quinta-feira, 11 de março de 2010

adeus/

A perda de uma amizade, o desistir voluntariamente de algo que apesar de já ter sido bom só nos tem magoado ultimamente, a necessidade de conservar as boas memórias exactamente como estão, uma despedida ao de leve com uma promessa não verbalizada de no caso de algum dia os nossos destinos se entrelaçarem sermos capazes de restituir o que havia antes de a vida se ter metido pelo meio.
Lembro-me de chorar lágrimas que agora não me arrependo de ter chorado, lembro-me de rir e gostava de ter rido mais vezes, com aquela pessoa.
Ainda me custa fingir uma proximidade que não temos quando me perguntam por ela, apenas para não mostrar o desapontamento ténue que ainda não ultrapassei por ter perdido algo que me era querido, mas quando as pessoas mudam não há maneira de fazer com que resulte baseando-nos apenas no passado, o presente importa acima de tudo, podemos tentar ser diferentes para o que somos prevalecer, mas já não somos o que éramos, a pessoa que sou agora é mais velha do que aquela que era quando começou a escrever este texto, as ideias mudam constantemente, nós mudamos, não conseguimos evitar que a vida se interponha principalmente quando temos um abismo intransponivel entre nós, que cada vez se torna mais fundo, mais largo, mais vazio, mais impossível.
Recordo os momentos bons, aqueles em que chorar me soube tão bem, em que o som das minhas gargalhadas era acompanhado pelo das tuas, e sim, era agradável, era diferente. Sinto as lágrimas as tentarem escapar-se mas já não... Não vale a pena chorar sobre algo que não posso nem quero recuperar, é a inevitável e dolorosa mudança constante da vida.
Eu continuo aqui, as memórias continuam comigo, continuam a lembrar-me que consigo ser feliz e disto tiro a moral de que todos mudamos, constantemente, podemos tentar voltar ao que éramos mas não podemos apagar as partes do nosso passado que queremos para que isso seja possível, somos um livro em que nos pertence apenas a página que ainda não está terminada, as que a antecedem não podemos alterar, não podemos rasgar como se não existissem, somos todo esse livro, somos as nossas memórias, somos o reflexo do nosso passado.
Gostava de poder dizer um adeus formal, algo a que possa associar realmente este fim, o momento em que deixámos de partilhar aquilo que somos, em que cada uma oficialmente seguiu o seu caminho, para ter a certeza de que acabou, para não ter a sensação de meio-vazio, de meio-abandono, de ter desistido...
É provável que nunca leias isto mas adeus, não um adeus definitivo, um adeus em aberto com a possibilidade de um reencontro fortuito em que consigamos regenerar aquilo que ficou para trás, um adeus que tornará mais fácil a vida que levamos agora, um adeus meu para ti, com a promessa de que não esquecerei aquilo que não posso nem quero apagar. Adeus.


2 comentários:

  1. A vida é feita de momentos de adeus... e não fica mais fácil de cada vez que acontece, mas espero que depressa entendas que por vezes não há nada que possamos fazer para mudar o rumo que as coisas tomaram, apenas podemos esperar que um dia tudo melhore.

    Beijinhos grandes

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  2. esse texto é sobre a catarina? Sofia, andreia, iara, carlos, sara, joana, etc ou alguém de quem eu tenha ouvido falar?

    Pelo menos queres guardar as memórias tal como elas foram, sem nada para as deturpar. E ver quando as coisas estao na altura de acabar é uma excelente qualidade. Tudo muda, o facto de o aceitares num momento assim já é bom. Acabamos por recuperar e por nos habituar às mais tristes coisas. Espero que um dia esse sentimento volte.

    beijinho

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