quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sabes o quanto me magoas?

Enquanto me olho ao espelho vejo apenas uma rapariga patética incapaz de aceitar a realidade do seu fracasso, da insignificância da sua existência, das memórias tão reduzidas que deixaria para trás se morresse, se simplesmente deixasse de viver, se deixasse levar pela corrente, se deixasse ir...
Há pouco disseste palavras horríveis. Aprofundaste o desapontamento que já sentia pelos erros que tinha cometido, falavas para mim enquanto eu distraidamente observava o ecrã do computador pousado nos teus joelhos. Falavas e eu respondia com monossílabos para que não percebesses que a minha voz tremia.
Eu estava nervosa, irritada, magoada, desiludida comigo e contigo por me magoares assim, sabes como sou sensível mas continuas a fazê-lo, fazes isto desde que me lembro.
Não consegues ver a minha cara, quando decidi contar-te coloquei-me estrategicamente atrás de ti para que não me olhasses.
O que mais me magoou de entre tudo o que disseste foi indirectamente teres afirmado que não consigo, que sou incapaz de fazer o que quero, de fazer o que quiser na vida, que estou condicionada pela limitação dos meus conhecimentos reduzidos. Lágrimas corriam nas minhas faces mas eu tentava que não te apercebesses delas, não queria que me visses chorar e pensasses que sou realmente patética e fraca.
Sim, sou orgulhosa, assim como tu o és.
Entre breves e sussurradas palavras disse-te que ia à casa-de-banho. Fechei a porta silenciosamente, tranquei-a, olhei-me ao espelho e chorei. Naquele momento de dor jurei que desistiria de Medicina, que me ia dedicar a algo mais fácil, a algo dentro das minhas capacidades limitadas, algo fácil para o qual não precisasse de me esforçar, claro que desisti logo desta ideia estapafúrdia mas naquele instante em que vi os meus olhos raiados de vermelho, com lágrimas a brotarem incessantemente decidi aproveitar-me daquele momento de confidência comigo própria e desisti, deixei-me ir, libertei-me de todas as pressões e tomei uma decisão falsa enganando-me a mim própria para sossegar por instantes a amargura que sentia...
Sim, também sou patética.
Deves ter-me ouvido chorar porque mais tarde, indirectamente tentaste compensar as palavras duras que me tinhas dito... Tentaste que eu te entendesse e entendi, não porque o que disseste depois era realmente o que sentias mas porque era melhor do que tudo o que tinhas dito antes, era mais fácil de ouvir, mais motivador, era a voz que eu precisava.
Não foi a primeira vez e decerto não será a última, entretanto vou aproveitando os felizes momentos em que choramos e rimos juntas, em que és simpática e me ajudas, te preocupas, não de uma forma agressiva como hoje, mas de uma forma carinhosa, mostrando-me que estás ali...
Somos tão diferentes, quem me dera ser um pouco mais como tu às vezes, ou não.

2 comentários:

  1. Caramba Andreia.. Que bonito.. Até chorei. :,|

    Está tao expressivo, obriga-nos a sentir uma profunda apatia pela outra pessoa, conseguimos partilhar da tua dor e temos a sensação de ver a cena como um pequeno filme na nossa cabeça..

    Imaginária ou real , esta situação, nunca deves desistir daquilo que queres , dos teus sonhos. Porque tu és o meu ídolo. És um exemplo a seguir.

    Não te digo isto por gostar de ti , por te considerar já uma amiga de longa data , mas sim porque do pouco que conheço de ti sei que consegues alcançar e realizar tudo aquilo que te proponhas.

    Resumindo: Amei. :)

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  2. Talvez deva começar novamente por dizer que já vivi o que retratas neste texto. Sempre quis ser médica, desde que me lembro de existir, já lá vão uns anos desde que esse sonho ficou para trás. Mas lembro-me como se fosse hoje, não entrei e tinha média de 18,3, foi aí que a minha vida mudou.

    Todos me disseram que ficasse um ano e tentasse novamente, ponderei essa hipótese claro, mas resolvi seguir com a minha vida. Não porque o sonho não fosse suficientemente forte, mas sim porque eu tinha outros sonhos mais recentes que queria seguir e não ficar eternamente naquela espera horrível.

    Penso que tive sorte, adorava química e resolvi ir para engenharia química enquanto me decidia se voltava a fazer exames novamente ou não, precisei de uns 2/3 meses para saber que estava no lugar certo para mim, adoro a minha profissão, sinto-me feliz e realizada, sou uma profissional excepcional e não me arrependo de não ter tentado novamente.

    No entanto devo dizer-te que acho que teria conseguido se tivesse tentado, sei que seria capaz e provavelmente seria igualmente feliz se o tivesse feito, nem sempre a vida nos reserva uma única hipótese, nem sempre existe apenas um caminho que podemos seguir, mas custe o que custar nunca devemos desistir nos nossos sonhos e somos sempre capazes de conseguir tudo só temos de o querer realmente.

    Beijinhos S.

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