quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Desabafos de uma engripada

Naqueles dias em que não fazemos nada nem temos disposição para o fazer o que é suposto fazermos? Quando a casa está vazia e ninguém nos olha, quando estamos sozinhos, com a cabeça a latejar, a garganta irritada, seca, que nos magoa de cada vez que engolimos a nossa própria saliva, o que devemos fazer? O que devo fazer?
A simplicidade do meu dia passou-se a deambular pelo corredor único da casa, de divisão em divisão, tentando encontrar algo de interessante em que focar a minha atenção fora a enxaqueca que me abalava e me fizera ficar em casa, encerrada entre quatro paredes ainda mais redutoras que o ambiente que me rodeia do outro lado da porta da casa.
Não me interessa sequer olhar pela janela pois nada de interesse decorre na monotonia desta rampa ladeada de casas, um carro de 20 em 20 minutos ou num período mais espaçado, pessoas que correm a almoçar em casa, regressam e saem novamente, enquanto eu estou encarcerada.
É nestes momentos que preferia não ser eu, ser uma pessoa que na ausência de outra coisa para fazer não reflecte sobre tudo e mais alguma coisa, tirando conclusões erradas, suposições negativas, pensamentos redutores que ninguém ouve portanto ninguém é capaz de contrariar.
Tentei escrever, mas a folha de papel vazia à minha frente é assustadoramente clara, obscuramente impossivel de preencher com o ânimo que se apodera de mim no momento, inalcançável do ponto de vista de uma rapariga engripada a tentar fugir à acção de "não fazer nada".
Finalmente decidi ceder e deitar-me perdedoramente na cama a ouvir música, de maneira preguiçosa, tentando que o tempo passasse mais depressa, para que o silêncio acabasse, para que a tarde chegasse ao fim e finalmente pudesse disfrutar de alguma companhia que não a minha chávena amarela, que me aquece a garganta com o líquido quente e aconchegante que sorvo dela, e o odor a caramelo e baunilha que suavemente obstrui as minhas narinas torturadas por lenços de papel que se amontoam nos meus bolsos.
Como queria não estar doente. Maldita gripe.

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