voltar a ver o mundo de igual forma.

Chorei todas as lágrimas que tinha para chorar, lágrimas frias, duras, que me magoavam, o coração doía, os olhos maltratados por verem a dor que me cercava, os ouvidos consolados por melodias agradáveis e um pouco melancólicas a meu ver na altura, como Chopin e Yann Tiersen.

Chorei, fechei-me no meu interior e encerrei os meus problemas bem fundo depois de os enfrentar, quando aceitei a realidade que não estava só e que se o estava apenas me podia culpar a mim senti-me a renascer, a florir, a acordar depois de uma noite longa e tenebrosa, de um pesadelo, de nada mais que um sonho mau que ficou para trás...

Agora posso dizer que estou feliz, que me sinto melhor, ainda estou a tentar melhorar, a aprender a entregar-me, a temer menos, mas estou a chegar lá, estou a lutar para ser a pessoa que quero ser, e que serei... um dia, num dia próximo. Perdi-me pelo caminho mas voltei a encontrar-me.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Post inusual (desafio: um pouco de mim em 5 revelações)

Este vai fugir muito à minha escrita usual mas como a blogger S. me propôs este desafio decidi fazê-lo, até porque se pode tornar interessante.




Este selo não é propriamente do meu agrado mas passemos à parte importante...

1º-seguir as regras
2º-levar o selo acima que identifica quem está, esteve ou estaráno desafio
3º-completar as seguintes frases:
a)Eu já...
b)Eu nunca...
c)Eu sei...
d)Eu quero...
e)Eu sonho...
4º-depois de completar as frases com as respostas indicar 5 blogs para dar sequência ao desafio


Estas frases aparentam ser simples de completar mas estou a ter certas dificuldades em conseguir reduzir em breves frases as infinitas possibilidades de resposta que consigo encontrar para mim, vou tentar ser o mai fiel a mim própria ao completar...



Eu já vi a dor estampada em muitos rostos diferentes, alguns deles desconhecidos, mas já vi a capacidade do ser humano em criar beleza e felicidade.
Eu nunca vou abdicar de mim mesma, das minha ideias e tudo aquilo que sou, para que seja mais fácil aos outros compreenderem-me e lidarem comigo.
Eu sei escrever as palavras de forma a expressarem os meus sonhos e visões do mundo, ou pelo menos espero saber fazê-lo.
Eu quero ser imortal, permanecendo na memória das pessoas que me conheceram. (Porque mesmo depois de morrermos se no mínimo uma pessoa se recordar de nós é porque marcámos a diferença e continuamos presentes mesmo que não seja fisicamente).
Eu sonho com uma vida perfeita nas imperfeições, uma felicidade imensa e que abranja os que me rodeiam, sonho com os erros que vou cometer apenas porque tive a oportunidade de viver.


E as pessoas a quem lanço o desafio de responderem a estas perguntas:
http://anaabmd.blogspot.com/
http://adilianunes.blogspot.com/
http://crmartiins.blogspot.com/
http://callingyouinsane.blogspot.com/
http://lixolirico.blogspot.com/

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

home. [continuaçao]

Que viagem tao longa. A cada quilómetro a pulsaçao acelera, sobressalto-me com cada uma das localidades que se aproximam...
Quero ver-te mas a ansiedade, o medo de sofrer, a vulnerabilidade de que fuhira durante anos, a minha própria pessoa, tudo aflorava progressivamente, tudo aquilo que sou, as fragilidades que apenas tu viras surgiram atordoando-me como um relâmpago.
Cheguei. Pelo que consegui saber continuas a trabalhar no mesmo café onde nos conhecemos, aquele com um fantástico piano de cauda em que ninguém toca e tecto com acabamentoa antigos.
As minhas pernas tremem, espero que a ansiedade nao tenha alcançado os meus olhos, ainda.
Vá lá. Só mais um passo.
Fecho os olhos e empurro a porta, a campainhazinha dourada soa e todos olham a porta como o fazem sempre ali, há coisas que nao mudam.
Tu estavas lá. No outro lado da sala. Olhaste para mim com os teus olhos penetrantes, sustive a respiraçao e tive de recordar a mim própria que tinha de respirar. Vi algo no teu olhar. Sorriste. Vi a minha casa, encontrei-a. Encontrei-te.

home.

