sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"deixem-me respirar"

Despedi-me despreocupadamente das vozes que me tentavam dizer para ficar enquanto eu caminhava para o nada, perguntavam-me para onde ia mas nem eu sabia ainda, não era capaz de responder a essas questões portanto limitava-me a dizer "Preciso de apanhar ar.".
Precisava desesperadamente de ar, de vazio, solidão, mas não a solidão de um quarto, de quatro paredes, um vazio meu, um vazio que já conheço.
Continuei a andar, com os auscultadores nos ouvidos, tentando que ninguém me reconhecesse, ninguém me dirigisse a palavra, ninguém reparasse que eu não devia estar ali.
Atravessei a ponte, olhei do alto todos os lugares onde tínhamos estado e que esperava rever com ela, mas parece que me resta vê-los apenas através dos meus olhos sós.
Têm-me questionada indefinidas vezes se estou bem, o que se passa afinal comigo, digo que está tudo bem enquanto oculto a mágoa que sinto com um sorriso rasgado e exagerado, o que me parece mais credível naquele momento.
Continuei a andar descendo as escadas escuras da ponte, caminhando pelos caminhos empedrados, pela pequenina ponte de grades, caminhando um pouco mais chego à ciclovia, onde andei descalça com ela, onde o obriguei a andar descalço. ponho a música mais alto para evitar ouvir os meus próprios pensamentos mas infelizmente não me posso enganar a mim própria. Fecho os olhos durante longos segundos, pestanejando lentamente, na tentativa de afastar a visão do passado que se desenrola à minha frente nos jardins da memória.
Nunca pensei que me afectasse desta maneira, não queria que fosse assim, queria estar feliz, mas não o consigo, não com o silêncio entre nós as duas que não consigo transpor por causa dos quilómetros que nos afastam.
Sento-me a olhar melancolicamente para a frente, para um lugar onde o rio ainda flui calmamente, antes de enfrentar a turbulência a meros metros à frente devida à abundância excessiva de água para aquele reduzido leito. Deito a cabeça na mochila que tinha pousado no banco de jardim à frente do rio. Ponho as pernas em cima do banco e olho para cima, fico encadeada pelo candeeiro que está exactamente acima da minha cabeça, que me obriga a virar a cara para o lado, para o rio, tão instável, sujo e perturbado como eu.
As lágrimas que recusara largar durante dias começam a cair, tento combatê-las mas não está ninguém a ver, apenas eu, e se choro por dentro não me fará pior chorar fisicamente.
Gostava de não me deixar levar deste modo, de me deixar afectar pela falta de interesse, pela mudança que já esperava dela, mas esperá-la não equivale a aceitá-la. Continua a magoar-me, compreendo que tenha de se integrar, mas gostava da antiga, daquela rapariga que estaria ali comigo num dia normal.
Quero dormir e sonhar, para voltar a acordar e voltar a dormir, regressar àquele mundo onde tudo é perfeito, fora as partidas que o meu subconsciente tem tendência a pregar-me, a contrariar as minhas vontades mais profundas, aquele beijo falso e ilusório que ainda me perturba cada vez que olho para ele, apesar de não ter acontecido nada na realidade.
Rapariga estúpida e sonho estúpido. A estupidez em que a minha vida caiu... Já não posso decidir o que sinto, porcaria de coração, porcaria de alma, se é que a alma existe.

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