domingo, 21 de março de 2010

depois falamos

Enquanto olho para as pessoas que passam por mim apressadamente o meu pensamento vagueia.
Sentada num banco de jardim, com gotas volumosas de chuva a molharem-me, os meus cabelos a pingarem indistintamente, as roupas coladas ao corpo, quentes gotas isoladas a percorrerem as minhas faces. É assim que me apresento perante as pessoas que desesperadamente querem chegar ao outro lado, para se abrigarem debaixo de um toldo, para fugirem à chuva que tanto me preenche.
As pessoas passam mas não as olho, vejo-as, mas não as olha. Talvez se fossem a pessoa que eu queria que fossem eu me sentisse impelida a levantar os olhos, e lutando contra a semi-invisualidade da chuva, conseguir reconhecer os seus traços.
Não consigo evitar sorrir.
Como no silêncio penso demasiado preciso de iniciar uma conversa. Levanto-me e sob a chuva e dirijo-me para um local escondido dos olhares observadores, onde possa falar sozinha sem ser considerada insana.
Entretanto oiço música, as melodias e as letras que me enviam para um certo transe, que completam de uma forma estranha a minha vida, juntando-lhe uma banda sonora que me agrada.
Agora que ninguém me vê é suposto falar do quê? Falar das pessoas de quem deliberadamente me afastei para não me julgarem mais inusual do que aquilo que já acham? Posso sempre discutir comigo mesma a hipocrisia das pessoas ou ainda a minha própria hipocrisia, afinal de contas é necessária a todo e qualquer ser humano que tenciona ser minimamente social, não se pode gostar de toda a gente e assim sendo, a simpatia que se dirige a determinadas pessoas não passa de uma hipocrisia precedida apenas por uma necessidade de fazer o que a sociedade considera correcto. Posso dialogar comigo mesma, falando das minhas recordações, ou talvez da minha ânsia de liberdade, ou posso apenas divagar sobre ele, mas isso não o quero fazer, apenas me ridiculizaria mais. Posso imaginar como será o meu futuro, ou viajar novamente pelo passado, mas assim estaria a perder o presente.
Com tantas possibilidades declaro-me vencida. Regresso para o meu banquinho, sem música desta vez, as gotas devem ser suficientes.
O cheiro a terra impregna o ar e sabe tão bem. A sensação de liberdade, e o ar abafado mas ligeiramente fresco que remete para o Verão. Vou disfrutar apenas da chuva enquanto ela durar, depois falamos Andreia.

1 comentário:

  1. Este texto está tão cheio de loucura , esquizofrenia e insanidade . Está tão repleto de sentimentos complexos , de histórias profundas e personalidades complicadas . Adoro ! É tão tu , tão a tua loucura , tão a tua personalidade (:

    Adoro-te milhões *

    ResponderEliminar