Vagueio sem rumo numa cidade chuvosa. Quando saí de casa estava um sol imenso e quente que nos mostrava o Verão que eu conheço. Mas o Verão aqui é diferente.
"Já não estás mais em casa, Andreia. já devias saber isso."
Aqui as casas são estreitas e altas, parece que todas se empurram umas às outras, comprimindo-se cada vez mais, enquanto crescem para o céu.
As nuvens plúmbeas confirmam a chuva eminente, que eu senti com um arrepio na coluna, quando saí de casa, desci os curtos degraus e inspirei uma longa lufada de ar fresco.
A senhora que antes se despedira de mim desde a soleira da porta com um adeus numa língua que não é a minha mas que consigo perceber já se refugiara novamente no calor confortável da sua casa.
Visto a gabardine amarela que tinha guardada na mochila como último recurso a este tempo instável de Cambridge.
Corro as ruas sem reconhecer um rosto, mas isso não importa, gosto da sensação de solidão deliberada, da capacidade de me distrair de todos os olhares que se fixam em mim reprovadoramente, enquanto perscruto tudo e todos com os meus olhos castanhos, maravilhados com a simplicidade de tudo e de nada.
Há lojas mais à frente e os maravilhosos músicos de rua que me iluminam o rosto instantanemente, com as suas melodias, apenas suas, sem se venderem à sociedade, garantindo a todos um prazer instantâneo sem pedirem nada em troca necessariamente, mas esta minha fixação por músicos de rua é outra história.
Passo por um jardim e sento-me a observar as crianças que passam a correr falando com um sotaque britânico adorável. Uma menininha fixa-se em mim, talvez parece lhe pareça estranha, de outro sítio, e sou, mas não julgava que estivesse tão presente para quem se cruza comigo. A menina correu a apanhar uma florzinha amarela e colocou-ma na orelha.
"This matches with your raincoat. You should smile more, you know?"
Sim, eu sei que devia sorrir mais mas é praticamente impossível manter um sorriso constante.
Ela partiu entre o meu pensamento comigo mesma e o meu obrigado no português que não consegui controlar.
Continuei a minha viagem e parei numa ponte que se erguia sobre um pequenino rio, aliás, uns canais estreitos que ladeavam a famosa universidade.
Olhei o meu reflexo e pensei comigo mesma que precisava mesmo de sorrir. Começou a chover.
Sorri aí, tirei a gabardina e saltei para a água. Não era muito profunda, estava gelada, quase sufocante. Com isto as pessoas que desenfreadamente corriam para escaparem à chuva, em cima dos seus saltos altos, cobrindo o os cabelos que tão aprumadamente tinham arranjado, e olhavam-me em vislumbres rápidos, condenando a estrangeira que contrariava a realidade pacata das pessoas mundanas.
A menina passou pela ponte e sorriu para mim.
"That's a smile."
Como sempre muito lindo.
ResponderEliminarBeijinhos
gostei do texto. Está exactamente a tua cara, os temas que tu tratas, as expressoes tipicas e a contrucção de frases é totalmente andreia.
ResponderEliminarGosto do look novo do blog.
gosto muito até