Quero ir para casa, voar para esse lugar acompanhada pela melodia do vento a roçar nas folhas das árvores, olhando a belíssima paisagem do Outono de uma perspectiva diferente.
Mas o que é casa? Onde fica essa casa? Onde é a minha casa?
Já a procurei na cidade barulhenta e atribulada, a constante correria, os sons urbanos... Mas faltava-me ar. Sentia-me presa, presa numa caixa com paredes que tocavam o céu, quase alcançando as nuvens e ocultando o sol.
Procurei na simplicidade bela do campo, com tocas as cores harmoniosamente distribuídas, um silêncio melodioso. Enquanto aí estava subia ao topo da escarpa mais elevada e gritava o teu nome esperando uma resposta tua mas apenas regressava uma voz embargada em dor, era aquela a minha voz?
Lembro-me que foi no campo onde encontrei durante mais tempo a minha casa mas depois de uns longos meses procurando algo, que procurava eu?, parti.
Pela milionésima vez coloquei a minha roupa na reduzida mala que carregava comigo desde o princípio daquela jornada à procura de tudo, à procura de nada...
Atirei tudo despreocupadamente para dentro dela e parti mais uma vez, nao olhando para trás, pensando no próximo destino, paragem onde pudesse encontrar a minha casa...
Nao me vejam como uma pessoa insensível que esquece o seu passado, esquece todos por quem passou, os lugares onde esteve, trago-os todos no meu pulso esquerdo, em forma de amuletos, a caixa da cidade, a montanha do campo, uma caneta de uma outra cidade, uma simples carica e... uma flor. A que me deste há um ano quando eu fugia uma vez mais de mim mesma.
Vou voltar aí, a essa cidade sem nome, talvez seja essa a minha casa, quem sabe ela nao esteve sempre comigo...
Adoro conduzir, observar a mudança constante de cenário, a aproximaçao de um novo lugar, uma nova história, uma página em branco, mas hojr quero ver-te.
Tenho-te escrito todas as semanas desde que parti. Nunca te dei a minha morada, há muito que nao tenho uma, portanto nao sei se as leste ou recebeste.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

(nenhum título decente para isto nem vontade para tal)

Oiço-te enquanto falas. Sibilas doces palavras consoladoras, tentando evitar as palavras que realmente queres dizer... Oiço-te mas não te oiço. A tua expressão diz mais que as tuas palavras, a tua expressão mostra simplesmente aquilo que temes dizer: já não me amas mais... Continuo a mover a cabeça afirmativamente incitando-te a continuar, para te ouvir dizer, para ter a certeza, para manter uma gotícula de esperança em mim, que ainda não se evaporou progressivamente com a simpatia das tuas palavras, que torna tudo ainda mais difícil... Se não fosses tão correcto poderia culpar-te, dizer que tudo aconteceu por causa de ti, que estávamos bem e simplesmente decidiste que já não me querias mais, mas não, decidiste tomar a atitude correcta e enfrentar o inevitável... Mas ainda é tão cedo, ainda nem se vêem as estrelas no céu, porque não esperaste por amanhã?
Custa-me aceitar que me vais deixar e terei de continuar a ver-te, sabendo o que sentes, sabendo que sabes o que sinto...
Ainda não te decidiste a dizer as palavras importantes, ainda não atingiste a parte em que te tentas explicar, dizendo que é melhor assim porque não consegues lidar com a situação, comigo, apesar de eu ser tudo aquilo que sou...
Não consigo ouvir mais...
-Precisas de tanto tempo para me deixares desta forma? Não seria mais fácil não prolongar o momento humilhante e doloroso em que me colocaste?
-Desculpa. - limitas-te a olhar o chão...
Tu olhas o chão e eu espero por uma explicação, uma palavra, algo mais que um simples "desculpa" incompleto.
Sinto que entre nós se ergueu um abismo, quero ultrapassá-lo mas as hipóteses de me magoar pelo caminho são ínfimas...
Passam segundos, minutos, horas, e permanecemos iguais, tu olhando o chão e eu olhando-te a ti. Uma lágrima só solta-se do canto do meu olho, quase que imperceptivelmente:
-Porquê?
Olhas-me com os teus belíssimos olhos castanhos e parecem-me iguais, o brilho permaneceu, porque não há ali indiferença?


