domingo, 13 de dezembro de 2009

História longe de ser minha

Liguei-te. Precisava de falar, de alguém que me pudesse ouvir visto que em minha casa o silêncio apoderava-se de todas as divisões eu precisava desesperadamente de ouvir alguém e de me ouvir a mim.
Entre conversas triviais que me fizeram rir e me devolveram o ânimo contaste-me o que te tinha acontecido naquele dia.
Por alguma razão aceitaste ir tomar um café com o teu pai, tudo bem até aí. O local nao te agradou propriamente muito menos quando descobriste que o teu pai tinha dito a uns amigos dele para irem com vocês. Entre conversas em que simplesmente intervinhas por pura educação e não por interesse perguntaste discretamente se podias ir ter com umas amigas.
Saíste do café e foste para as ruelas, não havia ninguém ali. Não tinhas a certeza se encontrarias alguém mas esperavas ter essa sorte. Enquanto procuravas alguém infrutiferamente diverteste com o fumo branco que sai da tua boca, característico dos dias gélidos que abatem esta nossa cidade no Inverno.
Quando desististe e decidiste voltar para o café derrotada alguém te puxou pelo braço para um canto escuro. Como rapariga assustadiça que és temeste que te fossem assaltar ou magoar de alguma forma, compreendo a confusão e temor que deves ter sentido.
Enquanto me contas isto reparo num tom diferente na tua voz, não o de medo mas uma emoção escondida entre as palavras, no suspiro que lanças aqui e ali, como que um presságio para o que me vais contar a seguir.
Dizes-me que reconheceste automaticamente o perfume da pessoa que te agarrava. Ele. Não, não podia ser ele. Paraste confusa com o absurdo do momento mas uma energia renovada é emanada pela tua voz quando atinges esta parte.
Ele falou. Disse-te um olá preocupado seguido de uma pergunta como "Assustei-te?" à qual não consegues responder por estares atordoada com a ironia da situação. Disseste num sussurro como que para te desculpares que tens medo do escuro. Ele respondeu que já sabia e deixa a luz do telemóvel a iluminar ligeiramente aquele cantinho obscuro.
Falas cada vez mais depressa com a emoção do momento, não percebo se queres contar-me o fim mais depressa ou se não queres prolongar toda esta situação dolorosa e inesperada.
Chegou o momento em que ele te disse que sentia muito a tua falta e que tinha errado. Disse que te queria de volta.
Penso que querias ouvir estas palavras mas não sabias como reagir a elas, eram simplesmente ilusórias, como um sonho ou um pesadelo, palavras ambíguas, ambivalentes.
Contas-me que lhe disseste exactamente aquilo em que pensaste, riste-te de forma triste pela forma como tudo se tinha desenrolado. Pelo que me dizes a mim as tuas palavras foram algo como "Não vou voltar para ti. Não te perdoo. Foste um idiota pela forma como agiste e não vou permitir que me magoes mais uma vez.", enquanto pensavas "Claro que não te esqueci, claro que volto para ti, não precisas de me reconquistar porque ainda sou tua.".
A imagem que as tuas palavras geram na minha mente são de um rapaz que eu considero extremamente forte e seguro de si sem ser presunçoso, fragilizado, magoado pelas tuas palavras duras.
Dizes-me também que ele te perguntou se tinhas a certeza ao que tu respondeste convictamente que sim, que apenas estavam naquela situação por aquilo que ele fizera. Referes que te pareceu que ele chorava enquanto te deixava ali, petrificada, confrontada com a realidade do que tinhas feito.
Voltaste para o café justificando-te perante o teu pai com um insignificante "Elas foram embora mais cedo." quando todo aquele momento insólito tinha sido muito mais que isso.
Depois de ouvir toda a história perguntas-me o que acho, qual a minha opinião acerca do que fizeste.
Custa-me imenso responder a esta questão, podia tomar o teu partido e apoiar-te poe sermos amigos, mas também o conheço a ele e sei como é... Não há um certo e um errado nas situações há apenas o que acontece, não há hipóteses, outras saídas. Não fui eu que sofri com a forma dura como ele te deixou nem fui eu que suportei a tua ausência como ele o fez... Não posso dizer que foste covarde nem corajosa, demonstraste coragem quando ultrapassaste aquilo que desejavas para tomares a decisão que consideravas correcta, mas posso dizer que foste covarde ao desistir de algo que realmente querias apenas porque podias sofrer, não sofres de qualquer maneira? Podias arriscar mais uma vez, não irias perder mais do que da outra vez.
Não sei. Não te censuro, não te apoio, estou impossibilitada de decisar o que acho disto, mas pelo tom da tua voz nem tu decidiste ainda. Consigo distinguir tonalidades de dor na tua voz, de incerteza, enquanto tentas convencer-te a ti própria que a decisão que tomaste foi a correcta, que foste forte, sim, foste forte, mas podes ter perdido momentos de alegria que te teriam marcado.
Invejo-te pela possibilidade que tiveste, pelo que vocês tiveram, mas não invejo este momento que viveste, qualquer que fosse a decisão que tomasses nunca seria completamente certa, decerto que te arrependerias dela mais tarde.
Sabes bem, Adília, que te compreendo e te adoro, que és uma das amigas que mais me têm apoiado, e independentemente da escolha que podias ter feito e da que fizeste apoio-te, queria que soubesses a opinião que não tive oportunidade de exprimir concisamente quando me contaste isto tudo, espero que me percebas e que te percebas a ti própria...

1 comentário:

  1. Eu disse que ia gostar Andreia ...
    Independentemente da tua opinião , do teu texto , da minha decisão , eu gostei . Imenso .

    Ver a história contada por outra pessoa , noutra perspectiva , fez-me ver as coisas de maneira diferente ...

    "Podias arriscar mais uma vez, não irias perder mais do que da outra vez" : O problema é que não ia arriscar mais uma vez , mas sim uma 3ª ou 4ª vez ...

    Mas obrigada por tudo . Pelo apoio , pelas palavras , e sobretudo pela sinceridade .

    Adoro-te imenso Andreia.

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