terça-feira, 19 de janeiro de 2010

(semi-)crónica da hipocrisia

Pessoas que se fazem passar por algo que não são, simples hipocrisia ou necessidade de serem algo que não são para parecerem alguém especial?
Não percebo a necessidade de as pessoas se rotularem a si próprias, tentando parecer mais cultas do que são, dizendo que ouvem música clássica, de que serve ouvi-la se não a sentem? Posso não perceber nadinha de Bach, não distinguir um nocturno de Chopin de uma sonata de Mozart, de não reconhecer os bailados de Tchaicovski, a batida característica e as notas dominantes de Beethoven, mas consigo sentir uma música, deixar-me embalar pelas melodias em vivace, allegrato, moderato, lento, largo, tempo giusto... Silêncios que ocultam o vazio da divisão, sons que preenchem e expulsam aquilo que tentamos esconder bem lá no fundo.
Mas a questão não se resume a música mas à necessidade de cada vez mais as pessoas esconderem aquilo que são, as suas preferências, com medo de serem julgadas e postas de parte, e quando não se julgam dotados de uma grande personalidade ao invés de se esforçarem por conhecer algo de que gostem recorrem a clichés que não percebem, esperando que as suas acções medíocres passem deapercebidas, assim como a sua falta de habilidade de escolha e capacidade de serem a pessoa que são.
E a frontalidade? Estamos a perder a capacidade de falarmos uns com os outros, o que complica muito isto são as ditas redes sociais, onde as pessoas criam o seu "Perfil" de uma forma que acham atractiva para os outros sem serem fíeis a si mesmos, não compreendo a finalidade de nos mostrarmos ao mundo todo, principalmente quando mostramos uma mentira.
Onde estão as conversas em que se diz directamente a uma pessoa aquilo que se pensa para que esta possa argumentar, defender-se e à sua opinião? Perdemos a habilidade de falar com os outros sendo nós mesmos,  e ganhamos cada vez mais existências virtuais em que não somos nada nem ninguém, não somos uma pessoa com uma opinião, mas alguém com uma página web que não diz o que quer dizer mas o que deve para as pessoas quererem ser "amigas" dela, e depois fazem do número de amigos informáticos uma competição interminável, quantos daqueles sabem quem são? Provavelmente um ou dois.
Sei que a hipocrisia nunca vai acabar, nem a necessidade de se ser uma pessoa diferente apenas para constarmos da lista de contactos de alguém, mas valerá a pena perdermos a nossa identidade, que afinal é o único que é realmente nosso, para sermos alguém para os outros? Que tal sermos alguém para nós primeiro e a sociedade ser um acréscimo natural?

2 comentários:

  1. gostei imenso do teu texto. Detesto pessoas que se fazem passar por aquilo que não sao, que tentam ser superiores a elas mesmas eaos outos. Isso nunca serve de nada. Hipocrisia é das piores caracteristicas que alguém pode ter

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  2. O problema é que as pessoas vivem descontentes com aquilo que são e sentem necessidade de mostrar que são muito melhores... eu odeio hipocrisia.

    Beijinhos

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