Dás um passo em frente e agarras-me pelos braços...
-Porquê? - pergunto eu outra vez com a voz a tremer pela tua proximidade inesperada mas tão agradável...
Puxas-me mais para ti e encosto a minha cabeça no teu peito... O que está a acontecer?
-Não consigo. - dizes num suspiro.
-Não consegues o quê?
Os segundos que se seguiram foram os mais dolorosos da minha vida, a resposta que poderia chegar a qualquer momento apunhalar-me-ia e despedaçar-me-ia de tal forma que os pedaços já não poderiam ser recolhidos e devolvidos ao seu lugar, estaria destinada a uma existência incompleta, procurando os estilhaços dispersados nesse momento de dor profunda.
Mas o que ouvi não poderia ser mais inesperado:
-Não te quero magoar porque te amo demasiado, não posso ficar contigo porque tenho medo de me magoar a mim próprio...
-Então simplesmente não faças nada...
Abraço o rapaz cuja fragilidade me enternece e beijo-o...
-Vamos ficar aqui, apenas. Sem fazer nada, sem dizer nada, sem compromissos. Apenas nós.
Os nossos olhares cruzam-se mais uma vez e apenas consigo sorrir... Era capaz de lhe dizer que o amo, mas ainda não...
-Estúpida rapariga. - digo sorrindo.
Ele sorri e aperta-me mais contra ele.
-Estúpida o suficiente para gostar dela.
Nada mais se seguiu, apenas o silêncio reconfortante através do qual se deslocavam palavras imperceptíveis... Apenas o toque dela na minha pele, a certeza de que o amo...
-Aqui vai o momento cliché: amo-te.
-Eu sei.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Alice in Wonderland


Estou a meio de um livro fantástico. Por muitos considerado um mero livro para crianças, escrito por alguém com uma visão contrária e um tanto absurda da realidade, mas o que é a realidade?
Estou a falar de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll... É muito mais que uma simples história confusa com cenários impossíveis para as pessoas "adultas", improváveis para os que preferem acreditar apenas no que vêem, mas muito real para as pessoas que gostam de sonhar, beber chá com chapeleiros loucos e lebres de Março, falar com gatos que desaparecem e apenas deixam o sorriso para trás momentaneamente suspenso no ar, bebés que se tranformam em porcos, coelhos brancos que andam sempre atrasados, lagartas, ratos, todo o tipo de coisas absurdas e maravilhosas que possam imaginar, não estivéssemos nós a falar do País das Maravilhas.
É um livro que nos obriga a imaginar os locais estranhos onde tudo decorre, as constantes mudanças de tamanho de Alice, as suas tentativas de chamar os loucos à razão, e se repararem no texto estão presentes certas questões pertinentes, como quem será realmente ela mesmo depois de todas as mudanças físicas, passando de um gigante a um pequenino ser de oito centímetros, que como afirma a lagarta nada de insignificante tem esta altura...
É um livro pequenino que lendo apenas umas linhas nos cativa devido à sucessão inesperada de acontecimentos, a imaginação de Carroll em relação às descrições, a facilidade com que tornou uma história aparentemente sem sentido numa das histórias mais conhecidas pelas crianças e adultos... Dêem uma espreitadela no livro e imaginem a pequenina e aventureira rapariguinha como vestido azul, o avental branco, loira, com uma fita no cabelo e à procura de algo de interessante para fazer, algo mais que ouvir uma história vinda de um livro sem gravuras nem diálogos, porque razão se fazem livros sem gravuras nem diálogos?
Percam um pouco do vosso tempo e entrem num mundo magnífico que apenas lhes abre as portas para criarem a vossa própria versão da história. Qual a próxima peripécia de Alice?
Ainda só vou a meio mas tenciono acabar rapidamente e tentar realmente cativar-vos a ler este livro.

domingo, 8 de novembro de 2009

Obrigada pelas memórias

Como é que certas ligações permanecem no tempo, aparentemente imutáveis... Já não falava contigo há anos, nem recordo a última conversa que tivemos. Cruzo-me contigo regularmente mas não tenho coragem suficiente para te dizer um simples olá, não sei porque, talvez porque deixámos de nos falar abruptamente, depois daquele beijo. Sim, ainda recordo aquele beijo, acho que tudo mudou depois daí... Tínhamos algo diferente, éramos amigos acima de tudo, e sinto que agora ainda o somos, apesar das apenas breves palavras que trocámos acabaste por desabafar comigo, não te limitaste à simplicidade do relato agradável da tua vida, contaste-me o que te magoava, e isso tocou-me...
Não sei porque escrevo isto, não sei porque razão decidi escrever algo tão insignificante para ti, para mim, para todos... Mas preciso de guardar as boas memórias fora de mim, da minha mente, da memória afectada progressivamente com o tempo, as memórias a tornarem-se imagens esbatidas, como uma obra-prima que ninguém decidiu tentar restaurar, um momento perdido pelo tempo, trazido pelo tempo e levado pelo tempo, como uma breve aragem de Verão que surge e desaparece repentinamente, arrepiando-nos ligeiramente com a sua passagem, algo que esquecemos, algo apagado automaticamente da memória, mas tudo, tudo o que foi aquilo, tudo o que se passou preciso de recordar... Não sei definir o que tivemos mas preencheu-me, preencheu o vazio em mim, iluminou-me, obrigada por isso... Pelas memórias.

Sem sentido aparente

Estou feliz. Não sei qual a razão para estar assim, não sei quando surgiu, de onde veio, mas sinto-me feliz... Apetece-me saltar, andar pela rua a cantar musiquinhas engraçadas, a fazer figuras sem me importar com os olhares pousados em mim, a pensarem que endoideci, sem verem que apenas voltei a viver...
Apetece-me andar descalça apesar de lá fora o orvalho gelado molhar a relva e o ar não ultrapassar os 10º C, apetece-me deitar lá fora e olhar o céu, ouvir o silêncio, ouvir os sons da cidade, vozes...
Sorrir. Rir. Chorar no meio de gargalhadas descontroladas, até chegar a uma altura em que não me lembro da razão pela qual comecei a rir.
Quero voar, lá bem alto, lembrar-me por instantes dos momentos infantis em que sonhava voar com os pássaros e percorrer o mundo com uma vista privilegiada...
À minha volta não há aquelas cores pastel, cinzentos, pretos, a minha visão hoje está ligeiramente alterada... como se tivesse caído directamente na toca do coelho e tudo à minho volta fosse confuso e sem sentido...
Vejo cores garridas, um mini sol pendurado no tecto, as paredes brancas estão mais coloridas que o arco-íris, um cascata desde a minha janela, animais a falar do lado de lá, onde estou eu?

-Coelho branco, espera aí, onde vais?
-Estou atrasado...
-Espera por mim...

sábado, 7 de novembro de 2009


Quero Good River outra vez...